Rota do medo: motoristas evitam BR-356 e aumentam caminho por receio de desabamento

Ana Júlia Goulart e Mariana Durães
horizontes@hojeemdia.com.br
Publicado em 27/03/2018 às 06:00.Atualizado em 03/11/2021 às 02:02.

“Se podemos evitar, para que iremos nos arriscar?”. O questionamento da empresária Maria Carolina Souza Lima, de 53 anos, sobre trafegar pela BR-356, encontra coro entre motoristas que utilizam a rodovia diariamente. Há 15 dias, foi constatado risco de desabamento de um muro de contenção próximo ao trevo do Belvedere. As obras de reforço estrutural já começaram, mas novas intervenções no local deixam condutores desconfiados.

Em breve, a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) irá apresentar o plano de retirada de mais famílias da Vila São Bento, comunidade que fica abaixo da estrutura. Ontem, representantes do Departamento de Edificações de Estradas e Rodagens de Minas Gerais (DEER-MG) e da Urbel estiveram reunidos durante toda a tarde para definir os trâmites. No entanto, nenhum detalhe foi divulgado. Até então, 32 casas foram demolidas.

“Vendo avaliações de engenheiros e acompanhando as notícias, parece-me uma situação muito séria”, observa a empresária Maria Carolina, que mora em Nova Lima, na Grande BH, e constantemente utiliza a rodovia para atingir a região Central da capital. Ela conta que parou de passar no local e recomendou o mesmo para os filhos.

O DEER-MG garante que a estrutura na BR-356 está estável; a previsão é de que as obras no trecho afetado durem entre três e cinco meses

Feriadão

Diariamente, 100 mil veículos transitam pelo trecho. Com a chegada do feriado prolongado de Semana Santa, o fluxo pode ser ampliado consideravelmente na BR-356, que é opção de saída para a BR-040, via que leva ao Rio de Janeiro, um dos destinos preferidos dos mineiros nos dias de folga.

“O excesso de veículos, mesmo na ampliação com o feriado, não prejudica a obra nem amplia os riscos. Em caso de qualquer mudança, o plano de emergência será colocado em prática”, explica o diretor-geral do DEER-MG, Davidsson Canesso.

Mesmo assim, vários condutores têm evitado a região e escolhido rotas alternativas. Opções para o dia a dia e também para chegar à 040 no feriadão são a avenida Raja Gabaglia, as ruas internas do Sion e Belvedere e o Anel Rodoviário. 

A supervisora escolar Juliana Simões, de 52 anos, está receosa de transitar pelo Nossa Senhora do Carmo e pelo trecho da 356, principalmente na companhia do filho. “Moro no Sion e trabalho no São Bento, então esta era minha rota todo dia. Parei de passar lá e comecei a ir e voltar pelo Santo Antônio, mas para isso gasto 40 minutos a mais”.

Segundo ela, ao contrário das demais opções de trajeto, a quantidade de veículos diminuiu bastante e nem nos horários de pico a BR-356 tem tido trânsito. No trecho, atualmente, duas pistas sentido Belvedere estão interditadas para trânsito.

A BHTrans informou, por meio de nota, que ainda não indica alternativas ao trecho porque está em contato com os órgãos responsáveis pelas intervenções na rodovia, e segue as orientações dos mesmos. Sendo assim, possíveis desvios só serão divulgados “quando/se houver necessidade de implantação”.

Tecnologia sensível a alterações no solo monitora situação de muro durante todo o dia

Um plano de ação emergencial de trânsito, envolvendo diversos órgãos dos governos municipal e estadual, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar Rodoviária (PMRv) foi montado para agir em caso de emergências. O monitoramento é feito durante todo o dia com novos relatórios a cada dois minutos.

As movimentações do muro são acompanhadas por uma tecnologia utilizada para verificar deslocamentos de taludes, como em áreas de barragens, por exemplo. Uma antena instalada no local emite ondas eletromagnéticas que percorrem a área e retorna identificando qualquer tipo de alteração. Conforme o diretor-geral do DEER-MG, Davidsson Canesso, o paliativo feito no local já deu certa estabilidade ao muro.

Porém, a assistente administrativo Luiza Russo Ramos, de 27 anos, prefere não arriscar. Ela trabalha bem perto do local interditado e decidiu mudar a rota. “O tempo é maior, e tem mais trânsito também. Acho que é porque muitas pessoas estão fazendo o mesmo para evitar a Nossa Senhora do Carmo”, disse. De acordo com a jovem, a apreensão aumentou quando áudios de supostos engenheiros começaram a circular por mensagens de WhatsApp. 

Em caso de problemas, motoristas que passam pelo trecho deverão ser notificados por um sinal. Ele terá dois tipos: amarelo, em caso de movimentação leve, e vermelho para chances iminentes de desabamento. Os órgãos envolvidos na ação terão um tempo para liberar a via, concretizar o bloqueio total do tráfego e evacuar a área.

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