Só o metrô vai evitar colapso do trânsito de BH em 2020

Renata Galdino - Hoje em Dia
Publicado em 31/07/2014 às 07:08.Atualizado em 18/11/2021 às 03:35.
 (Cristiano Machado)
(Cristiano Machado)

As tentativas de melhorar o transporte público em Belo Horizonte, com a implantação do sistema BRT/Move, ainda estão muito aquém do que a cidade precisa. Para os próximos seis anos, as ruas terão mais carros, sem necessariamente isso representar menor demanda pelos ônibus, segundo prognóstico da própria prefeitura. Sem acesso a um sistema eficiente de transporte, a expectativa é de um colapso já em 2020.

Caso o crescimento da frota continue no mesmo ritmo verificado pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) entre 2012 e 2013, Belo Horizonte entrará na próxima década com 2,1 milhões de veículos nas ruas – 500 mil a mais que os atuais 1,6 milhão. Diante desse cenário, segundo especialistas, são urgentes investimentos em transporte de massa, principalmente no metrô.

O modelo de ônibus implantado recentemente estará novamente defasado dentro de cinco anos, diz o especialista em trânsito Márcio Aguiar, professor da Fumec. “Mesmo com mais gente usando o transporte individual, a demanda pelo ônibus aumenta, a população cresce. Várias cidades do mundo estão privilegiando o metrô, o monotrilho e o transporte de veículos leves sobre trilho, mas por aqui estamos atrasados”, afirma.

O Plano Plurianual de Ação Governamental da prefeitura é otimista. Pelo documento de metas, acredita-se que o metrô esteja pronto em 2020. As obras dependem, principalmente, de negociações entre governo do Estado e União. Nos próximos três anos, há previsão de verba para a ampliação da Linha 1, da Vilarinho ao Novo Eldorado (Contagem), e para a construção das linhas 2 (Barreiro-Calafate) e 3 (Savassi-Lagoinha).

Para alguns especialistas, o prazo dificilmente será cumprido. “São obras que demandam muito tempo. Só será possível falar quando ficarão prontas, de fato, quando for construída a primeira linha ou estação, mas o tempo de construção é superior a essa perspectiva”, enfatiza o coordenador do curso técnico em trânsito do Cefet-MG, Guilherme Leiva.

O projeto da Linha 3 ainda está na fase burocrática. Passa por análise na Caixa Econômica Federal, que aguarda o envio, por parte do Estado, de informações complementares sobre a obra. O governo justifica não ter mandado a documentação por ser um projeto de alta complexidade. Já as outras duas linhas estão com estudos prontos, mas aguardam orçamento.

Com base no Plano Diretor de Mobilidade de Belo Horizonte (PlanMob-BH), a BHTrans reconhece a possibilidade de piora no trânsito em 2020 se não houver a reversão do cenário atual. “Para isso, trabalhamos com quatro pilares que são a política sustentável de mobilidade do município”, diz o presidente do órgão, Ramon Victor Cesar.

Além do Move, considerado um sistema de transporte com bons resultados no trânsito, a prefeitura aposta nas ciclovias e no adensamento de áreas na cidade que desviariam parte do fluxo que hoje segue para o Centro.

EXEMPLOS

Grandes metrópoles do mundo investem no sistema de transporte de massa, como Seul (Coreia do Sul), onde foi possível reconstruir leitos de rios, antes transformados em avenidas. Em Belo Horizonte, a política ainda é de abrir espaço, a qualquer custo, para os carros. Um exemplo é o Boulevard Arrudas, que será ampliado nos próximos meses.

Serão empregados R$ 29 milhões na cobertura de um trecho de um quilômetro da avenida do Contorno, entre as ruas Carijós e Rio de Janeiro.

Pensado como alternativa para melhorar o fluxo de veículos, o boulevard já se mostra saturado, segundo especialistas, inclusive na obra inaugurada mais recentemente, um elevado na avenida Tereza Cristina, sobre a linha do metrô. “O tipo de intervenção não ajudou a melhorar o fluxo, que fica retido em horários de pico”, diz o urbanista Manoel Teixeira, do departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Minas.

Exemplos em outras cidades

Segundo o especialista em trânsito Márcio Aguiar, a China tem hoje um dos melhores sistemas metroviários do mundo. No Brasil, ele destaca o Rio de Janeiro e São Paulo, que estão com ampliações previstas. “O metrô de BH não funciona, é pequeno, não atende à população”, reforça.

A integração entre os modais também é fundamental para a melhoria do trânsito. Para isso, são necessários mais investimentos nos corredores do Move, da rede cicloviária e a retirada do trânsito de passagem de dentro da cidade, principalmente da área central. “Também pensando na melhoria para o pedestre. As propostas devem ser integradas”, diz o professor Guilherme Leiva.


 

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