A convocação feita à população para economizar água, há cinco meses, não teve o resultado esperado. Agora, a população de 15 municípios da região metropolitana irá pagar a conta, não em dinheiro, mas na forma de racionamento. A Copasa anunciou que, a partir de agosto, as torneiras ficarão secas por pelo menos um período na semana, que pode variar de 12 horas a um dia.
Ao todo, 2,3 milhões de pessoas serão afetadas, dentre elas moradores de cidades de grande porte como Betim e Contagem. Na capital, apenas a região do Barreiro, com 300 mil pessoas, será submetida ao racionamento.
Todas essas localidades são abastecidas pelo sistema Paraopeba, formado pelos reservatórios Rio Manso, Serra Azul e Várzea das Flores. Com um volume total de 36%, não há garantias de disponibilidade de água até o fim do período da seca, em setembro.
“Temos uma crise gravíssima nos reservatórios”, afirmou ontem o diretor de Operação Metropolitana da Copasa, Rômulo Perilli, durante lançamento da campanha Cada Gota Conta, em Betim. Segundo ele, está sendo estudada a logística para não afetar o atendimento aos serviços essenciais, com caminhões-pipa para abastecer creches, escolas, hospitais e outros equipamentos urbanos. Poços artesianos poderão ser perfurados próximo a presídios.
Interesse público
O período de desligamento das torneiras também está sendo acertado – mas já foi definido o intervalo entre 12 e 24 horas. “Vai depender da economia de água que a população fizer. Temos de paralisar o sistema Paraopeba por algumas horas toda semana”, afirmou Perilli.
A Copasa já tem autorização da Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário (Arsae-MG) para adotar medidas emergenciais. Porém, ainda precisa do aval do órgão regulador sobre essa definição pelo racionamento – havia possibilidade de rodízio.
Perilli reiterou que o racionamento era inevitável caso a população não economizasse 30% de água desde janeiro. No último mês, a redução foi de 14,5%.
Histórico
Em junho do ano passado, as represas do sistema Paraopeba apresentavam 61% da capacidade de armazenagem e, em igual período de 2013, operava com 91,2%. Atualmente, o reservatório de Serra Azul, em Juatuba, encontra-se em situação caótica, com 15% do volume.
O diretor da Copasa disse também que a empresa faz um combate aos vazamentos na infraestrutura de distribuição, fonte maior de desperdício: 40% da água tratada se perde no caminho antes de chegar ao consumidor.
Esse dado foi divulgado em janeiro, mas a Copasa não tem o percentual de desperdício atual, embora, na época, tenha anunciado uma série de medidas para minimizá-lo. “Essa mensuração será feita em alguns meses. Diminuir perdas é complicado. Lisboa baixou de 40% para 8% em um prazo de 20 anos”, disse Perilli.
A empresa informou ter reduzido de nove horas para quatro horas e meia o tempo gasto para corrigir problemas na rede, a partir da ação de 42 equipes de caça-vazamentos.
Prefeito sugere pagamento de royalties a cidades ‘caixa-d’água’
Representante dos dez prefeitos do Vetor Oeste da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o prefeito de Igarapé, José Carlos Gomes Dutra, defendeu a criação de royalties para os municípios produtores de água, a exemplo do valor pago pela produção de energia elétrica.
“Temos de buscar soluções e alternativas para enfrentar a crise hídrica. Os reservatórios de Rio Manso e Serra Azul estão em cidades pequenas, com baixa arrecadação e dificuldades enormes para recuperar as matas ciliares”, disse.
Conflitante
O prefeito citou como exemplo a própria cidade que administra. Igarapé contribui com 45% de toda a água do sistema Serra Azul e é um dos maiores produtores de hortifrutigranjeiros da RMBH, atividade que considera incompatível com a produção de água.
Ainda segundo Dutra, o município tem uma arrecadação anual per capta de R$ 1.583 – 63% da média nacional, que é de R$ 2.500 por ano. “Como fazer um trabalho de recuperação dos mananciais degradados? Como vamos financiar os programas de preservação e recuperação ambiental?”.
Pessimismo
Para o prefeito, a crise hídrica era inevitável. “Não adianta mais buscar culpados, mas o que já fizemos com o meio ambiente é para nos deixar envergonhados”. Com o projeto Guardião dos Igarapés, criado em sua gestão para proteger nascentes, o município foi premiado pela Agência Nacional de Águas (ANA).
Plano de manejo vai tentar salvar a Vargem das Flores
Com um ritmo de assoreamento de 3,32% ao ano, a capacidade de armazenamento de água da represa Vargem das Flores diminui ano a ano, em ritmo acelerado. Estudos mostram que, em 28 anos (2043), o espelho d’água simplesmente desaparecerá. A leniência do poder público, que permite o adensamento populacional no entorno, é considerada a principal causa do problema.
Diante do quadro de crise, a Copasa promete reagir. A empresa irá contratar, no segundo semestre, a elaboração do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) Vargem das Flores, para definir os usos e a ocupação. O custo do projeto será R$ 1 milhão, e o prazo, de 18 meses.
A morosidade é uma característica da APA, que tem 12,2 mil hectares. Criada em 2006, teve o conselho consultivo empossado somente no fim do ano passado. “O plano não foi feito antes, agora será”, reforçou o diretor de Operação da Copasa, Rômulo Perilli.
“Temos de remover todas as invasões da orla. Nós tiramos todas na parte de Betim. Do lado pertencente a Contagem (87% do reservatório), as construções foram feitas dentro da orla”, destacou o prefeito de Betim, Carlaile Pedrosa.
A fiscalização é de responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Porém, falta regulamentação, pelo Estado, das atividades que podem ser desenvolvidas no local.
Campanha
Perilli disse que a campanha Cada Gota Conta vai ser divulgada em meios de comunicação de massa. Porém, a empresa pretende usar carros de som, faixas, cartazes, panfletos, aplicativos e redes sociais para não deixar de levar a mensagem a ninguém.
Dentre as medidas para aumentar a oferta de água no Sistema Paraopeba, a partir de setembro, Perilli citou a interligação dos sistemas com obras de baixo custo.
Outra ação em curso é a adutora no Paraopeba que vai aumentar para 5.800 litros por segundo o volume destinado à estação de tratamento de água do rio Manso. A obra deve ficar pronta em dezembro, já no período de chuva.