Sujões ao volante emporcalham BH, transformando ruas em lixeiras

RENATO FONSECA - Hoje em Dia
19/03/2014 às 06:59.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:42
 (Marcelo Prates)

(Marcelo Prates)

No cruzamento da avenida do Contorno com rua Floresta, na região Leste de Belo Horizonte, não é raro flagrar um motorista jogando pela janela do carro os tradicionais panfletos com anúncios de imóveis, distribuídos quando o sinal está fechado. Nas vias da região Central, o ato de desrespeito também é comum, principalmente o arremesso de uma bituca.

Considerada uma das cenas mais revoltantes no trânsito, jogar lixo ou objetos para fora do veículo é infração média e rende multa de R$ 85,13. O “porcalhão” ainda perde quatro pontos na carteira de habilitação, conforme prevê o artigo 172 do Código de Trânsito Brasileiro.

Na quarta reportagem da série sobre incivilidade nos corredores viários, o Hoje em Dia mostra que 293 condutores foram autuados em BH após transformar as ruas em lixeiras, em 2013. No ano anterior foram 405.

Mudança de foco

A queda de quase 30% na infração, no entanto, não significa que os motoristas estão mais conscientes. “Com exceção da campanha em respeito ao pedestre, não foram realizados em Belo Horizonte projetos de educação para conscientizar as pessoas em relação a outras irregularidades, como jogar lixo na rua. Sendo assim, esse índice inferior pode sugerir que houve mudança no foco da fiscalização”. A análise é do especialista em educação para o trânsito, Ricardo Batista.

Instrutor de autoescola há dez anos e à frente do Movimento de Reformulação na Educação de Trânsito de Minas, criado em janeiro deste ano, ele acredita que os fiscais podem ter priorizado outras infrações. “Estamos convivendo com muitas alterações de circulação na capital. Talvez os agentes estejam mais focados em orientar ou dar mais fluidez ao tráfego da cidade, deixando de lado penalidades que precisam ser punidas, como essa”, acrescentou.

Ricardo Batista reforça o coro de que a busca pela civilidade no trânsito é um processo de longo prazo, que requer aprendizado desde cedo, na rede de ensino, e fiscalização atuante. “Infelizmente, os atos de desrespeito são uma questão cultural. As pessoas ainda não têm noção dos próprios erros. Punir os infratores é importante, mas só apertar o cerco não resolve. O trabalho de conscientização deve ser amplo e constante”.

Para a polícia, a queda nas estatísticas ainda precisa ser avaliada com mais critério. O assessor de comunicação do Batalhão de Trânsito (BPTran), tenente Nagib, garante que não houve “vista grossa” por parte dos fiscais. Na sua visão, quem já foi multado “jamais vai cometer o mesmo erro”. “A polícia tem atuado e, quando constada a irregularidade, os infratores são multados. Outro entrave é que esta é uma infração difícil de ser flagrada”, disse o militar.

Tempo curto de aprendizado

O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que os candidatos a uma carteira de habilitação façam 45 horas de aula teórica de legislação. O tempo é considerado curto pelas próprias autoescolas. No caso do exame prático de direção, a situação se repete. Segundo o Departamento

Nacional de Trânsito (Denatran), a pessoa só pode ser examinada nas ruas após completar, no mínimo, 15 aulas de 50 minutos.

“A pessoa chega até a autoescola com o único objetivo de tirar a carteira. O prazo que temos para ensinar se limita a repassar questões básicas, nas quais o candidato vai, apenas, decorar as leis. O novo motorista só aprende a dirigir e ter maldade no trânsito com o passar do tempo”, afirmou o educador e instrutor de autoescola, Ricardo Batista.

Segundo ele, a legislação deveria ser reformulada, incluindo mais carga horária. “Questões relativas ao comportamento como, por exemplo, a educação, não se aprende só na autoescola. Isso é uma questão cultural. Mas, claro, mais tempo dentro da sala e a obrigatoriedade de se explorar mais a educação no trânsito é fundamental”, acrescentou o instrutor.
 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por