Peregrinação no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, completa 250 anos

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
22/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:41

(Fernanda Carvalho / Acervo Pessoal )

Romeiro há quase duas décadas, o piauiense Moacir Machado, de 67, chega pela primeira vez ao ponto mais alto da Serra da Piedade, em Caeté, na Grande BH.

Assim como ele, milhões de brasileiros já trilharam o mesmo caminho nos últimos 250 anos, desde a construção da Ermida da Padroeira. A capela guarda a escultura de Jesus deitado sobre o colo de Nossa Senhora, esculpida pelo artista barroco Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

Chegar ao topo do solo sagrado e contemplar não só as imagens sacras, mas toda a paisagem, não é tarefa simples. O trajeto, muitas vezes, é feito a pé. É preciso fôlego e energia para alcançar os 1.746 metros de altitude.

Outra obra bancada com a ajuda dos fiéis foi a construção do Jardim da Espiritualidade, itinerário que mostra as sete dores vividas por Maria

Agora, como parte das comemorações dos dois séculos e meio de peregrinação até o santuário que guarda a padroeira de Minas, um presente promete facilitar a caminhada rumo à montanha.

A partir de outubro deste ano, quem quiser desfrutar do patrimônio ambiental e espiritual poderá subir a serra por meio da réplica de uma locomotiva.

O veículo será capaz de transportar, a cada viagem, até cem peregrinos ou amantes da natureza, segundo a Arquidiocese de BH, que planeja, ainda, a criação de um museu com imagens e representações das aparições de Maria mundo afora.

Nem o frio nem a neblina

Na última semana, Moacir e outros 90 romeiros de Teresina, no Piauí, subiram, em reza, o maciço para conhecer o santuário de Nossa Senhora da Piedade. Nem o frio nem a neblina intensa foram capazes de parar o grupo, determinado a agradecer pelas bênçãos durante missa celebrada no templo. A cerimônia acontece, literalmente, nas nuvens.

“Sempre quis vir ao santuário. Tudo vale a pena quando chegamos aqui em cima e sentimos a presença de Nossa Senhora”, diz Moacir Machado.

“A arte e a história, a fé cristã católica, a tradição e as belezas naturais. Esses patrimônios estão no santuário, que pode ser considerado o coração de Minas” Dom Walmor Oliveira de AzevedoArcebispo Metropolitano de Belo Horizonte

Visitas em alta

Do alto, é possível ver as paisagens naturais e as cidades que se erguem incrustadas nas montanhas da região Central do Estado. A busca pelo santuário, seja pela crença ou turismo, aumentou consideravelmente nos últimos anos. 

No ano passado, 500 mil pessoas passaram pelo local. Em 2010 tinham sido apenas 30 mil. A expectativa do padre Carlos Antônio da Silva, responsável pela Ermida, é que nesta celebração de 250 anos, o recorde possa ser batido. Só até junho, cerca de 300 mil fiéis já trilharam o solo sagrado.

Esta foi a primeira vez que a maranhense Maria Clara Buna, de 13 anos, visitou o local. Ela e a mãe vieram de São Luís para comemorar o aniversário da adolescente com a parte mineira da família.

“Sempre venho ao santuário, é um lugar lindo. Se sou católica, então queria que minha neta conhecesse e celebrasse essa data especial aqui para começar o dia com Nossa Senhora”, conta a avó, Maria de Fátima Buna, de 62 anos.

Duas praças foram revitalizadas, recentemente, dentro do conjunto arquitetônico do santuário: a Dom Cabral e a Alcides da Rocha Miranda

Guardião

O local passa por reformas desde 2010. Quem acompanha tudo de perto é Zacarias Profeta. Ele está no templo há meio século e é conhecido, pelos demais funcionários, como o “guardião do território sagrado”.

“Cheguei em 1967 e fui ficando. Faço de tudo um pouco para manter o ambiente e a natureza em ordem”. Depois de tantos anos trabalhando por lá, Zacarias garante que é impossível não ter fé.Fernanda Carvalho / N/A

Neblina e frio não espantam fiéis

Projeto do museu está pronto, mas falta verba

O projeto do museu Maria Regina Mundi já foi desenhado e as licenças para o início das obras estão em andamento. Porém, o padre Carlos Antônio da Silva disse que a verba necessária para começar a construção do espaço artístico ainda não foi obtida.

O acervo terá imagens de aparições históricas da mãe de Cristo. Por isso, o representante da Arquidiocese de BH diz que conta com a ajuda dos fiéis “a partir do caminho da solidariedade, da generosidade e de pensar também que estamos deixando um legado para as gerações futuras”.

Doações

A ajuda e as contribuições desses devotos, nos últimos anos, têm sido fundamentais. A capela, que é do século 18, por exemplo, recebeu intervenções para receber pessoas com mobilidade reduzida. Além da implantação das rampas, a imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, foi totalmente restaurada.

Linha do Tempo

1767 – Construção da igreja
1856 – Ampliação das instalações da capela
1956 – Espaço é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
1958 – Papa João XXIII proclama Nossa Senhora da Piedade como padroeira de Minas
1960 – Local recebe título de Santuário Estadual
1974 – Início da construção da igreja das Romarias
2004 – Novo tombamento (pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha-MG). Local também é considerado Área de Proteção Ambiental
2010 – Iphan aprova a extensão de tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico da serra
2012 – Santuário é decretado atrativo turístico de especial relevância em Minas
2017 – Celebração dos 250 anos da peregrinação

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