Paixão de foliões por samba, confete e serpentina garante o carnaval de rua em BH

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
18/01/2015 às 08:23.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:42
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

Eles fogem de títulos, holofotes e, nem de longe, almejam ser famosos. Apesar disso, não há como negar: são responsáveis diretos pelo sucesso do Carnaval de BH nos últimos anos. Pouca gente imagina, mas por trás das centenas de bloquinhos que arrastam multidões pelas ruas da cidade existem uma, duas ou até dezenas de cabeças brilhantes e apaixonadas pela trabalhosa missão de manter viva a tradição da folia do Momo na terra do pão de queijo. Desde a barriga da mãe, a goiana Renata Chamilet já sabia que, quando viesse ao mundo, seria uma foliã. Mineira e baiana de coração, nasceu numa terça-feira de Carnaval. E como se não bastasse comemorar “à caráter”, ano a ano, uma nova primavera, ela fez mais. Munida do simples desejo de carnavalizar – nas palavras da moça, cuja idade “ninguém jamais saberá” –, Renata uniu-se a outros três apaixonados pela festa mais popular do país. Ao lado dos primos Peu e Geo Cardoso e de Heleno Augusto, criou nada menos que o bloco responsável por reunir, em 2013, mais gente nas ruas de BH durante todo o Carnaval: o Baianas Ozadas. “Todo ano, minha mãe pergunta, brincado: ‘e aí, vocês ganharam?’. Mas, na verdade, o Carnaval de rua é isso mesmo. Não tem competição, não tem onde chegar primeiro, é ganhar com a alegria. Sempre fui foliã, pulei, gostei. E o barato é esse”, comenta Renata. Para a ousada baiana, a recompensa pela dedicação durante os 365 dias do ano é ocupar a cidade e perceber que o povo aprovou. Filosofia de vida semelhante à adotada pelo músico Guto Borges, de 33 anos, (guitarrista da banda mineira Dead Lover´s Twisted Heart) um entusiasta assumido das causas políticas. Confessa, não respira Carnaval o ano todo, tampouco se dedica aos incontáveis blocos dos quais faz parte nas 24 horas do dia. Demérito nenhum para quem, influenciado por tios e pelo pai, ressuscitou, com o apoio de amigos, a folia na capital mineira. Quem nunca ouviu falar em Mamá na Vaca, Tico Tico Serra Copo e Bloco do Peixoto que atire a primeira pedra. Pois bem, Guto é um dos nomes por trás daquelas novidades, batizadas nos idos de 2009. Passados seis anos, a essência foi mantida: simplicidade, heterogeneidade e liberdade. “Naquela época, não tínhamos muita opção. Se quisesse participar de alguma coisa, tínhamos que fazer. E foi assim: juntamos a turma e saímos”, conta, relembrando o surgimento dos primogênitos dessa nova geração.Qual a razão que o move a executar um trabalho teoricamente sem retorno nenhum? Simples. “Queria recuperar o espírito público, de como ocupar a cidade. De fato, nunca ganhei um centavo, nem é minha intenção, mas há algo que me move mesmo. Acho que é uma espécie de ativismo, de mostrar que o Carnaval nunca morreu, só estava adormecido”. Curtindo a vida Profissão: foliã. Flora Rajão, de 27 anos, não hesita em identificar-se desta forma. Também pudera: vive Carnaval. “O que me motiva é a alegria, é gostar da festa, gostar da música, da celebração, de viver a liberdade momentânea e curtir a vida”, define. Uma das caras da festa de rua na capital, ela é também uma das idealizadoras do Pena de Pavão de Krishna, o PPK. Aliás, foi ela a responsável pela caracterização de seus adeptos: corpo pintado de azul e uma pena na cabeça em alusão à deusa do hinduísmo, Krishna, presente também no estandarte da “marca”. Em poucas palavras, o PPK nasceu assim, ela explica. “Era 2012, e queríamos (ela e um grupo de amigos) criar um bloco para resgatar o ‘olhos nos olhos’, a proximidade entre as pessoas. Do desejo de unir Índia e África, ele surgiu”, diz. Flora é movida por amor e pelo constante e crescente desejo de fazer da cidade um espaço de todo mundo.Frederico Haikal

ENTUSIASTA – A criação de grupos comoMamána Vaca e Bloco do Peixoto tem o dedo do músico Guto Borges Por tabela, desfile das escolas de samba também é beneficiado Na maioria das vezes influenciados por elementos políticos, os blocos de rua da capital, além de fazerem renascer o gosto pela festa de Momo ainda servem como impulso para o fortalecimento das escolas de samba, peça fundamental na construção do Carnaval de Belo Horizonte. A avaliação é do historiador, documentarista e pesquisador Marcos Valério Maia. Segundo ele, mesmo que de forma indireta, essas formações, geralmente descentralizadas e sem hierarquia, dão mais visibilidade às agremiações, pouco valorizadas na capital. “É sem dúvida um movimento que vem renascendo há cinco, seis anos, e que, no mínimo, será indiretamente responsável por favorecer a revalorização das escolas de samba”, diz. Engajamento Como elemento político, os blocos também se constituem numa forma de valorização da cidade, enquanto espaço público democrático. A avaliação é da socióloga Maria Cristina Leite Peixoto, professora na Universidade Fumec. “São marcados pela espontaneidade, pela vontade de ir às ruas e fazer, por conta própria. Além disso, os integrantes têm buscado cada vez mais trajetos alternativos, como forma de espalhar pela cidade a ideia de que ela deve ser democraticamente ocupada”, enfatiza. No ano passado, 186 blocos participaram do Carnaval de Belo Horizonte, segundo a Belotur. Neste ano, a expectativa é a de que pelo menos 200 desfilem pelas ruas da capital. Programação completa e investimentos serão divulgados nesta quarta-feira Em Belo Horizonte, os detalhes da festa mais esperada do ano pelos brasileiros ainda vêm sendo mantidos a sete chaves. A boa notícia é a de que esse segredo todo tem data para terminar. A Belotur irá divulgar, nesta quarta-feira, a programação completa da folia do Momo na capital, bem como os investimentos nas escolas de samba e blocos caricatos e a expectativa de público na cidade. No ano passado, o município desembolsou R$ 5,5 milhões para garantir o acontecimento da festa. O investimento foi 57% superior ao de 2013, de R$ 3,5 milhões. Ao que tudo indica, o aporte, nesse ano, deve ser ainda maior, já que são esperados no mínimo 500 mil pessoas a mais para a festa, em relação ao ano anterior. Estímulo Opções de pacotes estão sendo oferecidas para quem planeja aproveitar a folia na capital. São duas possibilidades, para três noites, a R$ 490, em hotel econômico e com direito a city tour pela cidade, e para quatro noites, a R$ 1.340, em hotel de luxo e visitas à Serra do Cipó e ao Inhotim. As novidades não param por aí. Para oferecer mais conforto ao público, que no último ano chegou à marca de 1 milhão, mudanças estruturais também estão na lista do planejamento. A quantidade de banheiros químicos, por exemplo, item que figurou no topo da lista de reclamações anteriormente, deve dobrar.Durante o lançamento oficial do Carnaval 2015, em dezembro, a Belotur adiantou que devem ser instalados pelo menos mais 3.500 equipamentos nos locais previstos para receber blocos, shows e na Estação do Samba, por onde passam as escolas. Tradição Além dos bloquinhos de rua, os tradicionais blocos caricatos e as escolas de samba também incrementam a folia. Como acontece todos os anos, os desfiles estão previstos para 16 e 17 de fevereiro, respectivamente, segunda e terça-feira de Carnaval. As agremiações vencedoras levam prêmios que variam de R$ 6 mil a R$ 50 mil. No ano passado, seis escolas e nove blocos caricatos fizeram a alegria dos foliões, desfilando na Estação de Samba, na Praça da Estação, no Centro.

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