Belo Horizonte já tem 458 mortes por Covid-19, mas em uma de suas regionais a situação é ainda mais grave. Embora ocupe o quinto lugar em regiões da capital no número de casos confirmados de novo coronavírus, Venda Nova é o local com mais mortes pela doença em BH. De acordo com o último levantamento apresentado pela prefeitura, foram 63 óbitos – 14% do total registrado na cidade.
Os dados referentes a Venda Nova são tão preocupantes que, se a região fosse uma cidade, seria a oitava em Minas Gerais com maior número de mortos, atrás da capital e de outros seis municípios do interior (veja tabela abaixo). A regional contabiliza mais mortes que algumas cidades bem mais populosas e que também sofrem com pandemia, como Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde há 333 mil habitantes e 51 mortes confirmadas; e Montes Claros, no Norte de Minas, com 409 mil habitantes e 16 mortes.
MUNICÍPIO | POPULAÇÃO | MORTES POR COVID |
Belo Horizonte | 2,5 milhões | 458 |
Uberlândia | 691,3 mil | 197 |
Contagem | 663,8 mil | 114 |
Juiz de Fora | 568,8 mil | 97 |
Ipatinga | 263,4 mil | 85 |
Governador Valadares | 279,8 mil | 84 |
Betim | 439,3 mil | 78 |
**Venda Nova | 265 mil | 63 |
A reportagem do Hoje em Dia esteve na principal área comercial de Venda Nova na última sexta-feira (24) e verificou que a maioria das pessoas está cumprindo a lei municipal que obriga o uso de máscaras em locais públicos, mas também flagramos pontos de aglomeração – especialmente na porta de algumas lojas.
De acordo com o infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e integrante do Comitê de Enfrentamento à Pandemia de Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, o grande número de casos de mortes em Venda Nova está relacionado à vulnerabilidade social da região.
“Boa parte dessa população trabalha na região Centro-Sul e utiliza o transporte coletivo, onde há um contato intenso entre usuários, provocando um aumento no número de casos”, afirma o infectologista, lembrando que há uma interação grande entre os moradores de Venda Nova e cidades vizinhas, como Ribeirão das Neves – onde há 47 mortes confirmadas por Covid.
Para alguns moradores da região, os problemas sociais aliados ao comportamento pouco cuidadoso da população contribuem para o crescimento de casos e mortes pelo novo coronavírus. “Tenho percebido em Venda Nova as pessoas um pouco negligentes com as orientações sobre cuidados no enfrentamento à pandemia. Vejo que elas não acreditam que essa doença tenha uma alta forma de contágio”, afirmou Cláudia Maranhão, de 50 anos, que trabalha como síndica profissional e é presidente do Conselho Comunitário de Segurança Pública da região.
Segundo ela, desde março, muitos comerciantes têm mantido as portas abertas (alguns deles respaldados em decisões judiciais) e há aglomerações em alguns estabelecimentos, como supermercados e sacolões. “Vejo aglomerações na rua Padre Pedro Pinto e na avenida Vilarinho e os ônibus estão sempre lotados”, disse Cláudia, que mora no bairro Rio Branco.
A microeemprendedora Sheila Gomes de Souza Reis, de 52 anos, acredita que a maioria das pessoas tem consciência da gravidade da situação, mas aqueles que não se cuidam acabam colocando a vida dos outros em risco. “Aqui perto, na rua Edgar Torres, as pessoas estão fazendo grupinhos e bebendo em frente às distribuidoras de bebidas. As pessoas esquecem que têm familiar em casa”, contou Sheila, que mora no Minas Caixa e é conselheira distrital de saúde.
Venda Nova x Barreiro
A mortalidade por causa de Covid em Venda Nova também impressiona quando se compara os números com o Barreiro, regional com características semelhantes. De acordo com indicadores divulgados no site da Prefeitura de Belo Horizonte, essas são as duas regionais com as menores rendas médias da capital.
Com 282 mil habitantes, Barreiro é a regional com maior número de casos confirmados de coronavírus, mas computou 50 mortes pela doença – 13 a menos do que Venda Nova, onde a população é de 265 mil pessoas.
Enquanto Venda Nova tem uma morte por Covid a cada 4,2 mil habitantes, no Barreiro a média é de um óbito a cada 5,6 mil moradores.
Veja os dados por regional:
Ações
Para conter o avanço do coronavírus em Venda Nova, diversas ações estão sendo realizadas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Nesta segunda-feira (27), começaram a funcionar dois pontos de fiscalização sanitária nos terminais de ônibus Vilarinho e Venda Nova. Além disso, um ponto de higienização do SAMU também foi instalado no Hospital Risoleta Neves para agilizar ainda mais os atendimentos à população.
Venda Nova conta ainda com um Centro Especializado em Covid-19, montado na UPA da regional em março. Até quinta-feira (23), foram mais de 3,3 mil atendimentos na unidade de pacientes com sintomas compatíveis com a Covid.
A secretaria informou também que, dos 152 centros de saúde de Belo Horizonte, a regional Venda Nova conta com 17 unidades, que estão preparadas e capacitadas para atender a população com sintomas de doenças respiratórias. Os casos suspeitos são monitorados especialmente quando há ocorrência de surto.
“A Secretaria Municipal de Saúde destaca que para conter a contaminação pelo novo coronavírus é extremamente necessário que a população siga as medidas de prevenção como o uso de máscaras, distanciamento de 2 metros, isolamento social e higienização das mãos”, afirmou a pasta.
(Lucas Prates)
(Lucas Prates)
(Lucas Prates)