ANO NO VERMELHO

Número de empresas mineiras inadimplentes cresce e coloca Estado em 2º no ranking

Janaína Fonseca*
jmaria@hojeemdia.com.br
29/12/2022 às 07:25.
Atualizado em 29/12/2022 às 07:27
Para sair do vermelho, empresas precisam de aquecimento da economia, com mais consumo (Hermano Chiodi/Hoje em Dia)

Para sair do vermelho, empresas precisam de aquecimento da economia, com mais consumo (Hermano Chiodi/Hoje em Dia)

Minas Gerais é o segundo Estado brasileiro com maior número de empresas no vermelho em novembro. São 623.601 CNPJs mergulhados em dívidas e inadimplência, principalmente no setor de serviços. O Estado só perde para São Paulo, que tem o recorde de mais de 2 milhões de negócios com o nome negativado.

São 7.536 empresas devedoras a mais em novembro do que no mês anterior, o que representa um aumento de 1,22%. Já em relação a novembro do ano passado, são mais 16.278 – alta de 2,68%.

Apesar de o número de dívidas negativadas no mês 11 deste ano ser menor do que no ano passado, o valor é R$ 388 milhões superior, passando de R$ 8,6 bilhões. O valor médio de cada dívida também aumentou: passou de R$ 13.647,00 em 2021 para R$ 13.913,67 em novembro deste ano.

Os números são preocupantes porque mostram um movimento crescente desse endividamento – apesar de ele ser menor do que em 2020. Além disso, a saída para essa situação depende de um aquecimento da economia, com trabalhadores consumindo mais. No entanto, o endividamento entre os brasileiros também é recorde, o que vem freando a injeção de recursos no mercado.

Para Márcio Salvato, professor de Economia do Ibmec Belo Horizonte, o endividamento começou na pandemia, quando muitas empresas precisaram tomar empréstimos para se manterem abertas. “A expectativa era a de que a situação se resolvesse rapidamente, mas já temos três anos afetados por consequências da pandemia, com problemas em cadeias produtivas e inflação, que acabam provocando também a inadimplência”, afirma.

Reação

O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, aponta que a melhora desse quadro de inadimplência das empresas depende de uma reação em cadeia. “Para que esse cenário mostre uma visão mais positiva, é necessário que os consumidores consigam sair da inadimplência, aumentem seu poder de compra e comecem a honrar com seus compromissos financeiros, além de consumir mais. Esses dois fatores deverão contribuir para o fluxo de caixa dos negócios que, só então, conseguirão se organizar financeiramente”, avalia.

No entanto, a insegurança em relação a 2023, com a mudança de governos, segura ainda mais a intenção de gastos dos consumidores e de investimentos dos empresários. Além disso, o endividamento das empresas acaba refletindo no preço final de produtos e serviços, podendo afastar ainda mais o consumidor.

“O endividamento maior afeta a saúde das empresas e esse é um dos aspectos considerados na hora de conceder empréstimos ou renegociar dívidas. Por isso, uma das consequências é o aumento da taxa de juros e uma dificuldade das empresas em se manterem sustentáveis. São empresas com maior dificuldade de investir, de competir, e repassam os custos financeiros para seus produtos. Ou seja, para o consumidor, esse endividamento das empresas acaba sendo percebido em aumento de preços”, ressalta Márcio Salvato.

Ele compartilha da avaliação de Luiz Rabi de que a mudança desse ciclo depende de um crescimento econômico mais intenso. E aponta ainda a necessidade de uma queda nos juros, que poderia facilitar a renegociação das dívidas das empresas. “Porém, no curto prazo, não existe perspectivas de um cenário mais positivo para a economia”, lamenta.

Recorde

No país, segundo dados do Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian, o cenário de endividamento é recorde, com 6,4 milhões de empresas em situação financeira crítica.

Novembro, segundo a Serasa, marcou outros números históricos, como o valor acumulado das dívidas, que chegou a R$ 108 bilhões. Esse foi o pior cenário de negativação para o mês desde 2016, início da série histórica do índice.

Foram registrados 6.392.011 negócios no vermelho. Além disso, desde o início de 2022, o índice não marcou nenhuma queda e o cenário de inadimplentes apenas se agravou.

Em comparação com novembro de 2021, o número de empresas inadimplentes no país saltou 8,75%, com 514.662 CNPJs a mais na lista de devedores. 

Ainda de acordo com o indicador, a quantidade de dívidas e o valor acumulado delas também registraram recordes históricos.</CW>

Situação mais crítica para os pequenos

O endividamento afeta empresas de todos os tamanhos, mas a situação é mais crítica para as micro e pequenas, pois têm menos margem de manobras e a busca por crédito é mais difícil. O levantamento da Serasa Experian mostra que mais de 5,7 milhões de micro e pequenas empresas estão com dívidas em atraso, somando R$ 88,1 bilhões. São 39,3 milhões de contas negativadas.

O analista de Desenvolvimento Econômico do Sebrae Minas Igor Martins destaca que houve uma melhora na condição das micro e pequenas empresas desde o início da pandemia, mas que o número de empreendedores que comprometem mais de um terço dos ganhos com pagamentos de encargos financeiros ainda é alto.

Eram 51% no primeiro semestre de 2022,de acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae em parceria com o IBGE. Para os empreendedores saírem dessa situação é preciso “olhar para dentro da empresa e fazer um check-up da estrutura”, afirma Igor. Além de seguir dicas que valem também para as pessoas que têm dívidas a pagar, como trocar dívidas mais caras por outras mais baratas.

Os empresários também devem avaliar estoques, os ativos que podem ser vendidos para aumentar o caixa da empresa e até mesmo o modelo de negócio, que pode estar ultrapassado, orienta o analista. “Custos a gente tem que cortar sempre. O importante é avaliar os impactos daquele custo nos resultados da empresa e cortar aquilo que não traz o resultado desejado”, afirma. Segundo o analista, o Sebrae pode ajudar os empreendedores a fazer esta análise da empresa e identificar as melhores alternativas.

* Com Hermano Chiodi 

  

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