Morar relativamente perto do Centro de Belo Horizonte, em frente à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na avenida Antônio Carlos, na Pampulha, era um sonho para a estudante Rejiane Santos Rodrigues, de 18 anos. Filha de um casal de ex-moradores de rua, que ocuparam a área há pouco mais de uma década, ela viu sua família ser desapropriada para uma obra da Copa do Mundo, em 2011.
A casa que foi possível ser comprada com o dinheiro da indenização, no bairro Alto Boa Vista, vizinho ao Citrolândia, em Betim, na Grande BH, fica a aproximadamente 40 quilômetros de onde a família morava.
O casal, quando decidiu sair das ruas e montar uma família, pensou em dar tudo o que fosse possível para a filha que viria. E foi com isso em mente que, assim que se mudaram para Betim, os pais procuraram uma escola para que Rejiane pudesse continuar os estudos. Entretanto, demorou para conseguir escola.
“No começo foi difícil. Fiquei dois meses para conseguir vaga. Eu e minha mãe ficávamos tentando. Quando consegui, era no turno da noite e ficava com um pouco de medo ao voltar pra casa. Hoje já me acostumei”, lembra a garota.
Vila UFMG
Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), na Vila Recanto UFMG, 130 famílias foram removidas, em 2011, para a construção de um viaduto de acesso à avenida Abrahão Caram. Outras obras na capital foram feitas em função da Copa do Mundo e demandaram remoções, como a duplicação da avenida Pedro I e a Via 210 (no bairro Betânia).
No total, na capital mineira, foram 708 famílias removidas, de acordo com a PBH.
Rejiane é uma das cerca de 900 crianças e adolescentes em idade escolar em Belo Horizonte que foram afetadas diretamente pelas obras da Copa do Mundo.
Preferência
Hoje, passados três anos da mudança, ela está acostumada com a vizinhança e gosta de onde mora. “Não queria ir para um apartamento por causa dos cachorros”, conta.
Mas, ao mesmo tempo, lamenta estar longe da UFMG, já que ela deve se formar neste ano no ensino médio. “Quero cursar psicologia. Se ainda morasse em frente à UFMG, seria ótimo”, afirma.
Solidariedade para superar as dificuldades
Em contraposição às dificuldades que enfrentou com a remoção em função da duplicação da avenida Pedro I, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte, a família da salgadeira Alédia Aparecida Otto Pereira, de 37 anos, contou com a sorte e a solidariedade de pessoas que nem conhecia. Principalmente para conseguir vaga na escola para os quatro filhos.
A família foi desapropriada em setembro do ano passado e, como tinha pouco tempo para sair, escolheu uma casa em um bairro de Santa Luzia, na Grande BH. A intenção era ficar o mais perto possível dos parentes, já que alguns permaneceram próximo à antiga residência.
Na mudança, Alédia e família perceberam que o local era muito perigoso. Três dias depois, o chefe do marido dela o viu desesperado no trabalho e ajudou a conseguir uma casa para alugar no município de Confins.
Assim, em menos de uma semana eles fizeram duas mudanças. Depois de arrumar o teto para morar, faltava a escola das crianças. Assim, com ajuda até mesmo do prefeito da cidade, conseguiram vaga para todos os filhos. “Não tive ajuda lá em Belo Horizonte, mas aqui me receberam muito bem e meus filhos não ficaram fora da escola. Foi sorte, solidariedade e Deus”, aponta a salgadeira.
Família
Como a casa em Santa Luzia está para vender ou alugar, eles não conseguiram ainda utilizar os recursos da indenização para comprar outro imóvel, e estão arcando com o aluguel, o que nunca havia feito parte dos gastos da família.
Apesar disso, estão todos satisfeitos. “Aqui eles (os filhos) têm muita amizade. As pessoas nos receberam muito bem, temos uma vista linda. Mas a parte ruim é que ficamos longe da nossa família. Agora está cada um em um lugar”, lamenta Alédia.
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