Terror das bactérias

Produto mineiro impede crescimento de micro-organismos em ambiente hospitalar

Publicado em 10/04/2023 às 07:30.

Pesquisa mostrou que contato dos pacientes com superfícies e equipamentos médicos contaminados é a principal fonte de transmissão de doenças bacterianas nos hospitais (Freepik)

Quando em contato com móveis como macas de madeira tipo MDF, as bactérias hospitalares podem aumentar as infecções em pacientes. Nem mesmo a higienização é capaz de impedir o crescimento desses micro-organismos dentro dos hospitais ou clínicas. 

Pensando nisso, uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras (Ufla), desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Engenharia de Biomateriais (PPGBioMat) da Escola de Engenharia (EENG/Ufla), resultou em um produto feito de nanopartículas do metal prata e uma resina impermeabilizante, que impede o crescimento de duas bactérias hospitalares: a Escherichia coli e a Staphylococcus aureus.

Os resultados foram tão positivos que, a partir dessa descoberta, outros produtos à base das nanopartículas de prata estão sendo desenvolvidos. Segundo a professora e orientadora da pesquisa, Lívia Elisabeth Brandão Vaz (EENG/Ufla), a ideia é que o produto possa ser fixado nos painéis de madeira do tipo MDF durante seu processo de fabricação, para que, ao ser alocado em ambientes hospitalares, possa reagir com as bactérias estudadas e, assim, inibir o seu crescimento.

“Ao comprar o móvel para uso, o produto à base de nanopartículas de prata já estaria fixado com a resina de poliuretano, que faz a impermeabilização do revestimento no material de MDF. Nossos resultados são incríveis, e realmente inibem o crescimento das bactérias estudadas. Os testes biológicos desenvolvidos foram para as bactérias Escherichia coli e Staphylococcus aureus, mas isso não impede que ocorra a inibição de outras bactérias do próprio ambiente hospitalar. Um segundo passo seria continuar os estudos para verificar o tempo de duração do produto na superfície”, destaca Lívia.

Técnica é inédita
Atualmente, uma técnica muito utilizada para descontaminação das superfícies hospitalares é a higienização, mas, segundo a professora Lívia, ela não resolve o problema de possíveis contaminações por bactérias que são mais resistentes à limpeza. No estudo, duas tentativas de fixar a síntese de nanopartículas de prata foram testadas e apenas uma delas obteve sucesso.

“O que a gente fez foi testar formas de aplicar essas nanopartículas sintetizadas em laboratório nessas superfícies de MDF. Quem mata a bactéria é a nanopartícula de prata, mas corria-se o risco de aplicar essa nanopartícula e ela evaporar. Então, a gente testou pincelar, pintar a mesa, o MDF com pincel, e testamos também fixar essa nanopartícula com uma resina. Essa resina forma uma camada no MDF que vai permitir a fixação e a não evaporação do produto. Foi com essa técnica que tivemos um bom resultado”, afirma a pesquisadora.

A resina utilizada pelos pesquisadores, feita de poliuretano, teve o poder de fixar e estabilizar as nanopartículas de prata. Não há, no Brasil, nenhum estudo relacionado à modificação de superfície de madeira utilizando partículas de prata aplicada. Para Lívia, a área da infecção hospitalar tem seu foco na higienização, o que ajuda, mas não resolve o aumento da contaminação de bactérias. 

“Eu acredito que, principalmente nessa área de infecção hospitalar, pensou-se muito em esterilizar bisturi, usar luva, fazer limpeza do ambiente, usar máscara; tudo isso vai ajudar, mas não vai exterminar as infecções. O ser vivo tem um certo tempo de vida ainda naquela superfície, então, se você vem de um pós-operatório e às vezes encosta, ou a pessoa, ou o enfermeiro que vai te tratar, encosta e coloca a mão em você, e você já tem uma condição de saúde que propicia um quadro infeccioso ou uma ferida aberta, o micro-organismo irá se desenvolver”, ressalta.

Além disso
O produto final desenvolvido contribui para a redução do índice de infecções presentes dentro de ambientes médico-hospitalares e, como efeito, reduz o número de mortes de pacientes associadas às infecções bacterianas.

“A tecnologia desenvolvida é um processo simples, relativamente barato, e que pode ser aplicada em qualquer tipo de MDF, para utilização em qualquer meio hospitalar. Eliminar microrganismos é uma forte e importante alternativa para atuar na diminuição e/ou controle de infecções hospitalares”, afirma Lívia.

O estudo é resultado da pesquisa de mestrado de Fernanda Carolina Resende, com coorientação da professora Roberta Hilsdorf Piccoli e do professor Rafael Farinassi Mendes. 

A pesquisa mostra que o contato dos pacientes com as superfícies e equipamentos médicos contaminados é a principal fonte de transmissão de doenças bacterianas dentro dos hospitais. Essas superfícies contaminam, também, mãos e luvas dos profissionais de saúde e, consequentemente, favorecem a transmissão desses microrganismos patogênicos aos pacientes hospitalizados.

* Texto de Raphaela Mendonça Leite, do portal da Ciência da Ufla

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