Os parques de Belo Horizonte contarão com uma melhor infraestrutura de acessibilidade. É o que garante Sérgio Augusto Domingues, presidente da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB). O órgão também é responsável por quatro cemitérios, cinco Centros d e Vivência Agroecológica (Cevaes) e o Zoológico de BH. Em entrevista ao Hoje em Dia, Domingues destacou as melhorias realizadas no zoo da cidade, ações de enfrentamento à febre amarela e propostas que pretende concluir até o fim da gestão. Dentre elas, a criação de um plano de manejo das áreas verdes da metrópole.
Atualmente, existem 3 mil animais no zoológico da capital e mais de 250 espécies. Há previsão para a chegada de novos bichos?
Nós temos um “studybook”, que é como se fosse um plano de coleção. No entanto, os zoos precisam se integrar a um novo modelo. Afinal, os zoológicos não podem subsistir com o exibicionismo de animais. É inconcebível nos dias de hoje. Estamos atentos a essa transição e entendemos o zoológico como uma ferramenta de educação, de evolução da sustentabilidade para um mundo mais saudável e que as espécies não sirvam de atrativo, mas que tenham significado. Hoje, os zoológicos estão mais direcionados para a conservação da fauna ameaçada, que não tem condição de viver em seus habitats, assim como para pesquisas reprodutivas para manter as espécies vivas.
“Retiramos uma quantidade de lixo imensa (para evitar criadouros da dengue). No Parque das Mangabeiras, por exemplo, foram 30 caminhões de entulho”
Nem mesmo no caso da girafa que morreu em 2015? A Fundação não pretende trazer um novo animal?
É claro que gostaríamos, mas não necessariamente existe uma girafa disponível. O que há é uma rede mundial de zoos, da qual fazemos parte, e que disponibiliza animais, como um intercâmbio. Dessa forma, recebemos recentemente um leão. Ele não veio da Savana, mas, de um zoo da Alemanha onde havia um plano de reprodução. Foi feita uma consulta para saber qual zoo teria interesse, plano de bem-estar e condições mínimas de receber. Nós preenchemos os requisitos. Por isso, vai de acordo com o momento.
Neste ano, o zoológico fez festa para o primeiro aniversário do gorila Ayo, que tem outros dois irmãos, ainda pequenos. A gestão trabalha para crescer a família de gorilas?
Eles são altamente ameaçados de extinção. As florestas africanas estão acabando, e nosso zoo é uma referência mundial em manejo de gorilas, o que não ocorre em qualquer outro. Por isso, em algum momento vamos disponibilizar alguns indivíduos. E, como nasceram em cativeiro, é muito difícil que consigam se adaptar ao habitat natural. Estamos atentos aos períodos gestacionais e seguindo os protocolos mundiais.
Recentemente, foram feitas reformas na Praça das Aves e nos recintos do mamíferos. Novas obras serão feitas no zoológico?
Estamos iniciando a instalação de placas educacionais de identificação, que é uma demanda importante, pois as que temos estão velhas, em estado de depreciação. Adquirimos um conjunto de centenas de placas e já iniciamos o processo que deve ser concluído neste mês. Também estamos com reformas para os recintos dos elefantes e dos hipopótamos.
No ano que vem, o zoológico comemora 60 anos. O que tem sido articulado para a data?
Vamos sediar o 43° Congresso da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil. Os zoológicos virão a BH para trocas de experiências, informações, cursos e oficinas. Certamente, queremos melhorar em todos os aspectos. Desde o recapeamento de vias até as obras de acessibilidade.
Sobre acessibilidade, também foram feitas obras no espaço. Hoje, ele é acessível?
É claro que precisamos evoluir o tempo inteiro. Mas tenho certeza que o zoológico é um dos pontos turísticos de BH com a melhor infraestrutura de acessibilidade. Temos que melhorar, pois os padrões evoluem e novas demandas são feitas.
nessa tecla (acessibilidade). Precisamos pegar firme nos cemitérios e nos parques”
E os outros equipamentos administrados pela Fundação são acessíveis?
O zoológico é uma exceção. No entanto, temos uma equipe de técnicos que bate muito nessa tecla. Precisamos pegar firme nos cemitérios e nos parques. Temos muito o que evoluir. Estamos começando, mas gostaríamos que as próximas administrações dessem continuidade.
No período de surto da febre amarela, quatro parques de BH foram fechados. O que foi feito?
Foi um evento que não pode ser observado só do ponto de vista da Fundação. Nós identificamos o primeiro primata morto, mas foi notificado à secretaria de Saúde que mandou diagnosticar o animal no Laboratório Evandro Chagas, em Belém (PA). Até que esse animal tivesse o resultado, foi grande a nossa apreensão. E quando foi identificado que estava soropositivo para a febre amarela, próximo ao Carnaval, imagine só fechar um parque? Mas fechamos. É claro que gerou boatos, mas não tínhamos dúvidas.
Quais as medidas adotadas, além dos fechamentos dos parques?
Vacinamos todos os profissionais da Fundação, a Saúde se mobilizou para imunizar a população de Belo Horizonte e passamos a cobrar o cartão de vacina. O índice de cobertura chegou a 95% na capital. Depois, fomos para o corriqueiro, que foi eliminar os criadouros, evitar a proliferação desses insetos. Retiramos uma quantidade de lixo imensa. No Parque das Mangabeiras, por exemplo, foram 30 caminhões de entulho.
Houve queda no número de visitas após a obrigatoriedade do cartão de vacina?
Caiu. Muitas pessoas ainda não tinham tomado, ou não se lembravam. Com a adoção da medida, contribuímos com a campanha de vacinação porque as pessoas começaram a reconhecer a importância. Continuamos orientando aos visitantes de todos os parques a importância da imunização e sempre lembrando que os macacos não transmitem a febre amarela, mas são aliados nos trabalhos de prevenção e combate à doença.
Atualmente, existe alguma proposta para uniformizar a gestão dos parques?
O prefeito encomendou um plano de manejo. Um parque tem que ter uma orientação. Afinal, eles servem para a conservação da biodiversidade, mas também são de uso público e nós precisamos levar as pessoas para os parques.
E já existe?
Fechamos a primeira versão do plano de manejo do Parque das Mangabeiras. O que no mercado custaria até R$ 600 mil, nós fizemos com a nossa própria equipe. Ainda queremos nos reunir com as comunidades para modelar o projeto. O que a gente fez no Mangabeiras servirá de espelho para os outros. É um trabalho difícil, demorado. Gostaria de entregar os planos de todos os parques, mas, se não for feito, tenho certeza que estará encaminhado.
Neste ano, os cemitérios municipais declaram mais de mil concessões caducas. Dessa maneira, elas voltaram para a PBH. Com que intuito foi feito isso?
As pessoas com jazigo perpétuo têm concessões. Não são donas do espaço público, mas têm obrigação de cuidar e pagar a taxa de manutenção. Quando não paga ou não cuida, a gente tem que tomar esses jazigos. Isso já havia sido iniciado no governo anterior. No entanto, estamos fazendo até hoje, com uma necessidade de informatizar e promover melhorias nos cemitérios públicos da cidade, que tinham um serviço rudimentar de atendimento. Temos dois anos de gestão, mas até o último dia estaremos trabalhando intensamente nos cemitérios.
Outro programa da Fundação de Parques é o Adote o Verde, uma parceria com a iniciativa privada ou comunidade para viabilizar a manutenção de jardins e outras áreas. A atual crise econômica tem comprometido o projeto?
Temos os dois lados. Algumas empresas têm entregado os espaços alegando crise financeira. A Praça JK, por exemplo, que antes era adotada, nós é que estamos arcando. Afinal, é difícil oferecer um espaço a um adotante se a PBH não arcar com as suas responsabilidades. Faremos uma campanha do Adote o Verde nos parques, mas, antes, preciso fazer o meu dever. Parque não é despesa, é investimento. E cuidar de parque é um privilégio que eu tenho na vida.