(Frederico Haikal)
Cabos, escadas e andaimes darão lugar à beleza, harmonia e preservação. Cores vivas que remetem à pintura original da centenária Igreja São José, no Centro de Belo Horizonte, voltam a ornamentar a principal torre do templo. A primeira etapa da restauração da fachada está praticamente concluída e será entregue nos próximos dias.
Nesta fase, iniciada em janeiro, foram investidos R$ 650 mil, obtidos por meio de doações. Em março, após o período chuvoso, devem ser iniciadas as intervenções nas laterais da edificação. No entanto, a Congregação Redentorista, responsável pela paróquia, ainda está em busca de novos recursos.
Tombada pela municipalidade, a Matriz da Paróquia São José começou a ser erguida em 1902, mas, ao longo dos anos, sofreu modificações. O trabalho de recuperação é executado pelo Grupo Oficina de Restauro. Segundo uma das sócias da empresa, Rosângela Reis Costa, vários trabalhos de prospecção foram realizados.
“Encontramos camadas antigas de tinta e percebemos a presença de tons em vermelho, amarelo e cinza. Também tivemos que fazer uma ampla pesquisa”, disse Rosângela. Fotografias da época foram encontradas, mas as imagens estavam em preto e branco. “Foi um restauro muito delicado”, reforça.
A nova pintura resgata elementos neoclássicos. Foi usada uma tinta a óleo de linhaça com pigmentos especiais. Rachaduras da fachada também foram recuperadas com argamassa à base de cal, comuns na época. A intervenção foi aprovada pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural.
SEGREDO
O templo passou por ampla reforma na parte interna, que durou 20 meses e foi concluída em dezembro de 2013. Foram gastos R$ 2 milhões. Em abril deste ano, o Hoje em Dia mostrou, com exclusividade, um segredo encoberto por três camadas de tinta, que começava a ser revelado no interior da Igreja São José.
Cores originais da capela de um convento, nos fundos do templo, começavam a ser recuperadas. Datada de 1932, a pintura foi descoberta casualmente, durante uma seleção de fotos antigas para o restauro da fachada da igreja. A nova pintura também será entregue nos próximos dias.
Estrutura de imóvel antigo deve passar por vistoria a cada 2 anos
Problemas com infiltração, trincas e umidade são comuns em todo tipo de construção – correspondem a 85% das causas de danos em imóveis –, mas despertam mais preocupação quando acontecem nos mais antigos.
Nesses casos, vazamentos pontuais podem ser suficientes para comprometer toda a estrutura do imóvel.
“Normalmente, as pessoas preocupam-se mais com os aspectos estéticos e deixam de conferir se a estrutura da edificação está doente, tendendo a achar que ela é eterna. Mas as construções antigas devem passar por uma inspeção a cada dois anos”, alerta o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG), Clémenceau Chiabi.
A estudante de Direito Natassia Pereira sentiu na pele – e no bolso – as consequências da falta de manutenção preventiva. O prédio em que ela mora foi construído há cerca de 20 anos e nunca havia passado por uma avaliação.
O resultado do descuido foi uma infiltração no banheiro, que afetou o apartamento de baixo e terminou na troca de toda a rede hidráulica do edifício.
“O teto do banheiro do vizinho inchou, estourou e começou a escorrer água com ferrugem. Em pouquíssimo tempo, apareceram trincas e tivemos que recorrer a um perito para resolver a situação”, relembra Natassia.
Depois do susto, os condôminos decidiram contratar uma seguradora, que assumiu a responsabilidade pelas manutenções periódicas do edifício.
De acordo com Chiabi, do Ibape-MG, prevenir é mesmo o melhor remédio, nessas situações, inclusive para os imóveis novos. A recomendação dele é de que calhas e ralos estejam sempre limpos e desobstruídos, e que moradores fiquem atentos a sinais de trincas, afundamento de pisos, estufamento de paredes e mofos. “Se não for cuidado no começo, o problema tende a se agravar”, afirma.