Um ônibus da linha 2402 (São Bernardo/Nossa Senhora da Glória) foi incendiado na tarde desta quarta-feira (30), no bairro São Bernardo, na região Norte de Belo Horizonte. O ato de vandalismo foi praticado por moradores revoltados com o fato de um jovem com problemas mentais ter sido baleado por militar lotado no Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) da Polícia Militar (PM). O ataque ocorreu na movimentada avenida Washington Luiz e assustou quem passava pelo local.
De acordo com a assessoria da PM, nenhum ocupante do coletivo ficou ferido. Motorista, cobrador e passageiros informaram aos policiais que em torno de 40 pessoas cercaram o veículo, ordenaram que todo mundo descesse e atearam fogo. O ônibus foi totalmente destruído pelas chamas e o incêndio combatido por uma equipe do Corpo de Bombeiros. As chamas chegaram a atingir parte de rede elétrica e agentes da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) foram acionados para fazer os reparos necessários.
Segundo o tenente-coronel Carlos Alberto Sacramento, comandante do Rotam, apesar da revolta dos moradores, o policial agiu em legítima defesa, uma vez que só atirou contra o doente mental depois de ele apontar uma arma para o oficial, que, na verdade, é uma réplica de pistola. O militar responsável pelo disparo, que não teve a patente e nome divulgados por questão de segurança, afirmou para Sacramento que ele e mais três colegas de trabalho receberam denúncia de que um homem estava andando armado no meio da rua e pondo em risco à vida de inocentes.
Ao conferirem a informação, os oficiais se depararam com o suspeito na rua Doutor Souza Gomes e ele teria se recusado a largar o armamento mesmo recebendo ordem policial para se render. Com isso, o jovem foi atingido no peito, socorrido pelos próprios militares e encaminhado ao Hospital Risoleta Tolentino Neves, na região de Venda Nova. "Ele ainda chegou a fazer um movimento brusco parecido com uma reação. Além disso, a versão do policial foi confirmada por algumas testemunhas, que terão seus depoimentos registrados no B.O. O incêndio do ônibus ocorreu pelo menos duas horas depois do jovem ter sido baleado", frisa o tenente-coronel.
Contrariando a versão do policial do Rotam, um morador do São Bernardo, que não quis se identificar e afirma conhecer o baleado há mais de dois anos, relatou à reportagem do Hoje em Dia que o militar foi "covarde". "O que ocorreu foi uma verdadeira covardia. O menino foi atingido mesmo depois de jogar a arma no chão ao se assustar com a abordagem policial, uma vez que tem problema de cabeça e estava só brincando com a arma de mentira. Ele mora no bairro Primeiro de Maio, mas anda pelas ruas do São Bernardo quase todos os dias para conversar com o pessoal. Todo mundo o conhece, sempre fica com dó dele e até oferece água e comida para ele".
O baleado, identificado apenas como Luan, de idade aparente de 20 anos, está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do pronto-socorro. A assessoria de imprensa da unidade de saúde informou que o jovem deu entrada inconsciente e, até o momento desta publicação, ainda não havia sido procurado por nenhum parente e/ou conhecido.
A réplica de pistola usada por Luan foi apreendida, assim como a arma do policial que atirou contra ele. O oficial foi detido e ficará à disposição da Justiça. "Tudo indica que ele será autuado em flagrante por lesão corporal", explica Carlos Alberto Sacramento.
Os autores do incêndio criminoso ainda não foram identificados ou presos e serão alvo de investigação da Polícia Civil (PC). Imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais da avenida Washington Luiz serão analisadas.
Associação diz que vandalismo compromete transporte público em todo o país
Conforme dados coletados e divulgados pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o assustador aumento dos números de casos de ônibus que estão sendo queimados compromete o serviço de transporte público de todo o Brasil. Só nos primeiros quatro meses deste ano, 233 coletivos foram incendiados.
Diate desse violento cenário, representantes da NTU e suas mais de 500 empresas associadas, que são responsáveis por realizar 90% do serviço de transporte público coletivo nacional, fizeram uma apelo aos poderes públicos para que tomem providências no sentido de conter o vandalismo. Além disso, atualmente, dois projetos de leis com o objetivo de inibir práticas dessa natureza estão em trâmite no Congresso Nacional. Um deles é o projeto 499/13, de autoria do deputado Romero Jucá (PMDB-RR), que classifica a queima de ônibus como crime de terrorismo e prevê pena mínima de 24 anos e máxima de 30, caso a ação resulte em morte. O outro, PLS 508/2013, do senador Armando Monteiro (PTB-PE), prevê 35 anos de prisão para atos também de terrorismo.
Atualizada às 18h20.