Ofensiva em Minas quer vistoriar 8 milhões de imóveis para exterminar o mosquito da dengue

Renato Fonseca - Hoje em Dia
Publicado em 12/01/2016 às 06:56.Atualizado em 16/11/2021 às 00:59.

A batalha declarada contra um mosquito de apenas cinco milímetros tem resultado em seguidas derrotas para o brasileiro. Anualmente, são centenas de mortes (em 2015, foram 839 em decorrência da dengue) e milhares de doentes, vítimas do Aedes aegypti, vetor da dengue e, mais recentemente, da chikungunya e zika. Com o risco comprovado de o vírus da zika potencializar a má-formação em fetos, aumentou a urgência de um contra-ataque massivo, radical.

Em Minas, o governo promete viabilizar, até dia 31, a vistoria de 8 milhões de imóveis. Cerca de R$ 65 milhões foram liberados pelo Estado para financiar prefeituras, combalidas pela crise financeira e com arrecadação em baixa. Mas, no fim das contas, a intensa busca por larvas do inseto ainda tem potencial para, segundo especialistas, transformar-se num “tiro n’água”.

Para a realização da varredura, as prefeituras vão abrir mão da pesquisa LIRAa, decisão considerada controversa. O estudo, feito tradicionalmente em janeiro, aponta locais de incidência de focos do inseto, racionalizando as ações.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informa que a orientação de interromper o LIRAa e priorizar o pente-fino nos imóveis partiu do Ministério da Saúde e garante que a falta do levantamento não será prejudicial. Haverá mão-de-obra e larvicida suficientes para toda Minas Gerais, afirma o órgão. Serão 2,2 toneladas de veneno, já repassadas às regionais de saúde.

O “batalhão” empenhado nos mutirões será de 36 mil pessoas – 7 mil agentes de endemias e 29 mil comunitários. Cada um deverá visitar mais de 220 imóveis. “É muito difícil, mas é possível”, diz o superintendente de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Saúde do Trabalhador da SES, Rodrigo Said.

Os mais recentes números dão a dimensão do problema. Em um ano, os casos de dengue mais que triplicaram no Estado, passando de 57 mil em 2014 para 189 mil no ano passado.

 

Enxugar gelo

Professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, Mauro Martins Teixeira é categórico: “O controle dessas doenças carece de vacina. Com relação à dengue, já temos um ganho nesse sentido. Mas, para o zika, estamos muito atrasados”, diz. Teixeira também coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Dengue.

Para ele, visitar todos os imóveis de Minas será como “enxugar gelo”, e novas vistorias serão necessárias. “Em fevereiro será preciso fazer de novo, também em março. São esforços razoáveis, mas não vão curar a doença, talvez diminuir”.

O coordenador do INCT deixa claro que a população precisa assumir sua parcela de contribuição, mas sem eximir a responsabilidade do Estado. “Mecanismos capazes de ajudar neste trabalho são urgentes. É preciso atitudes mais agressivas. A coleta de lixo e mutirões em terrenos baldios são responsabilidade do Estado. E é preciso, mais do que nunca, muito investimento em tecnologia”.

O biólogo e consultor ambiental Diego Lara critica a ação do governo de Minas. “O contingente de pessoas é baixo, o que vai limitar, provavelmente, a apenas uma visita por casa. No dia seguinte, caso ocorra uma chuva, novos focos vão surgir. O ciclo reprodutivo de qualquer inseto é muito rápido”.

Na avaliação de Lara, será impossível visitar todos os imóveis em período tão curto. O ideal, diz ele, seria manter a metodologia do LIRAa. “O último levantamento é de outubro. Com nova pesquisa em mãos, as ações poderiam ser direcionadas”.

 

Trabalho conjunto

O superintendente da SES discorda. “Independentemente do valor do LIRAa, a ação será universal, em todos os municípios”. Ele evita o discurso de culpar a população e reconhece o papel da administração pública. “É trabalho conjunto”.

Leia nesta quarta (13): a expectativa em torno da vacina e o drama dos doentes.

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