Sem repasse do governo, casas terapêuticas acumulam dívidas e sobrevivem de doações

Sara Lira - Hoje em Dia
Publicado em 24/04/2015 às 06:12.Atualizado em 16/11/2021 às 23:45.

Mais da metade das comunidades terapêuticas que oferecem tratamento para dependentes químicos, financiadas pelo governo de Minas Gerais, estão sem receber o repasse por parte da Secretaria Estadual de Saúde (SES) há cerca de 90 dias.


A denúncia foi divulgada nesta quinta-feira (23) por representantes das casas durante audiência pública da Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).


Atualmente, há no Estado 107 comunidades, sendo 30 conveniadas à Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e 77 à SES, por meio do programa estadual Aliança Pela Vida. O projeto repassa o equivalente a R$ 1.500 para cada paciente internado nas instituições. O último pagamento, porém, foi realizado em fevereiro. Os repasses das casas conveniadas à Seds estão em dia.


“O governo havia prometido que iria regularizar a situação logo após a votação do orçamento para 2015. Mas até agora nada”, criticou o presidente da Federação das Comunidades Terapêuticas Evangélicas do Brasil (Feteb), Wellington Vieira.


Endividadas


A maioria das casas filiadas ao Aliança Pela Vida depende quase que exclusivamente dos recursos estaduais para manter os trabalhos, custear gastos e despesas.


É o caso da Comunidade Terapêutica Associação Cristã Arca de Noé, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A instituição, que atende a 28 dependentes, tem se desdobrado para quitar dívidas. “Há recursos de doações e de outras fontes, mas não é o suficiente. O que temos está acabando”, lamenta o coordenador da casa, Marcione de Moura.


A situação é semelhante no Centro de Tratamento de Alcoolismo e Drogas (Credeq), em Ravena, distrito de Sabará, na Grande BH. “O momento é caótico. O aluguel está atrasado e os fornecedores de alimentos estão colaborando permitindo que a gente pague depois”, contou o coordenador do local, Bruno Barbosa, que atende 54 dependentes.


Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde informou que os pagamentos estão sendo feitos de acordo com o fluxo de caixa da pasta. Ainda segundo a SES, “o esforço é para que a situação seja regularizada no início de maio”.


Ex-dependentes de drogas que foram ajudados por programa pedem regularização de verba


As 77 comunidades terapêuticas conveniadas à Secretaria Estadual de Saúde, por meio do Aliança Pela Vida, atendem a aproximadamente 1.300 dependentes químicos. Para eles, a oportunidade de internação em uma dessas casas é a última chance de sair do mundo das drogas.


Criado em 2011, o programa exige uma equipe de profissionais capacitada para lidar com os dependentes químicos. O grupo deve ser formado por psicólogos, assistentes sociais e monitores. Junto ao projeto, existe o Cartão Aliança Pela Vida, que disponibiliza auxílio financeiro em caráter temporário para despesas de tratamento dos usuários de drogas.


As prefeituras precisam aderir ao programa e as comunidades terapêuticas devem ser credenciadas. O usuário solicita o tratamento, passa por uma avaliação e, caso seja confirmada a necessidade de apoio terapêutico, recebe o encaminhamento e o benefício financeiro do Cartão Aliança, que vai diretamente para a comunidade em que for realizado o tratamento.


Experiências


Lucas Marra, de 33 anos, foi dependente do crack por 15. Nessa fase, chegou a fazer tratamento, mas teve uma recaída e agora está finalizando a segunda internação. Confiante de que tudo será diferente, ele credita a mudança de vida à comunidade onde realiza o tratamento. “Agradeço primeiro a Deus e segundo à comunidade terapêutica, que veio com um amor para cuidar de todos que estão em tratamento”, disse.


A instituição onde ele trata é uma das que está com o repasse atrasado. Marra lamenta a situação. “É uma falta de respeito com o próximo pois todos têm direito à vida. E temos também o direito de nossos governantes não se omitirem diante dessa situação”, frisou. Para ele, as comunidades necessitam de apoio. “Elas oferecem um suporte que dá resultados”, pontuou.


Alan Moreira, de 32 anos, também está na fase final do tratamento contra a dependência do crack. Ele teve uma reviravolta na vida após ter a oportunidade de internação em uma casa de Belo Horizonte. Atualmente, ele trabalha como monitor no espaço.


Para Alan, o trabalho desenvolvido pelas comunidades é primordial para curar o vício. “É um serviço que não pode parar e precisa de apoio, pois na instituição aprendemos a resistir à droga quando a vontade vem. Sem esse tratamento, a chance de recaída é grande”, alertou.
 

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