Risco de racionamento faz crescer procura por gerador de energia

Bruno Porto - Hoje em Dia
Publicado em 28/01/2015 às 08:20.Atualizado em 18/11/2021 às 05:49.
Do microempresário ao grande industrial, a demanda por locação e venda de geradores de energia em Belo Horizonte disparou em janeiro, motivada pelo risco de racionamento e quedas de energia, especialmente durante os horários de pico, entre 17h e 22h.

Os preços de venda do equipamento variam conforme o porte e a potência, partindo de R$ 4.500, podendo chegar a R$ 200 mil. A locação mensal de um modelo simples, de pequeno porte, tem custo de R$ 3,5 mil. Os eventuais prejuízos causados por uma parada de produção levaram os empresários a adotarem a prevenção.

No ano passado, a MG Gerador comercializou 20 equipamentos, em um ano considerado fraco pelo diretor-comercial, Maurício Torres. “A demanda começou a aquecer em novembro e não parou mais. Só em janeiro, vendemos 35 máquinas, mais que todo o ano passado”, afirmou. O pico de vendas já foi percebido pelos fabricantes, que, segundo Torres, estão pedindo de 60 a 90 dias para novas entregas.

A MG Gerador atua tanto no comércio quanto na locação de geradores, com clientes como indústria metalúrgica, restaurantes, farmácias e frigoríficos.

Semelhante movimento foi constatado na MS Geradores, com atuação na capital desde 1994. “Esse período de janeiro é sempre de demanda em alta por causa das chuvas e os problemas na distribuição de energia. Mas percebemos um consumidor mais receoso desde que se começou a falar em risco de falta de energia, em meados do ano passado. Em novembro, começou a aumentar, de fato, a demanda”, destacou o gerente comercial da empresa, Luís Fillippe Avelar.

De novembro a janeiro, as vendas estão 30% superiores em relação a igual período de um ano antes. “A procura é por todos os portes de equipamento, com potência para atender desde pequenos comércios à indústria da mineração”, disse.

Com 19 unidades espalhadas pelo país, uma delas em Belo Horizonte, a empresa A Geradora viu o pequeno e médio empresário aquecer seus negócios, como explica Flávio Miranda, supervisor comercial.

“A indústria de maior porte já está preparada para cortes de energia porque tem geradores a postos. Mas empreendedores de menor porte estão correndo para se precaver de possíveis apagões. É nesse nicho que registramos maior aumento da demanda por locação de geradores. Pelo menos por enquanto, é uma locação preventiva, para minimizar risco de prejuízo”.

Os geradores podem ser usados em três tipos de situação: emergência, contínua e em horários de ponta. O primeiro tipo é o que teve o maior crescimento da demanda nos últimos meses.
 
Blecaute
 
Na segunda-feira, um apagão atingiu diversas regiões do país e 54 municípios mineiros, com impacto em 280 mil clientes da Cemig. O corte no fornecimento foi orientado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), em função do recorde de consumo nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.

Às 14h32, segundo informações do ONS, as regiões, tratadas como uma única área pelo órgão, chegaram a um pico de 51.596 megawatts (MW). O recorde anterior havia sido registrado uma semana antes, com demanda de 51.295 MW, no dia 13. Desde então, o Brasil começou a importar energia da Argentina.
 
Microempresários exigem clareza nas decisões

A falta de clareza do governo federal sobre como agirá diante da crise energética tem deixado pequenos e microempresários de mãos amarradas. Eles se dizem impossibilitados de traçar planos de contingência, uma vez que a União não reconhece, ao menos oficialmente, a possibilidade de racionamento. Na semana passada, um blecaute foi orientado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), deixando milhares de clientes sem energia.

“A discussão se limita em se terá ou não o racionamento, mas já deveríamos estar com um planejamento para caso tenha. O governo vai atacar o problema exigindo racionamento da indústria eletrointensiva ou será geral? Não se sabe. O governo pode subsidiar a geração de energia para pequenos industriais, abrir linhas de crédito específicas para compra de geradores, sem análise cadastral profunda, conceder desconto para economia, e várias outras ações. Mas nada é colocado na mesa, não se chama a sociedade para a discussão”, afirma o presidente do Comitê de Política Industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Gonçalves Fernandes.

Ele observa que o pequeno empresário é quem mais sofre, por falta de dinheiro para se prevenir de quedas de energia. “Esse tipo de empreendedor está com margens de lucro estranguladas, muitos não têm recurso para comprar gerador. Se entrarem no racionamento e tiverem de reduzir produção, vão ter prejuízo e demitir”.
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