Proibidas desde o ano passado, brincadeiras forçadas ainda acontecem na UFMG

Gabriela Sales - Hoje em Dia
27/03/2015 às 08:19.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:24

(Frederico Haikal)

Mesmo com a proibição da prática de trotes dentro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e no perímetro do entorno, calouros continuam sendo coagidos a participar desse tipo de recepção nada amigável promovida pelos veteranos. Três semanas após o início do ano letivo, alunos estreantes na universidade são “convidados” a participar de brincadeiras que normalmente envolvem humilhação pública.

No campus Pampulha, onde concentra-se o maior número de estudantes, as abordagens são feitas dentro de sala, no intervalo entre uma aula e outra. Organizadores do trote identificam as “vítimas” e pedem a elas que assinem uma espécie de documento autorizando a zombaria.

“Quem concorda precisa assinar a lista permitindo a brincadeira. Os veteranos avisam que é uma forma de resguardar ambos os lados”, conta a estudante Ana Eduarda Carvalho, de 18 anos, aluna do curso de farmácia. No fim das aulas, os calouros seguem para os jardins da universidade, onde são esperados pelos organizadores do trote. Lá, os jovens são sujos com uma mistura de tinta, óleo, farinha e carvão.

No ano passado, a universidade publicou a Resolução nº 6, que proíbe qualquer tipo de trote na instituição. O documento prevê, ainda, punições para quem organizar, que vão de advertência a expulsão.

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Mas, na prática, a determinação não tem apresentado efeito para os novos estudantes. “Não vejo ninguém coibindo essa humilhação. Isso nos deixa apavorados”, disse o estudante de turismo Thiago Almera, de 20 anos. O aluno conta que se sentiu coagido a participar de um trote na última quinta-feira. “Fiquei com medo de represálias caso não aceitasse”, completou.

Depois de banhados com a mistura gosmenta, os jovens são orientados a ficar em semáforos de avenidas do entorno por aproximadamente sete horas. “Ou até que se arrecade um bom dinheiro para que possamos beber”, explica a estudante Fabrizia Alves, de 21 anos, estreante no curso de filosofia.

Aluna de turismo, Taisa Azi, de 18 anos, não vê mal em participar. “É uma forma de interagir com os veteranos, desde que não haja violência”, diz a garota, que ficou, nesta quinta-feira (26), seis horas no entroncamento das avenidas Antônio Carlos e Abrahão Caram.

Segundo o pró-reitor de Assuntos Estudantis da UFMG, Tarcísio Mauro Vago, antes do início do ano letivo, foi realizada uma reunião com os professores para orientá-los a alertar as turmas sobre a proibição. “Mas não temos como vigiar todo mundo”, afirmou.
 

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