Soluções simples garantem destaque no ideb a escolas públicas mineiras

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
Publicado em 20/09/2016 às 07:30.Atualizado em 15/11/2021 às 20:54.

Escolas públicas estaduais e municipais na capital mostram que criatividade e simplicidade permitem superar a falta de verbas para alcançar educação de qualidade. O resultado, em alguns casos, é o destaque no ranking do Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. 

A Escola Estadual Duque de Caxias vai além. Celebra agora o “pentacampeonato” na avaliação ao atingir o melhor desempenho dentre as instituições avaliadas: em 2015, a turma do quinto ano marcou 8,1, no principal indicador educacional do país.

Igualmente bem posicionada no Ideb está a Escola Estadual Pedro II, com nota 6,2 alcançada pelo nono ano. Dentre as municipais, as escolas Professora Maria Modesta Cravo e Padre Marzano Matias se destacaram nas séries finais do ensino fundamental. 

Assegurar que os alunos tenham desempenho satisfatório em português e matemática é um desafio. Cada instituição adota uma estratégia diferente. Na Duque de Caxias, no Barreiro, a ordem é inovar. 

Com sólida base no letramento e na promoção da literatura, a instituição intensifica o aprendizado de matemática. A diretora Maria Elisa Resende firmou parceria com a FDG, fundação que presta serviços na área educacional, para que os alunos do primeiro ao sexto anos utilizem a plataforma MangaHigh, que trabalha conceitos da disciplina por meio de jogos e atividades on-line.
 
Os alunos participam ainda de um projeto de literatura interdisciplinar. “Planejamos uma atividade com a família a cada livro que eles levam para casa”, explica a diretora.

Hélio Júnio de Araújo Veloso, do quinto ano, conta que as obras literárias o ajudam, inclusive, a entender conceitos de matemática. Os alunos trabalharam, por exemplo, o poema “O Último Andar”, de Cecília Meireles. “Tivemos que montar uma maquete desse andar, mostrando como o imaginamos, e vamos exibir na mostra cultural”. 

O objetivo do projeto, frisa a diretora, foi despertar o prazer em estudar. “Quando você trabalha emoção e autoestima a criança fica mais encantada com a escola”.

OUTRO EXEMPLO

Na Maria Modesta Cravo, no bairro Cidade Nova, região Nordeste da cidade, a principal aposta para assegurar a qualidade do ensino é o investimento em uma equipe forte de alfabetização e letramento. Segundo a diretora Rosane Paiva de Oliveira, outros fatores que garantem o bom rendimento da instituição são as reuniões mensais de coordenação pedagógica, em que a equipe discute soluções para entraves que dificultam a aprendizagem, além da integração das famílias à escola. 
 

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INCENTIVO – Alunos da Padre Marzano Matias são estimulados a frequentar a biblioteca


Gestão, infraestrutura adequada e condições socioeconômicas dão o tom do sucesso

Trabalho integrado de gestão e coordenação da equipe pedagógica e de professores, infraestrutura adequada e boa condição socioeconômica das famílias dos estudantes. Esses são, de acordo com especialistas, os ingredientes para os índices alcançados por essas escolas no Ideb.

“Os resultados educacionais precisam ser pensados de modo contextualizado. Há relação muito estreita entre desempenho e o nível socioeconômico da comunidade. As escolas que se destacaram são mais tradicionais, bem localizadas, e, de modo geral, atendem um público de regiões mais valorizadas economicamente”, pondera a professora Flávia Xavier, da Faculdade de Educação da UFMG.

A especialista diz ainda que não há exatamente receita a ser seguida para garantir o bom desempenho, mas destaca a importância de os professores motivarem os alunos a estudar e acreditarem que eles são capazes de progredir. Para a pesquisadora, uma pedagogia apropriada não só aborda conteúdos avaliados pelo indicador, como proficiência em português e matemática, mas também “promove a autonomia do educando para que ele desenvolva habilidades para viver em sociedade”.

AMBIENTE

O entorno violento, a distância do centro e a alta rotatividade do corpo docente são entraves para que uma escola periférica consiga melhorar a qualidade da aprendizagem.

Flávia Xavier reforça que a metodologia adotada pelo Ideb não deve ser utilizada para ranquear e contrapor desempenhos de instituições em contextos socioeconômicos distintos. 

“E a escola de periferia que está melhorando e não aparece nas primeiras posições? Não está no topo, mas foi melhorando ao longo dos anos. Ela precisa ser apoiada e valorizada para chegar no padrão de um colégio como o Pedro II”.

Projetos culturais e disciplinas optativas orientam a grade

Na Escola Estadual Pedro II, que conquistou a melhor nota do nono ano no Ideb entre as escolas públicas de BH, as atividades multidisciplinares também orientam a grade curricular. Com uma proposta de carga estendida, todos os estudantes da faixa têm sexto horário e um contraturno durante a semana. A diretora Cristiane Michelle Justi conta que, desde 2010, os alunos trabalham com projetos culturais e disciplinas optativas, além das matérias regulares.
 

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PERCUSSÃO – Aulas de música ajudam no aprendizado dos alunos na Escola Estadual Pedro II; a disciplina é oferecida para todos os alunos do sexto ao nono anos



Em 2016, os estudantes podem escolher cursar redação e desenho geométrico como disciplinas eletivas. Além disso, todos os alunos do sexto ao nono anos participam de quatro projetos: aulas de Espanhol, música, ética e cidadania e educação patrimonial. Essa última trata de questões históricas da estrutura do colégio, que funciona em um prédio inaugurado há 90 anos e tombado pelo patrimônio.

História

Nas aulas de educação patrimonial, os alunos leem e analisam documentos históricos da época da fundação da Pedro II. “É um projeto para que os alunos se apropriem da história do lugar onde estudam, entendam as mudanças pelas quais o prédio passou e tomem consciência da presença deles nesse espaço”, conta a professora Tatiane Mendes Correia. “Isso ajuda a trabalhar tanto leitura e interpretação de texto quanto desenvolvimento de senso crítico. Estamos promovendo uma alfabetização cultural do adolescente, em que ele aprende a ler documentações e imagens”, completa.

Cristiane lembra que o projeto é sempre remodelado a medida em que são contratados novos professores. Já fizeram parte da grade curricular as disciplinas de teatro, dança, contação de histórias e jogos matemáticos. Ela acredita que o modelo adotado pela Pedro II pode ser expandido para outras escolas da rede estadual. “Por isso, investimos em capacitação de professores e análise de resultados. Elas são fundamentais para sabermos onde estamos e para onde vamos”. 

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