A quadrilha acusada de fraudar o vestibular da Faculdade Ciências Médicas, em Belo Horizonte, também agiu no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicado no início deste mês. A confirmação foi feita nesta quarta-feira (26) pela Polícia Civil (PC) e pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que investigavam a organização há cerca de 7 meses. Segundo o MPMG, 22 candidatos que prestavam vestibular para a Faculdade Ciências Médicas, em Belo Horizonte, foram beneficiados no último domingo (23).
“Percebemos que essa fraude foi executada a partir de uma cidade do interior do Mato Grosso. As questões foram transmitidas a alunos que faziam as provas em diferentes Estados”, disse o delegado coordenador do Grupo de Combate às Organizações Criminosas da PC, Antônio Júnio Dutra Prado.
Segundo ele, as investigações ainda vão apontar em quais regiões a quadrilha atuou e quantos foram os candidatos beneficiados pelo esquema, que custou entre R$ 70 mil e R$ 200 mil a cada um.
O promotor de Justiça titular da Vara de Combate ao Crime Organizado, André Luís Garcia de Pinho, adiantou que “diversos nomes” já foram identificados e que outros deverão surgir por meio das medidas adotadas pelo MPMG.
“Estamos pedindo quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico. Dessa forma, estamos conseguindo ampliar o número de pessoas envolvidas”, disse, ressaltando que as provas foram entregues ao grupo meia hora antes do início oficial da aplicação. Dois membros da organização do Enem no Mato Grosso suspeitos de envolvimento com a quadrilha já foram identificados.
Atuação nacional
Segundo o promotor, a sofisticação da quadrilha e a altíssima capacitação tecnológica de que ela dispunha garantiam que de 20% a 40% das vagas dos vestibulares em que ela atuava fossem destinadas aos alunos que pagavam pelo ingresso desleal nas universidades.
Além da Faculdade Ciências Médicas, a quadrilha atuou em, pelo menos, outros cinco vestibulares de cursos de medicina de instituições privadas do Estado de São Paulo.
Um dos líderes da organização, o paulista Carlos Roberto Leite Lobo, preso no Guarujá, atua nesse esquema há, aproximadamente, duas décadas. Áureo Moura Ferreira, mineiro de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, é o outro líder e está envolvido em fraudes há cerca de 5 anos. Diante desses dados, a PC não descarta a possibilidade de atuação da dupla em outros vestibulares pelo Brasil.
“A gente não constatou investigação formal nem procedimento, seja ele judicial ou policial, em relação a essas pessoas, e elas negam que já tenham sido investigadas, mas isso vai ser apurado nos próximos passos da investigação”, afirmou o delegado Prado.
Saiba Mais
No último domingo, 11 integrantes da quadrilha foram presos em flagrante durante o vestibular da Faculdade Ciências Médicas. Outro suspeito que vinha sendo investigado foi preso na terça-feira, em Montes Claros, no Norte de Minas. Aluno de Direito e estagiário do Ministério Público na cidade, ele teve a prisão temporária decretada. Para os demais detidos, deverá ser pedida a prisão preventiva, para que não haja interferência nas investigações.