Nomes "estranhos" de ruas confundem e intrigam moradores

Danilo Emerich - Hoje em Dia
04/12/2013 às 07:54.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:33

(Carlos Rhienck)

Toufic El Awar, Plombagina, Nhaduti, Anfibólios. Calma! Não são xingamentos. São nomes de ruas de Belo Horizonte. O constante batismo de logradouros públicos da capital, uma das tarefas preferidas dos vereadores, vão desde homenagens a estrangeiros pouco conhecidos até nomenclaturas nada convencionais.

Muitas vezes, a mudança vira uma problema. É o caso da rua Plombagina, no bairro Colégio Batista, região Leste. “Plombagina” e não “pombagira”, como explica a moradora Karla Pelegrino, de 38 anos.

“Já pensaram até em fazer um abaixo-assinado para mudar. Sempre temos que soletrar. Virou piada o nome, além de ninguém saber o significado”, afirma Karla, que também não sabia que Plombagina é um mineral.

Confusão

Situação semelhante aflige moradores da antiga rua 4, no bairro Juliana, na região Norte, que desde o dia 28 de novembro está rebatizada de Toufic El Awar. O militar Carlos Alberto Silva, de 53 anos, e o aposentado Gumercino Rubens de Melo, de 63, embolaram para pronunciar o nome do empresário libanês que desempenhou trabalhos sociais em BH no passado.

“Imagina fazer uma compra por telefone e ter que soletrar isso”, diz Carlos. Já Gumercino prevê o transtorno que vai gerar para mudar os cadastros e endereços. “Com tanta coisa para fazer no bairro, como sinalização de cruzamentos, e vão se preocupar com nomes”.

O carteiro Daniel Souza Malaquias diz que o nome mais estranho que viu foi Francisco Soucasseaux, no bairro Lagoinha, região Nordeste. “Sempre que muda, dá muito trabalho. É muita criatividade para inventar nomes”, afirma.

Retrabalho

O troca-troca de nomes de ruas em BH é tão comum, que gera confusão, mesmo quando o nome não é “diferente”. No bairro Independência, no Barreiro, até a semana passada existiam duas ruas Geraldo Costa. Agora, uma delas passa a ser Flor de Primavera, após abaixo-assinado dos próprios moradores de uma das vias.

Segundo o empresário Moacir Gomes dos Santos, de 54 anos, correspondências sempre acabam trocadas entre os dois endereços. “Essa rua já mudou de nome quatro vezes. Já foi 6, 311, Maria Antonieta Ferreira e é Geraldo Costa há 10 anos, mas até hoje tem gente que procura pelo nome antigo. Vai demorar até acostumar de novo”, completa o comerciante José Antônio Menezes, de 61 anos.

Câmara de BH aprovou 22 propostas de "batismo"

Somente neste ano, das 29 mudanças de nomes de ruas propostas por vereadores, 22 se concretizaram e foram sancionadas pelo prefeito Marcio Lacerda. O número representa quase 15% dos 197 projetos de lei aprovados no exercício 2013 da Câmara. Outras 61 alterações estão em tramitação na Casa.

O sociólogo e cientista político Rudá Ricci afirma que os moradores deveriam ser consultados antes de mudar o nome da via, fato muitas vezes ignorado pelos parlamentares. “Os vereadores tentam homenagear alguma família ou coisa, mas acabam dando um tiro no pé. Pois isso só atrapalha a população”, critica.

Iniciativa popular

O cientista político defende a ideia de que a atribuição de dar nomes aos logradouros públicos deveria ser passada à própria população. Uma proposta neste sentido tramita na Câmara.

Segundo Rudá Ricci, é comum em todas as câmaras municipais pelo país afora os vereadores apresentarem projetos de alteração de nomes de ruas e prédios públicos para transparecer produtividade.

Já o urbanista Sérgio Myssior, vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil em Minas Gerais (IAB-MG), diz que o nome de ruas criam referências para as comunidades. “Se há a troca do nome, se quebra essa identidade e ainda gera transtornos com a mudança de correio e cadastros”, afirma.

Transtorno para as empresas

Empresas localizadas em ruas que tiverem os nomes alterados devem atualizar os endereços na Junta Comercial. Em Minas Gerais, o prazo é de até seis meses para se adequarem. O custo da atualização cadastral é arcado pela empresa. Aquelas que não se adequarem podem ser notificadas pelo órgão ao serem fiscalizadas.

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