Prefeituras decretam multa para quem desperdiçar água

Sara Lira, Ana Lúcia Gonçalves, Danilo Emerich - Hoje em Dia
10/10/2014 às 07:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:33

(Prefeitura de Formiga)

Os problemas causados pela falta de chuva em Minas estão obrigando prefeitos a adotar medidas drásticas para evitar o desperdício de água. Apenas campanhas educativas e rodízio não estão sendo suficientes para conscientizar a população.

Quem for flagrado desperdiçando água em Formiga (Centro-Oeste), como lavar a calçada e o carro com mangueira, poderá ser multado em até R$ 180, conforme decreto do Executivo. “Chegamos a fazer rodízio, mas não resolveu. Muitas pessoas continuam usando água inadequadamente”, justificou o diretor-geral do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), Ney Araújo.

Na primeira vez que os fiscais abordarem o morador, ele será orientado sobre a necessidade de economizar água. Na segunda, a multa será aplicada. Havendo uma terceira incidência, o fornecimento do serviço será cortado.

Apenas na semana passada foram expedidas 500 notificações. Ney explicou que a vazão do rio Formiga é, normalmente, de 187 litros por segundo. Porém, nessa quinta-feira (9), atingiu menos da metade: 90 litros por segundo. “A situação é crítica. A água que captamos vem da cabeceira do rio. O restante é só esgoto”.

A punição também foi a alternativa encontrada pela Prefeitura de Itapecerica (Centro-Oeste) para evitar que a situação se agrave. O morador que desperdiçar água terá que pagar R$ 120.

Já Igarapé, na Grande BH, estuda implementar medida semelhante. “Aguardamos a aprovação da Copasa sobre quanto tempo o sistema rio Manso conseguirá fornecer água para a cidade”, disse o secretário municipal de Administração, Leandro Pereira.

Sem Aulas

Em Oliveira (Centro-Oeste), as aulas na rede pública foram suspensas há uma semana, afetando cerca de 7 mil alunos, e só devem ser retomadas em 20 de outubro. A medida, segundo o prefeito João da Madalena, foi necessária porque há risco de não ter água suficiente para a limpeza das escolas. “Questão de saúde pública. Essa é uma das piores captações de água da história”, disse.

O racionamento também motivou o cancelamento de um evento no início da semana na Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata, com 20 mil participantes. A direção da instituição determinou a redução em 25% do volume de água captado na represa da universidade.

Plano de Segurança

O Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam) planeja instituir um plano de segurança hídrica para 2015. O objetivo é fazer um diagnóstico com ações preventivas para as situações em todos os períodos – seca e chuva – no Estado. “No momento, todas as bacias mineiras estão com o nível baixo. No entanto, quando o período chuvoso atingir seu ápice, o problema da seca termina e começa o das enchentes”, explicou a diretora-geral do Igam, Marília de Melo.

Medida paliativa tem resultado positivo

Com a estiagem prolongada, medidas adotadas pelos municípios para serem paliativas acabaram se tornando alternativas eficazes para evitar o desabastecimento. É o caso das pequenas barragens formadas com sacos de areia para aumentar a captação no rio e das manobras para direcionar e controlar a água para os bairros, garantindo que moradores sejam abastecidos por certo tempo num mesmo dia e evitando o racionamento.

São os casos de Manhuaçu e Governador Valadares, dois dos 228 municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Doce – 26 capixabas e 202 mineiros – que figuram entre os mais atingidos pela estiagem. Em Valadares, o nível do rio chegou a 29 centímetros negativos há duas semanas.

De acordo com a direção do SAAE, o abastecimento é garantido por causa das manobras, da dragagem e a construção de uma barragem com sacos de areia no principal ponto de captação de água. Uma bomba submersível também foi instalada no rio.

Em Manhuaçu, manobras são feitas para levar água para os bairros. Segundo o diretor do SAAE, Jorge Aguiar, as pequenas barragens têm ajudado a garantir o abastecimento. “Estamos fazendo manobras diárias, revezando para não racionar. Esperamos vencer essa estiagem com elas”. Aguiar disse ainda que as campanhas de conscientização apresentam resultados positivos.

Vazão na represa de Três Marias é reduzida

A vazão da represa de Três Marias (região Central de Minas) foi reduzida de 150 metros cúbicos para 140 metros cúbicos. A medida foi autorizada nessa quinta-feira (9) pela Agência Nacional de Águas (ANA), em reunião com o Operador Nacional do Sistema (ONS) e o Comitê da Bacia do Rio São Francisco. Por causa da seca prolongada, a situação do Velho Chico é a pior em 83 anos, desde que as vazões começaram a ser medidas, em 1931.

O nível da represa está em apenas 4,4% (551 metros). Um cronograma para novas reduções foi agendado até o fim do ano. Segundo o presidente do comitê, Anivaldo Miranda, a medida pretende frear a queda do nível do reservatório e chegar até o fim de novembro com 2% do volume útil.

Anivaldo disse que, com a forte estiagem, os prejuízos financeiros e ambientais ao longo do rio superam milhões de reais. “Um cenário drástico pode se transformar em catastrófico”, ressaltou.

Uma nova reunião sobre a situação do Velho Chico será realizada no fim do mês, e a Cemig levará dados de testes feitos com turbinas para avaliar a produção de energia com a vazão menor.

Caminhada na Praça da Liberdade

No próximo domingo, a Praça da Liberdade será o ponto de partida da Caminhada pela Água, realizada pela Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas). A concentração está marcada para as 8h. O espaço público também receberá, a partir deste sábado (11), uma exposição interativa
sobre o tema.

A mostra “Venha conhecer o fundo do poço – de onde vem a água que você bebe” será aberta às 9h30. Além de falar sobre economia e desperdício da água, os trabalhos ressaltam a importância do líquido para a vida e história dos povos e mostra de onde vem a água que bebemos. O público poderá visitar a exposição até o dia 19 de outubro. 

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