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Ruas inundadas, carros arrastados pela água, pessoas ilhadas. Cenas que se tornaram comuns no período chuvoso em Belo Horizonte e devem permanecer por um bom tempo, pelo menos no que depender dos recursos para as principais obras de infraestrutura na capital. Hoje, pelo menos R$ 316 milhões são necessários para realizar apenas seis das diversas intervenções necessárias para evitar transtornos como alagamentos.
As medidas referentes a esses locais envolvem, por exemplo, operações na bacia de detenção do bairro das Indústrias e no córrego Bonsucesso (ambos no Barreiro), no córrego do Nado (zona Norte), no ribeirão do Onça, na avenida Cristiano Machado, e também na Bernardo Vasconcelos, no Cachoeirinha, região Nordeste da capital.
O problema, no entanto, não deverá ser resolvido a curto prazo. Nesta semana, o prefeito Alexandre Kalil declarou que a solução para os transtornos crônicos relacionados às tempestades demandam um esforço de pelo menos 40 anos. Ainda assim, segundo ele, o imbróglio só seria solucionado de fato se as futuras gestões investissem pesado em saneamento básico e bacias de contenção.
A questão é tão grave que, mesmo em pontos críticos onde obras já foram realizadas, os alagamentos não foram sanados. Na avenida Francisco Sá, no Prado, Oeste da metrópole, onde carros foram mais uma vez arrastados pela enxurrada na última quinta-feira, R$ 2,7 milhões vindos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já foram gastos para a recuperação de galerias. Porém, a segunda etapa, com intervenções na drenagem da via, ainda não tem previsão.
Na Vilarinho, em Venda Nova, a situação é ainda mais incerta. As medidas para controle de cheias na bacia do córrego do Nado, responsável por inundações frequentes, sequer têm estudos para a elaboração dos projetos básicos de engenharia.
A julgar pelo volume de precipitação dos últimos dias, o cenário pode piorar. Só na região Centro-Sul, o acumulado de chuva em outubro, até agora, é de 195 milímetros, o que supera em quase 90% o volume esperado para todo o mês. A previsão é de mais chuvas no fim de semana.
Membro do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape-MG), Frederico Correia Lima destaca que a impermeabilização crescente do solo tem agravado o problema das inundações em BH. “Isso aumenta o volume de água nos sistemas de drenagem. Com o passar dos anos, os investimentos necessários foram insuficientes para adaptar os sistemas às novas condições”, explica.
o mês. A previsão dos serviços de meteorologia é a de mais precipitações no fim de semana
Prioridades
Além das intervenções de grande porte, em regiões estratégicas da cidade, a prefeitura trabalha com um pacote de 35 obras emergenciais que aguardam verbas, do governo federal, de aproximadamente R$ 50 milhões. O município também faz ações paliativas para estabilizar barrancos em vários pontos da cidade.
Por nota, o Ministério da Integração afirma aguardar a adequação do plano de trabalho apresentado pela PBH para transferir os recursos a serem aplicados nas ações emergenciais na cidade. A prefeitura garante que vem respondendo aos questionamentos adicionais feitos pela União. As alterações solicitadas serão enviadas até 31 de outubro.
Causas
As inundações causadas pela chuva em BH estão ligadas à urbanização da cidade. Segundo o engenheiro civil Vitor Lages, ex-membro do Conselho de Recursos Hídricos do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-MG), o município adotou o “conceito de fechamento dos rios e não convívio com as drenagens naturais”.
Para ele, a impermeabilização do solo somada à destruição das áreas de alagamento naturais, o baixo investimento em bons sistemas de drenagem e o acúmulo de lixo nas ruas criaram o contexto para as atuais inundações.
O especialista destaca que, apesar das ações paliativas ajudarem, somente as obras de grande porte, como o aumento da capacidade de drenagem da água da chuva nas galerias subterrâneas, é que vão resolver a questão. “Exigir e fiscalizar que as novas construções respeitem as áreas mínimas de infiltração são imprescindíveis”, alerta Vitor Lages.
A reportagem do Hoje em Dia solicitou uma entrevista com o secretário de Obras e Infraestrutura de BH, Josué Valadão, mas a assessoria de imprensa do órgão informou que ele não estava disponível. Por meio nota, foi esclarecido que as intervenções ainda aguardam definição sobre recursos junto ao governo federal. O Ministério da Integração Nacional não se pronunciou.
A Defesa Civil Estadual informou que monitora o impacto das chuvas no Estado 24 horas por dia
Minas
Em todo o Estado, apenas três obras de prevenção de desastres foram concluídas desde 2016, segundo o Ministério da Integração. Outras 19estão em andamento, sete atrasadas e oito paralisadas.
O Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER) não informou quais são as principais obras em andamento para evitar desastres durante temporais. O órgão declarou, por nota, que “trabalha de forma preventiva durante todo o ano a fim de evitar os transtornos causados, principalmente, no período chuvoso”.
Ainda de acordo com o departamento, uma série de ações preventivas é realizada em todo o território, como serviços de manutenção nas rodovias, com limpeza do sistema de drenagem e desobstrução de bueiros, tapa-buracos e conferência da sinalização.
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