Medo coletivo

Roubos no transporte público de BH disparam 67% neste ano

Raquel Gontijo
raquel.maria@hojeemdia.com.br
Publicado em 17/07/2023 às 07:00.
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Atrasos, superlotação, falta de conforto e passagem cara não são os únicos problemas enfrentados por quem depende do transporte público em Belo Horizonte. A insegurança também preocupa os passageiros. O número de roubos aumentou 67% em 2023. Autoridades garantem que a patrulha preventiva tem sido feita, mas usuários e especialistas cobram reforço nas ações.

De janeiro a maio 119 assaltos foram registrados, contra 71 nos cinco primeiros meses do ano passado. Só em maio foram 30, o dobro do que foi anotado no mesmo mês de 2022. O levantamento, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), considera as ocorrências em ônibus e metrô. O relatório não informa os horários nem os locais mais críticos.    

Quem foi vítima dos bandidos fica com uma lembrança traumática. "É uma experiência que não desejo pra ninguém”, diz Ernani Rodrigues Rocha, de 55 anos, assaltado em 14 de março, dentro do ônibus da linha 8350 (Estação São Gabriel). O crime ocorreu no Anel Rodoviário, na altura do bairro São Francisco, na Pampulha, às 5h40.

Ernani estava a caminho do trabalho quando bandidos tomaram o coletivo e apontaram uma arma para ele. O passageiro estava sentado no primeiro banco, na frente, quando o motorista parou e quatro homens embarcaram - dois pela porta da frente e outros pela traseira. “Assim que o ônibus arrancou um deles anunciou o assalto, com a voz muito alterada. Eles mandaram o motorista parar, pediram para todo mundo ficar quieto e pegaram os pertences das pessoas”, relembra.

Ele até tentou esconder o celular, dizendo que não tinha, mas um dos criminosos apontou a arma em sua direção e disse “aqui não”. “Depois disso não reagi. Tive muito medo porque estavam muito alterados. Assustei muito, a gente nunca espera que isso aconteça”. 

Os criminosos levaram a mochila de Ernani com celular, carteira, documentos e até o uniforme da empresa onde trabalha. Ele conta que o episódio gerou um “trauma”. “Sempre que eu passo em frente onde aconteceu o assalto vem a lembrança”, desabafa. 

Combate ao crime

Para o especialista em segurança pública, Luiz Flávio Sapori, não existe uma única solução, mas uma combinação de fatores para coibir os crimes. O sociólogo reforça que as polícias Militar e Civil precisam manter um trabalho de inteligência para entender a dinâmica do fenômeno, identificar as regiões com maior ocorrências, fazer um patrulhamento mais orientado e atuar com mais intensidade.

Sapori também cobra a presença de agentes da Guarda Municipal nas estações e nos pontos de ônibus de maior movimento e que os órgãos públicos e empresas que administram o serviço de transporte público ampliem o monitoramento por vídeo, com manutenção frequente dos equipamentos para garantir o funcionamento. Além disso, alerta que os usuários do transporte público tenham cuidado com os pertences pessoais durante o deslocamento ou espera pelos veículos. 

O que diz o poder público
A prefeitura de BH afirmou que a Guarda Municipal faz o patrulhamento da cidade, com rondas nas praças, parques, escolas, unidades de saúde e demais espaços públicos, mas que a atuação em ocorrências de violência em ônibus ocorre somente quando o agente se depara com tal situação. 

A PBH também destacou que desde 2017, a Guarda realiza a Operação Viagem Segura, em que são feitas abordagens preventivas pelos agentes em linhas de ônibus. Segundo o Executivo, neste ano, de janeiro a maio foram realizadas 3.226 viagens acompanhadas, que resultaram na prisão de sete pessoas.

Já a Polícia Militar informou que atua de forma ininterrupta no patrulhamento ostensivo para prevenir qualquer infração penal e que o policiamento na capital é feito com base em análise criminal dos registros de ocorrência, priorizando os locais com maior incidência.

A PM disse ainda que “tem adotado estratégias de inteligência de segurança pública conjugada à análise criminal para direcionar as modalidades de policiamento que integram o Portfólio de Serviços da Instituição, Base de Segurança Comunitária, Tático Móvel, Motopatrulha para o combate a essa modalidade criminosa”.

Já o Setra disse que trabalha em conjunto com a PM e Guarda Municipal. Nestes casos, quando acontece um crime as imagens são cedidas às autoridades. A orientação é que para que o motorista não reaja e quando possível acione o botão do pânico.

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