(Flávio Tavares)
Dirigir falando ao celular, sem o cinto de segurança, acima da velocidade permitida e depois de ingerir bebidas alcoólicas. Somadas, essas infrações corriqueiras motivaram mais de 158 mil multas de janeiro a agosto na capital – cerca de 660 por dia –, segundo o Departamento de Trânsito (Detran-MG).
A lista de imprudências não é nada pequena, muito menos a de desculpas dadas pelos condutores flagrados e autuados. Pressa, distração e a crença de controle total sobre o veículo mesmo após o consumo de álcool estão entre os principais motivos alegados por eles ao desrespeitarem as leis de trânsito. É o que aponta pesquisa realizada em todo país pela Arteris, empresa do setor de concessões de rodovias. Foram examinadas as justificativas dadas pelos motoristas diante de um comportamento de risco na condução do veículo.
A conclusão do estudo é que, mesmo cientes dos perigos e da lei, a maior parte dos condutores entrevistados acredita que trajetos de curta distância ou a confiança na capacidade de dirigir sob efeito de álcool legitimam posturas incorretas no trânsito.
Recorrência
Nas ruas de Belo Horizonte, os pequenos vícios identificados na pesquisa podem ser verificados a qualquer hora do dia. Na manhã de ontem, vários motoristas foram flagrados usando aplicativos ou fazendo ligações telefônicas enquanto dirigiam. Nem mesmo quem deveria ser exemplo para os cidadãos respeita as regras. Por volta das 11h, a reportagem flagrou um policial civil falando ao celular enquanto dirigia um carro da corporação na avenida Amazonas, na altura do bairro Barroca, Oeste da capital.
Em nota, a Polícia Civil informou que “não compactua com atitudes que desrespeitem quaisquer leis”. Caso o condutor da viatura seja idetificado, poderá responder a sanções administrativas previstas na lei e nas regulamentações internas da corporação.
Cultural
Esse tipo de mentalidade é cultural. As pessoas sempre pensam que por estarem perto de casa, ou pelo trajeto ser pequeno, nada vai acontecer”, explica o tenente Marco Antônio Said, assessor de imprensa do Batalhão de Trânsito (BPTran) da Polícia Militar.
Para ele, apesar de já existirem iniciativas voltadas para a conscientização, como a Semana Nacional do Trânsito, é preciso mais investimento na educação das novas gerações de motoristas. “Acredito ser necessária uma disciplina para falar disso em sala de aula. Uma ação mais incisiva, para que o jovens possam internalizar essas regras e melhorar a segurança no trânsito”.Pedro GontijoPolicial civil é flagrado falando ao telefone enquanto dirigia viatura
maior rigor na fiscalização
A ausência de penalidades contínuas, que sejam mais rigorosas com os motoristas infratores, é o principal motivo para a persistência das infrações. Quem afirma é o especialista em transporte e professor da Fumec Márcio Aguiar. Segundo ele, a falta de fiscalização leva muitas pessoas que já deveriam ter perdido a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) a continuarem circulando livremente. “Esse cenário faz com que haja sempre a reincidência nas contravenções e a coisa vai se perpetuando. Uma distração no celular por cerca de três segundos já é suficiente para causar acidentes graves”, argumenta Aguiar.
Outro ponto apontado pelo especialista é o reforço nas campanhas de conscientização no trânsito que, apesar de já existirem, precisam ser feitas durante todo ano. “Infelizmente, elas só acontecem em momentos pontuais ou quando acontece um acidente muito grave”, avalia.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgados pela pesquisa da Arteris, apontam que 1,2 milhão de pessoas perde a vida no trânsito, todos os anos, ao redor do mundo. No Brasil, são aproximadamente 40 mil óbitos a cada 365 dias, conforme os dados do Ministério da Saúde.