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Projeto usa ciclismo como forma de conhecer Contagem e pressionar prefeitura a melhorar o transporte

Bernardo Estillac
bernardo.leal@hojeeemdia.com.br
Publicado em 19/02/2022 às 16:15.
Ciclo-expedição organizada pelo grupo "Dê um Rolê em Contagem"  (Foto: "Dê um Rolê em Contagem"/ Divulgação)

Ciclo-expedição organizada pelo grupo "Dê um Rolê em Contagem" (Foto: "Dê um Rolê em Contagem"/ Divulgação)

Tendência ecológica e saudável para o transporte urbano, o ciclismo encontra dificuldades para se viabilizar enquanto alternativa em várias cidades do Brasil. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o projeto “Dê um Rolê em Contagem” busca meios para fazer da bicicleta uma forma de resolver problemas de circulação na cidade e cobrar do poder público condições de segurança para o modal. 

O fundador e coordenador do projeto, Rafael Aquino, explica que os moradores de Contagem têm um percalço histórico para se locomover dentro da cidade. A maioria das linhas do transporte público leva os contagenses para Belo Horizonte e a circulação dentro dos limites do município fica comprometida.

Contagem tem oito regionais. E, nas oito regionais, o transporte para ir até a capital é sempre mais eficiente, sempre tem mais opções. Isso acaba influenciando nas escolhas das pessoas. Elas acabam optando por acessar serviços em BH, porque não conseguem se locomover dentro de Contagem. Isso influencia na questão do emprego, do tratamento de saúde e até na questão cultural”, comenta o empreendedor social.

Segundo a Transcon, autarquia responsável pelo trânsito em Contagem, há 41 linhas de ônibus circulando dentro da cidade. A reportagem solicitou à Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) o número de  linhas que saem em direção a Belo Horizonte, mas ainda não teve resposta.

Fundado em 2018, o “Dê um Rolê em Contagem” já mobilizou a prefeitura e os ciclistas da cidade em dois seminários para discutir formas de garantir a segurança para que a bicicleta e mesmo a caminhada sejam viáveis no município que abriga cerca de 670 mil habitantes.

“A gente foca em muitas ações diretas. O bairro Eldorado, por exemplo, é cortado por becos e eles não têm manutenção. Então a gente começou a pensar projetos para a melhoria dos becos e melhoria das calçadas para ajudar as pessoas a andarem pelo bairro”, explica Aquino.

Em relação à segurança para se locomover em bicicletas, Contagem está distante do que Rafael Aquino considera ideal. Atualmente, a cidade tem apenas uma ciclovia, localizada na avenida Severino Ballesteros, uma via de acesso para Belo Horizonte.

“Essa ciclovia surgiu porque vem sendo feita uma cobrança há bastante tempo por ciclovias na cidade e o poder público teve o desejo de dar uma resposta imediata. Essa resposta foi ligar com uma ciclovia que já existe em BH. Ela já existe há mais de dez anos e acabava no limite dos municípios, aí, Contagem só emendou. É uma ciclovia que facilita quem vai sair da cidade; não quem quer andar dentro dela”, aponta.

À reportagem, a Transcon informou que a licitação para contratação da consultoria que irá elaborar o Plano de Mobilidade Ativa está em andamento. A ideia é desenvolver projetos para aumentar a segurança dos pedestres e ciclistas com a implantação de mais ciclofaixas, ciclovias e locais adequados para o caminhamento na cidade.

A autarquia ainda disse que, no ano passado, intervenções de urbanismo tático foram entregues na cidade no entorno da Casa da Cultura Nair Mendes Moreira, da Escola Estadual Helena Guerra, da Praça ABC e do Ginásio Parque Tropical.

Aulas de bicicleta oferecidas pelo projeto em Contagem (Foto: Dê um Rolê em Contagem/ Divulgação)

Aulas de bicicleta oferecidas pelo projeto em Contagem (Foto: Dê um Rolê em Contagem/ Divulgação)

Transporte e cultura
Além de promover seminários de discussão sobre o transporte na cidade, o “Dê um Rolê em Contagem” também organiza excursões culturais e naturais da região. Em expedições com ciclistas, o grupo explora pontos importantes do município que podem ser desconhecidos até por quem nasceu e cresceu no local.

“O interesse por conhecer a cidade existe. Na primeira ciclo-expedição que fizemos, a gente achou que seria tranquilo e que só umas 20 pessoas iriam aparecer. Mas vieram mais de 100. A gente foi à comunidade dos Arturos, ponto importante da história quilombola, fomos ao Parque Fernão Dias. Eram lugares que o pessoal que mora na cidade nunca tinha ido. Interesse tem, falta iniciativa”, afirma Rafael Aquino.

O coordenador do projeto conta que a experiência na cidade é comprometida além do objetivo laboral e objetivo relacionado ao transporte. A vivência cultural é diretamente ligada à capacidade dos moradores circularem pelo espaço urbano, como Aquino exemplifica.

“Já fui em espetáculo cultural que acontecia em BH e eu via um monte de gente de Contagem. Aí, acontecia o mesmo espetáculo em Contagem e estava vazio. Nosso desejo é que exista uma estrutura para a gente se locomover dentro da cidade e não sair dela”, conclui o empreendedor, que reitera a importância da sociedade ser ouvida para a construção dos projetos de mobilidade na cidade.

  

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