A maioria das estações de tratamento não tem água de qualidade para abastecer o Vale do Rio Doce, alertou o pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora e doutor em química, Angelo Denadai, durante audiência pública da Comissão Extraordinária das Barragens na Assembleia Legislativa, que ouviu atingidos pela lama da Samarco, que causou danos sociais e ambientais em 44 municípios mineiros.
“As estações estão com equipamentos ultrapassados, tanques de decantação e filtros que nunca foram limpos. Também faltam profissionais com conhecimento de química e biologia para atuar nestas ETAs, que mais parecem garagens”, diz o pesquisador.
A lama tóxica despejada no rio Doce contribui para piorar a qualidade da água. “A situação demanda reformas nessas estações. Após o desastre, alterou a composição química da água. Não há segurança hídrica frente ao desastre ambiental, pois a maioria das ETAs não produz água com qualidade”, afirma Denadai.
DESCASO
Dirigente do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andrioli criticou a tibieza do Estado e pediu uma mudança de atitude do poder público, no sentido de protagonizar as ações pós-acidente e rever a predação ambiental que ocorre em Minas.
“A Samarco toma todas as decisões sem ouvir as comunidades atingidas. Ela tem o dever de pagar as contas; mas não definir quem são os atingidos, que têm direitos assegurados na Constituição para reconstruir sua vida. Queremos uma forma de reparação justa e a plena participação dos atingidos e ribeirinhos na restauração da vida do Rio Doce. Pescadores nunca mais exercerão sua atividade”, diz Andrioli .
No Rio Doce, em Minas, há 1.703 reconhecidos pelo Ministério da Pesca, mas o número é maior. “Pela legislação brasileira, crime ambiental e social tem que se apurar os culpados pelas mortes, por comunidades inviabilizadas e pela perda de renda das famílias”, diz o dirigente do MAB.
Sobre a alegada falta de recursos da Samarco, Andrioli destaca que a jazida de Mariana tem reserva de 2,9 bilhões de toneladas de minério de ferro aproveitáveis, o que equivale a quase R$ 1 trilhão. “A mineradora precisa parar de tratar o povo de Mariana como se fosse bobo”.
Ele afirma que “o Estado tem a obrigação de defender os direitos das comunidades atingidas e, para isso, é preciso rediscutir o conceito dos atingidos, porque as usinas Candonga e Aimorés, no Rio Doce, até hoje têm passivo ambiental e social”.