"Teste" com plataforma do BRT saiu por R$ 1,8 milhão

Patrícia Santos Dumont e Raquel Ramos - Hoje em Dia
11/05/2013 às 07:31.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:35

O custo estimado da plataforma do BRT (Transporte Rápido por Ônibus) demolida na avenida Cristiano Machado, na quinta-feira (9), supera R$ 1,8 milhão. O valor corresponde ao montante necessário para fabricar, transportar, montar e implantar cada uma das 12 estações previstas ao longo da via, conforme projeto apresentado à Prefeitura de Belo Horizonte.

O prefeito Marcio Lacerda garantiu, na sexta (10), que não haverá ônus para o município. Em entrevista ao radialista Eduardo Costa, afirmou que nem um centavo sairá do “imposto nosso de cada dia”.

A destruição do módulo foi mostrada com exclusividade pelo Hoje em Dia. Na sexta, a construtora responsável pela execução da obra jogou na própria conta o prejuízo com a intervenção. Mas a justificativa de que pôs no chão apenas um “protótipo” causa estranheza em especialistas.

“Quem construiria duas casas, sem nenhum custo adicional, para que o proprietário avalie qual é a melhor?”, questiona Pollyanna Veras, diretora do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape-MG).

Especialista em patologia em edificações, a arquiteta não descarta a possibilidade de que o valor do suposto protótipo já estivesse embutido no contrato entre a empresa e a prefeitura. “Mas a confirmação depende da leitura desse documento”, diz.

O discurso de que a plataforma serviria somente como “modelo” não bate com a explicação dada por operários que, com uma retroescavadeira, a demoliram. Na sexta, eles voltaram a afirmar ao Hoje em Dia que erros de engenharia condenaram a estrutura: a altura seria inferior à ideal, deixando as portas dos ônibus desniveladas em relação ao piso da estação. Uma passarela próxima também poderá ser demolida, segundo os trabalhadores.

O presidente do Instituto Mineiro de Engenharia Civil (Imec), Marcelo Fernandes, chama atenção para a forma como as obras foram conduzidas e afirma que “testes” não são praxe.

“Não existe a condição de se fazer um ‘experimento’ com a construção de um empreendimento. Em qualquer obra, a primeira coisa a se fazer é avaliar o projeto e aprová-lo para só então partir para a execução”, explica.

Mesmo se a hipótese do “protótipo” for procedente, não ficará livre de críticas. “Qualquer construção por tentativa gera desperdício de dinheiro, tempo e material”, diz a arquiteta Pollyanna Veras.

Obra começa um ano antes de o projeto ficar pronto*

Antes mesmo de ter o planejamento concluído, as obras do BRT da avenida Cristiano Machado já eram realizadas. O projeto executivo do empreendimento foi assinado em 1º de julho de 2010 e concluído em 6 de agosto de 2012 – após quatro pedidos de prorrogação do prazo, feitos pela empreiteira.

Os adiamentos não inviabilizaram a assinatura da ordem para a execução dos trabalhos. Ela foi dada em 26 de julho de 2011, ou seja, um ano antes de todo o projeto ser apresentado à PBH.

Já a instalação das plataformas de embarque começou seis meses depois, em 13 de janeiro de 2012.

Na avaliação do presidente do Instituto Mineiro de Engenharia Civil (Imec), Marcelo Fernandes, o descumprimento de uma “sequência lógica” para realização da obra poderia explicar a sequência de falhas no produto final.

“O projeto é realizado e aprovado justamente para orçar e estudar as possibilidades de erro durante a execução da obra. Se há uma inversão das coisas, ou seja, se a licitação e a escolha da empresa para realizar as intervenções é feita antes mesmo de um estudo detalhado ser finalizado, certamente a chance de problemas será muito maior”, afirma.

Explicação

O Ministério Público Estadual irá encaminhar um ofício para que a Prefeitura de Belo Horizonte explique o que motivou a demolição da estrutura e se houve erro.


*Com Gabi Santos e Bruno Moreno

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