(Florian Paysan / Divulgação)
Um laboratório com equipamentos de modelagem 3D para incentivar a cultura do “faça você mesmo” e disseminar a tecnologia para além das faculdades de exatas. Um aplicativo para mapear o descarte irregular de lixo eletrônico e atrair empresas de coleta ao interior do Estado. E o cuidado com cães de rua, capazes de espalhar doenças como leishmaniose e sarna. As três ideias inovadoras foram desenvolvidas por jovens mineiros e venceram um programa social organizado por uma fundação.
Um deles é o estudante Guilherme Tejada, de 16 anos, morador da pequena Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha. Ele acompanhava com desgosto a quantidade de cães de rua, sem tratamento e sujeitos a maus-tratos, na cidade de 24 mil habitantes. Ao lado de amigos, Guilherme chegou a espalhar saquinhos de ração a conhecidos para que alimentassem os animais famintos, mas só a ação não era suficiente. Era preciso castrá-los. “Até tínhamos o apoio do único veterinário da cidade, mas castração é uma cirurgia, demanda remédio, equipamento e é inviável pela quantidade dos animais”, acrescenta o adolescente.
Orientação
Foi quando Guilherme resolveu, junto com três amigos da escola, se inscrever no Programa de Inovação Social “Pense Grande”, criado pela Fundação Telefônica Vivo. “Não estávamos interessados no dinheiro, mas em orientação. Nossa maior dificuldade era pensar uma solução para a questão dos cachorros”. Selecionados, ele e os amigos criaram o “Pelos Social”, que vai trabalhar pela conscientização da população de Pedra Azul sobre os perigos de doenças caso o cão fique solto na rua, além de viabilizar parcerias com a iniciativa pública e privada.
Aplicativo
No futuro, a ideia é criar um aplicativo em que qualquer pessoa possa tirar uma foto do cão abandonado, enviando para uma base de dados que identifique a localização do animal e ajude a resgatar e cuidar dele. “É algo que planejamos fazer em breve, mas vamos iniciar o trabalho com conscientização porque só criar o aplicativo não resolve o problema, só trata suas consequências”, afirma Guilherme.
Orgulho
Na cidade pequena, o apoio de uma empresa de grande porte ao trabalho do estudante já se espalhou e começa a dar resultados. O projeto começa a receber voluntários, atraídos pela publicidade que o “Pense Grande” trouxe à causa. Na reta final do ensino médio, Guilherme espera que, terminada a fase de mentoria e aceleração da fundação, o destaque sirva para atrair pessoas responsáveis e comprometidas com a causa. Ele quer vir para Belo Horizonte cursar medicina veterinária, “um sonho de infância que só cresceu com o Pelo Social”.
“Dois colegas do primeiro ano da minha escola já demonstraram interesse em levar depois que eu for embora. Até lá, espero que tenhamos uma sede física e possamos atender a mais animais”, sonha o menino.
Vale Sem Silício
Estudante de administração da Universidade Paulista (Unip), Marisa Costa, de 21 anos, sempre se preocupou com a destinação do lixo eletrônico na cidade onde mora, Almenara, também no Vale do Jequitinhonha. Ela e mais três colegas de faculdade recolhiam parte desse material e enviavam para empresas de reciclagem da capital. Mas era preciso automatizar a tarefa: foi assim que surgiu o “Vale Sem Silício”. Através de um aplicativo, qualquer pessoa vai poder comunicar às empresas que tem lixo eletrônico em casa.
Canoa Maker
Aproximar o público da tecnologia também é desejo do analista de sistemas Álvaro Soares. Interessado na forma como as coisas funcionam desde pequeno, ele, que também vive em Almenara, sempre sonhou em ver um maker space de perto. A estrutura, que conta com impressoras 3D, está revolucionando a indústria. O “Canoa Maker” agora quer dinamizar o uso.
Pense Grande
Criado em 2013, o Pense Grande chegou a Minas no ano passado. A ideia, segundo o gerente de inovação social e voluntariado da Fundação Telefônica, Luís Fernando Guggenberger é identificar talentos em potencial em áreas muito sujeitas a vulnerabilidade social. “Já trabalhávamos em outros estados e trouxemos a ideia para o Vale do Jequitinhonha esse ano por perceber a necessidade das cidades dessa região, essencialmente mineradora, de se reinventarem e pensar empreendedorismo”, conta.