Pílula anticoncepcional tem lado bom e ruim; método completa 55 anos neste mês

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
25/05/2015 às 06:27.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:11

(Wesley Rodrigues)

Contra a gravidez, as pílulas anticoncepcionais são um dos métodos preferidos das mulheres. Recentemente, publicações no Brasil alarmaram a população feminina sobre graves riscos do uso do medicamento, gerando alerta entre as brasileiras.

De acordo com o presidente da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Agnaldo Lopes da Silva, antes de sucumbir ao alarde, é preciso conhecer os prós e contras de um dos métodos contraceptivos mais utilizados pelas mulheres – que completa 55 anos neste mês.

“Me chamou a atenção uma revista publicar na capa a foto de uma mulher com uma amputação associada à pílula, algo realmente impactante. Volta e meia, vemos (esse conteúdo) com alguma frequência, por isso, vale a pena esclarecermos alguns pontos”, diz o médico.

Segundo Silva, ao longo das últimas cinco décadas, o medicamento vem melhorando cada vez mais, com a redução de hormônios e dos efeitos colaterais. No entanto, ele não está isento de causar possíveis problemas pontuais.

Rejeição

“Algumas mulheres não toleram a pílula, porque sentem náusea, dor de cabeça. Também existem complicações associadas à trombose. A que tem estrogênio e progesterona aumenta o risco e é um aumento expressivo, apesar de essa ser uma condição pouco frequente”, afirma o presidente da Sogimig.

Para evitar problemas, conforme especialistas, o ideal é que as mulheres que possuem histórico de trombose, hipertensão, câncer de mama e diabetes na família informem essa condição ao ginecologista antes de dar início ao uso.

“Só que 99% das pacientes que chegam ao consultório já usam por conta própria. Outro aspecto importante a ser considerado, nesses casos, são queixas de enxaqueca forte com distúrbio de visão. Essa mulher está formalmente contraindicada a tomar a pílula combinada (dois hormônios), que pode levá-la a um acidente vascular cerebral”, explica o médico do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da UFMG, Antônio Aleixo Neto, especialista em contracepção.

Falta de informação

Feitos os alertas, os médicos garantem que, para a maior parte das mulheres, o método, além de eficaz, não fere a integridade da saúde delas.

“Às vezes, aparece na mídia alguém falando de determinadas pílulas, umas com mais riscos do que outras, mas isso não é muito sabido, não temos comprovação científica e, na realidade, não é bem assim”, assegura Aleixo Neto.

O presidente da Sogimig também discorda das publicações que alertam apenas para o lado negativo. “Como todo medicamento, a pílula tem efeitos colaterais, não estou negando os problemas dela, mas o fundamental é mostrar que ela é segura, na maioria das vezes, e que os benefícios vão além da contracepção”.

Reações adversas devem ser analisadas individualmente

A assistente administrativa Berenice dos Santos Luca, de 43 anos, faz uso da pílula há 18 e nunca teve problemas com o medicamento. A indicação foi feita pelo ginecologista para reduzir a intensidade das cólicas e o incômodo da tensão pré-menstrual (TPM).

Segundo ela, mesmo quando se depara com relatos de mulheres que tiveram problemas sérios de saúde após o uso do comprimido, a própria experiência a tranquiliza e afasta a insegurança.

“Não me assusto, porque sei que isso varia de um organismo para outro e com o meu deu certo. Não é porque está acontecendo algo de errado com uma vizinha que vai acontecer comigo”, considera.

Para Berenice, os efeitos positivos do medicamento foram rapidamente percebidos, desde o início. “Já tomei vários tipos e não tive problema algum, como tontura ou ganho de peso. Minha adaptação sempre foi fácil e faço check-ups regularmente”, reforça.
 

Rejeição

Já a empresária Francislene Mercês, de 29 anos, não se adaptou à pílula desde as primeiras tentativas, aos 18 anos. Nesse período, ela sofreu quatro hemorragias e precisou ser hospitalizada. A conclusão da ginecologista que a acompanha foi de intolerância aos hormônios do remédio.

“Para algumas pessoas, não dá certo mesmo e, em vez de controlar alguns sintomas, a pílula acaba piorando”, considera a empresária.

Apesar da intolerância do organismo, Francislene afirma que tomaria o remédio mesmo tendo conhecimento de casos de pacientes que sofreram efeitos colaterais severos. “Para mim, seria algo tranquilo, porque eu tomaria por indicação médica”, diz.

Peculiaridade

De acordo com Agnaldo Lopes da Silva, presidente da Sogimig, cada caso é um caso e precisa ser analisado separadamente, para que informações inverídicas não sejam disseminadas entre o público-alvo do medicamento.

“O melhor profissional para falar dos riscos e dos benefícios é o ginecologista. Fato é que a pílula foi um dos grandes avanços da medicina, porque foi a primeira vez que lançaram um método anticoncepcional que estava no controle da mulher. Ela pode escolher quando ter filhos”, conclui o médico.

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