Sujeira em embalagens impede reciclagem em BH

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
Publicado em 31/10/2014 às 08:19.Atualizado em 18/11/2021 às 04:50.
 (Carlos Rhienck)
(Carlos Rhienck)

A falta de informação tem levado a boa vontade de muita gente para o lixo comum de Belo Horizonte e da região metropolitana. Embora disposta a reciclar materiais usados no dia a dia, parte da população ignora a necessidade de limpar as embalagens que são descartadas, o que inviabiliza o reaproveitamento.

Atualmente, cerca de 50% do lixo que chega aos galpões de reciclagem são descartados e reencaminhados aos aterros, o que resulta em desperdício de tempo e encarecimento do processo, de acordo com o doutor em saneamento, meio ambiente e recursos hídricos José Cláudio Junqueira, professor da Universidade Fumec.

“A prefeitura faz a coleta seletiva – que naturalmente gera mais custos, porque as viagens até os galpões são feitas com uma carga menor do que as convencionais – e, quando chega à triagem, ela é rejeitada. Um copo de iogurte sujo vale menos do que um limpo e não compensa investir na limpeza dele, por causa da inviabilidade econômica”, explicou Junqueira.

Lacunas

Outro entrave à reciclagem é a falta de empresas especializadas no processamento de determinados materiais. É o caso, por exemplo, do isopor, comumente utilizado em embalagens de alimentos e em isolamentos acústicos. Poucos sabem, mas trata-se de um tipo de plástico 100% reciclável.

“Hoje, possuímos muitos itens feitos com esse material, mas não encontramos com facilidade indústrias que façam o processamento dele. Em Belo Horizonte, temos tido problemas, também, com a destinação dos vidros pelo mesmo motivo”, disse o professor.

Segundo ele, apenas latas de alumínio, garrafas PET e papel/papelão têm sido adequadamente aproveitados – e valorizados – no mercado, mas, ainda assim, falta informar à população sobre algumas particularidades.

“Não devemos colocar na coleta seletiva papel carbono nem papel plastificado. O mesmo vale para as latas de alumínio que contêm produtos químicos, como tintas, solventes e graxa, porque são contaminadas e comprometem o restante do lixo”.

No caso de materiais mais complexos, como os eletroeletrônicos, o desconhecimento implica em riscos ainda maiores. principalmente diante do atraso na aplicação da Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

De acordo com a legislação, fabricantes, distribuidores e revendedores tornam-se responsáveis pelo encaminhamento correto dos materiais recicláveis. Mas, até hoje, não foram feitos acordos setoriais para a prática do texto (apenas para embalagens de óleo lubrificante). “Os eletrônicos têm materiais nobres, mas também têm outros que são contaminantes a quem os manipula e ao meio ambiente. É preciso cuidado e tecnologia para separá-los”, disse o professor da Fumec.

Ação na UFMG incentiva a coleta seletiva

Para conscientizar as pessoas sobre a importância de separar corretamente o lixo que pode ser reciclado – e sobre as condições em que ele deve ser dispensado –, integrantes da empresa júnior Mult Jr., do curso de Engenharia Química da Universidade Federal de Minas Gerais, criaram quatro pontos de coleta dentro do campus, durante uma semana.

A proposta era despertar a atenção da comunidade acadêmica para as possibilidades de reaproveitamento, principalmente as menos conhecidas. Durante a ação, as lixeiras foram divididas em três categorias: saúde bucal, maquiagem e escritório.

“As pessoas não sabem, mas uma escova de dentes tem vários tipos de plásticos diferentes. As embalagens de esmalte geralmente são descartadas nas coletas de vidro e de plástico, mas o material é perdido se não for limpo”, disse a integrante do Núcleo Social da Mult Jr., Marina Faria. Todo o material recolhido na campanha dos alunos será encaminhado a uma empresa de São Paulo especializada no reaproveitamento desse tipo de resíduo.

Rejeição anual chega a 340 mil toneladas

Com a coleta seletiva ainda tímida em Belo Horizonte, 

a capital soterra, a cada ano, junto aos resíduos comuns, cerca de 340 mil toneladas de papel, vidro, plástico e
metal que poderiam ser reciclados.

Se o reaproveitamento desse material fosse feito integralmente na cidade, a economia anual seria de R$ 14,6 milhões – e aumentaria a vida útil do aterro de Sabará, na Grande BH, para onde o lixo é levado.

Hoje, a coleta seletiva em BH chega a apenas 34 dos 487 bairros (7%). Apenas 0,4% do material descartado é efetivamente reciclado. 

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