(Ricardo Bastos)
Nos últimos dois dias, duas quedas de troncos de árvores de grande porte assustaram moradores dos bairros Sion e Santa Efigênia, respectivamente, em Belo Horizonte. No primeiro, quatro pessoas ficaram feridas – entre elas uma idosa de 73 anos –, além dos prejuízos financeiros. Os acidentes reacendem a discussão sobre a gestão do verde na cidade e quanto à manutenção correta das espécies.
Problemas relacionados à arborização são históricos em BH. A presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil/Departamento Minas Gerais (IAB-MG), Rose Guedes, lembra que, de 50 anos para cá, árvores foram plantadas de forma inadequada, com manejo incorreto, em locais impróprios para cada espécie.
“Não é recomendado, por exemplo, plantar fícus em calçadas, pois arrebentam e provocam quebra de estruturas”, diz. E o reflexo disso é sentido hoje, com exemplos recorrentes de quedas, muitas delas, provavelmente, causadas pela poda inadequada, segundo o professor do departamento de botânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), João Renato Stehmann.
Ele explica que as podas devem ser feitas no período de frio, quando a atividade metabólica das árvores é mais baixa e há menos incidência de pragas.
Mas a manutenção tem sido feita sem observância das condições climáticas e normas técnicas. “Percebemos funcionários matando copas por causa da rede elétrica, um grave erro”, ressalta Stehmann.
O controle de pragas também exige cautela, uma vez que podem comprometer as espécies de forma irreversível, conforme Elder Antônio Paiva, também do departamento de Botânica da UFMG. É o caso dos fícus da Bernardo Monteiro, onde, aparentemente, segundo ele, há pouco o que se fazer.
Integrante do movimento “Fica Fícus”, Patrícia Calisto acusa a Prefeitura de Belo Horizonte de negligência com relação aos fícus, contaminados pela mosca-branca. A PBH, no entanto, reforça que está seguindo o cronograma de controle da praga.
Intervenções nas áreas verdes somente com aval da prefeitura
Motoristas e pedestres que passavam pela avenida Bernardo Monteiro, no bairro Santa Efigênia, na região Leste de Belo Horizonte, levaram um grande susto na última segunda-feira (3), com a queda do tronco de parte de um fícus centenário.
Os ocupantes dos dois carros atingidos – um Doblò e uma caminhonete – escaparam ilesos, apesar do susto. A Gerência Regional Centro-Sul informou que vai recolher o tronco na manhã de hoje.
Mesma sorte não tiveram os quatro convidados da festa de um batizado que ocorria no condomínio da rua Washington, no Sion, zona Sul de BH, no domingo. A queda de vários galhos causou escoriações em três pessoas, e um trauma leve na cabeça de Sílvia Rodrigues, de 73 anos, cujo estado de saúde ainda inspira cuidados.
“Foi sorte não ter acontecido uma tragédia. Alguém poderia ter morrido”, disse Manuela Rodrigues, uma das filhas de Sílvia.
A síndica do prédio, Daniela Franco, afirma que pediu a supressão dos dois fícus, cujas copas adentram o condomínio, mas a prefeitura autorizou apenas a poda, que foi feita em 2012.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, porém, afirma que o corte não foi autorizado porque não havia necessidade e que a poda sugerida não foi realizada. “A Zoonoses vistoriou o fícus semana passada e contatou uma infestação de ratos. A Defesa Civil fez boletim de ocorrência e conseguimos outra vistoria da prefeitura”, relata Daniela.
Intervenções em árvores, mesmo na parte interna dos imóveis, devem ser submetidas à avaliação da PBH, por meio das regionais. A multa por descumprimento da regra varia de R$ 2.778,19 a R$ 16.342,30.