Passava das 20 horas do dia 1º deste mês quando Jair Gonçalves, de 48 anos, caminhava pela avenida dos Andradas, próximo ao bairro Alto Vera Cruz, na região Leste de Belo Horizonte. Ele seguia rumo a um bar para rever amigos e relaxar após mais um dia cansativo de trabalho. O encontro descontraído, no entanto, foi interrompido por um acidente de trânsito.
Jair tentava atravessar a avenida quando foi surpreendido por um veículo em alta velocidade, pilotado por um motorista inabilitado, e acabou vítima de atropelamento. Hoje, carrega no corpo as marcas deixadas pela colisão. A perna foi esmagada e o nariz, quebrado. Ele desmaiou e ficou 23 dias internado.
O drama vivido pelo auxiliar de pedreiro remete a cenas tristes e corriqueiras na capital. Na sequência da série de reportagens sobre o respeito à faixa de pedestres, o Hoje em Dia revela estatística assustadora. Em média, pelo menos sete pessoas são atropelados, diariamente, nas ruas e avenidas de BH.
Os dados, no entanto, devem ser maiores, pois levam em conta apenas quem foi socorrido e levado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS). A unidade, referência em traumas na América Latina, atendeu a 1.280 vítimas de atropelamentos só no primeiro semestre deste ano.
A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), responsável pelos dados disponibilizados pelo Detran, não tem informações consolidadas sobre o ano passado.
Além da dor
Vítimas de atropelamento enfrentam sequelas físicas e emocionais. A psicóloga Alessandra Carvalho conta que, além da dor, a vítima fica vulnerável devido à difícil recuperação. “Há pessoas que deixam de trabalhar e de fazer tarefas simples. Dependendo do caso, é necessário um trabalho psicológico, pois muitos ficam deprimidos”.
Visivelmente abatido e cabisbaixo, Jair Gonçalves deixa clara a sua preocupação. O trauma maior está na falta de esperança por dias melhores e na indignação pelo ocorrido. “A recuperação deve demorar pelo menos mais quatro meses. Não sei quando volto a trabalhar”, conta o homem, que mora com um filho e ganha R$ 600 por mês. “Ninguém dirige querendo matar alguém, mas ele (motorista) tinha que ter tido mais consideração”, diz o auxiliar de pedreiro, referindo-se à falta de assistência dada pelo condutor, que sequer compareceu ao hospital.
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