Uma estrada característica de área rural. Caminho de lavradores, que dia ou outro vão à cidade para pagar as contas no banco ou fazer compras no mercado. Acesso também de gente da cidade grande que busca tranquilidade em condomínios. As pistas, estreitas e sinuosas, sempre transmitiram tranquilidade, até a chegada dos caminhões carregados de minério.
Essa mudança no trânsito da estrada do distrito de Rio de Peixe, em Rio Acima (RMBH), tem incomodado pelo fluxo constante de veículos de carga e acelerado a deterioração do trecho, que liga a MG-030 à BR-040, em Nova Lima, região metropolitana. As características da via, calçada com cascalho, também se mostram incompatíveis com o volume de tráfego.
Até a arborização foi reduzida em função do alargamento da via por mineradoras. “Mas não deram a devida manutenção. Caminhões trafegam na contramão para fugir dos buracos”, reclama a analista financeira Helaine Mendes da Silva, de 45 anos, moradora do condomínio Vale da Mata.
Há mais de quatro anos os caminhões circulam pelo trecho, mas, em novembro do ano passado, o transporte de minério foi proibida pela Justiça, a partir de uma ação movida pela Prefeitura de Rio Acima. Em seguida, foi publicado um decreto oficializando a decisão. O tráfego acabou desviado para um trajeto por Sabará e Nova Lima.
Com a mudança do governo do Estado, o então prefeito Juninho da Geloso (PR) assumiu a vice-presidência da Copasa. Assim, tomou posse como novo chefe do Executivo Wanderson Lima (PSD), que, segundo a Câmara de Rio Acima, assinou um acordo com Nova Lima e a mineradora Phoenix para reativar a estrada de Rio de Peixe.
Para vereadores, a situação é irregular. “Os caminhoneiros estão trabalhando ilegalmente, porque até hoje nenhuma liminar derrubou a decisão da Justiça. Também não há nenhum novo decreto que aprove a utilização da estrada”, afirmou o presidente da Câmara de Rio Acima, Jefferson Bastos (PTC ).
A reportagem do Hoje em Dia esteve na última sexta-feira (27) de manhã na estrada e registrou intensa movimentação de caminhões. Veículos sobem morros carregados de minério com muita dificuldade, em função das curvas. No caminho inverso, já descarregados, motoristas se arriscam na descida, em alta velocidade.
O presidente da Associação de Moradores de Rio de Peixe, Amauri Silva Gomes, destaca que, após a liberação da estrada para os caminhões, os acidentes tornaram-se frequentes. Em uma ocasião, ele presenciou um veículo despencando dentro do condomínio Vale da Mata, às margens da via. O caminhoneiro morreu no local.
O aposentado Joel Cesário da Silva, de 58 anos, realiza o trajeto toda semana para ir à cidade e já foi surpreendido com uma batida entre dois caminhões de minério. “Um deles estava subindo e o outro descendo. Cheguei a socorrer um dos motoristas, mas ele morreu 15 dias depois”.