Nos últimos quatro anos, o número de roubo de veículos em Minas Gerais subiu quase 20 vezes. As 263 ocorrências registradas em 2009 saltaram para 4.891, em 2012. Já os furtos cresceram mais de dez vezes no mesmo período, passando de 2.259 para 22.508. Os dados foram divulgados na última quarta-feira (11), pelo portal do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas (Sinesp).
Ainda segundo estatísticas do Sinesp, Minas também registrou aumento de 514% no número de estupros, e 265% em casos de latrocínio (roubo seguido de morte). Já os homicídios dolosos, ou seja, quando há intenção de matar, saltaram de 1.425 para 3.920, o que representa alta de 175%.
Esses e outros dados eram desconhecidos pela população mineira, porque a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) apresenta apenas um boletim mensal sobre a criminalidade, sem especificar quais os tipos de crime estão aumentando no Estado.
No entanto, como a divulgação detalhada se tornou condição obrigatória para o recebimento de repasse do Governo Federal para as políticas de segurança pública, essa prática tende a mudar. "Esse joguinho de 'gato e rato', de não divulgar a transparência em Minas, terá que acabar. Todo cidadão tem direito de saber os dados sobre a violência", destaca o filósofo Robson Sávio, membro do membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Para Sávio, o aumento da violência estaria relacionado à transformação promovida na gestão da segurança em Minas. “A Seds deixou de ter liderança técnica para ter uma política. O impacto está aí, no balanço das estatísticas. As polícias voltaram a brigar entre si e houve um aumento exponencial dos indicadores de crime. Tudo isso está relacionado à dificuldade de gestão da atual política de segurança", opina.
Expectativa
Apesar da crítica, Sávio confia na melhoria do órgão, desde março de 2012 sob o comando do procurador de justiça, Rômulo de Carvalho Ferraz. “Mas mudança é lenta”, pondera.
Ferraz, por sua vez, reconhece o aumento da criminalidade, mas argumenta que o crescimento se deu em todo o Brasil. "A Lei 12.403/2011 facilitou a concessão de liberdade provisória e fiança aos presos, sobretudo em casos de roubos e furtos. A polícia prende indivíduos que já foram presos 15 vezes. Estamos enxugando gelo", lamenta.
O secretário vai além e aponta a disseminação do tráfico de drogas, em especial o crack, e a grande participação de adolescentes em crimes, como fatores que estariam diretamente ligados ao crescimento do problema.
Para conter a violência, Ferraz aposta nas operações policiais realizadas em Minas e, também, na aquisição de equipamentos de monitoramento. "Até março do ano que vem, entregaremos 2.300 viaturas em todo o Estado, sendo que na próxima semana serão 500. Além disso, haverá concurso público para contração de mais agentes", informa.
Impotência
O balanço de ocorrências deste ano ainda não foi divulgado pelo Governo Federal. Contudo, o professor de educação física Marcílio Gonçalves de Oliveira Marcelino, de 38 anos, vai engrossar a estatística. Em abril, ele teve o veículo furtado na porta de sua casa, no bairro Vera Cruz, região Leste de Belo Horizonte. "A sensação de impotência e insegurança é gigante. É realmente decepcionante", queixa-se.
O furto do Palio cinza, ano 2008, ocorreu quando Marcelino voltava de uma partida de futebol com os amigos, e parou o veículo em frente à sua residência. Quando retornou, dez minutos depois, teve a desagradável surpresa. Ironicamente, o irmão da vítima trabalha na Delegacia Especializada de Investigação de Furto e Roubo de Veículo.