Primeiro caso mundial de reinfecção pelo coronavírus com mutação é confirmado por pesquisa da UFMG

Da Redação*
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Publicado em 18/01/2021 às 20:25.Atualizado em 05/12/2021 às 03:57.

O primeiro caso no mundo de reinfecção por Covid-19 por meio de mutação originária da África do Sul, observado no fim de 2020 em paciente brasileira, foi confirmado em análise feita por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

De acordo com a UFMG, a descoberta "pode ter grandes implicações para as políticas públicas de saúde, estratégias de vigilância e imunização". O alerta foi publicado em artigo no último 6 de janeiro em versão “preprint” na revista científica “The Lancet Infectious Diseases” e agora o estudo aguarda revisão para a publicação definitiva.

Um dos responsáveis pela pesquisa em BH é o professor e virologista Renato Santana, do Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).  

"O estudo desenvolvido por Santana e seus colegas acompanhou o caso clínico de uma paciente 45 anos, moradora de Salvador, sem comorbidades, que se destacou como o primeiro caso de reinfecção por SARS-CoV-2 no Estado da Bahia. Diagnosticada com Covid-19 em 20 de maio, a baiana voltou a ter a doença registrada em 26 de outubro, dessa vez com sintomas um pouco mais severos. Os dois diagnósticos foram confirmados por testes do tipo RT-PCR. Quatro semanas após o segundo episódio, a paciente passou também por um teste de IgG com confirmação de anticorpos", informou a universidade. 

Por meio da análise genômica das cepas isoladas em laboratório do primeiro e do segundo episódios de infecção, os pesquisadores puderam comparar os dados entre si e com outras sequências de vírus isolados no Brasil e no mundo. Essas análises permitiram concluir que a paciente apresentou, em um intervalo de 147 dias, dois episódios de Covid-19, cada um provocado por vírus de linhagens diferentes. A análise da segunda amostra confirmou a presença da cepa E484K.

A mutação descrita pelo estudo foi identificada na África do Sul em outubro, e, no mesmo mês, também começou a circular no Brasil, com registro inicial no Rio de Janeiro e, mais recentemente, em casos de Manaus. Mas o caso baiano foi o primeiro, em todo o mundo, no qual ela foi associada a uma reinfecção por SARS-CoV-2. E essa variante, especificamente, representa uma preocupação no meio médico por fazer parte de um grupo associado ao aumento da transmissibilidade do vírus.

“Essa mutação acontece em uma proteína de superfície do vírus, que chamamos de spike. Ela se dá exatamente no sítio de interação com o receptor ACE2 nas células. O vírus usa esse receptor para entrar nas células”, detalha Renato Santana. “Essa variante amplia a ligação do vírus na superfície da célula, o que aumenta a transmissão, ou seja, a quantidade de partículas virais que conseguem entrar dentro da célula. Em consequência disso ocorre uma expansão da carga viral e da transmissão”.

Falsa impressão 

O virologista da UFMG explica que uma reinfecção ocorre quando a resposta imunológica montada após o primeiro caso não foi o suficiente e duradoura para proteger o indivíduo durante a segunda exposição ao vírus. E o estudo desse processo – o tempo de duração da resposta imunológica em uma infecção natural com o vírus – é essencial para a compreensão dos riscos de contágio e para avaliar a durabilidade das vacinas.

“Muitas pessoas acham que após terem Covid-19 estão com ‘carteira assinada’ e não terão mais. Isso não é real, principalmente quando o vírus circula mais. Quanto mais ele circula, mais ele replica. Quanto mais replica, maior a chance de aparecerem mutações. Quanto mais mutações, mais diferentes esses vírus ficam, aumentando a possibilidade dos casos de reinfecção. Por isso, ainda é importante manter o isolamento social”, defende Renato Santana.

Conforme o pesquisador, ainda não há uma resposta definitiva sobre o modo como a mutação pode afetar a vacina. Alguns pesquisadores seguem em busca dessa resposta por meio de análises dos pacientes vacinados. Para isso, estão coletando o soro desses indivíduos e verificando se ele consegue neutralizar os vírus mutantes. A resposta deve vir nos próximos meses.

Com informações da UFMG

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