Torneiras secas causam debandada em Governador Valadares

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
Publicado em 14/11/2015 às 08:38.Atualizado em 17/11/2021 às 02:28.

Cidade que vinha enfrentando problemas de abastecimento em função do baixo nível do rio Doce – principal fonte de água do município – Governador Valadares, no Leste de Minas, agora, com as torneiras secas, passa por um êxodo urbano. A interrupção do serviço devido à contaminação do manancial por rejeitos de mineração e a falta de uma perspectiva de normalização têm levado moradores a deixar a cidade.

Para piorar, o que seria um alento caiu como uma bomba. O primeiro carregamento de água, com 300 mil litros captados na vizinha Ipatinga e levados de trem para os valadarenses, seria distribuído na cidade, mas chegou contaminado com querosene,segundo a prefeitura. A água foi descartada e outras quatro cargas chegariam ainda na noite de ontem.

Por meio de nota, a Vale informou que os vagões nunca transportaram querosene.

Transtorno

A notícia foi um banho de água fria para moradores como a servidora pública Kamila Oazen, de 36 anos, que deixou a cidade ontem por causa da falta d’água. “Tudo isso é muito estressante. Nossa rotina mudou completamente. Desmarcamos compromissos e não posso, por exemplo, ir à academia, pois não sei terei água em casa quando voltar”.

Kamila deve ficar em Ipatinga, na casa de amigos, pelo menos até a próxima terça, quando retorna ao trabalho, que está funcionando em regime de rodízio. “E vou fazendo assim, de lá para cá, até as coisas voltarem ao normal”, diz.

Assim como ela, a administradora Tarcila Oliveira Monteiro, de 30 anos, já vê como real a possibilidade de deixar a casa onde vive com o marido e três filhos. Por enquanto, a família dribla o problema com o restinho que sobrou na caixa d’água e com os 15 mil litros da piscina.

“Vou esperar até amanhã (hoje) para ver se teremos boas notícias. Mas é bem provável que não”, diz, adiantando que irá com as crianças mais novas pra Bocaiuva, no Norte de Minas, onde mora a mãe e a avó, numa espécie de férias forçadas.

O marido dela e a filha de 10 anos, que não pode abandonar a escola, continuam em Valadares.

Sozinha em casa, depois que os pais decidiram se mudar provisoriamente para Teófilo Otoni, no Vale do Jequitinhonha, a administradora Rochelli Goulart Ottoni Ramos, de 34 anos, vai aproveitar o fim de semana para tentar pôr a vida em ordem.
 
Com a água racionada em casa, suficiente apenas para beber e tomar banho, ela irá hoje para a casa de amigos. “Não estou limpando casa nem lavando roupa. E também optei por comer fora. O banho é praticamente de gato, sem lavar o cabelo”, detalha a rotina sacrificante.

Moradores de Governador Valadares deixam a cidade

Rochelli vai se hospedar na casa de parentes, em Teófilo Otoni. (Foto: Leonardo Morais/Hoje em Dia)

Atitude precipitada

Apesar de tudo isso, o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) do município, Omir Quintino, considera precipitada a atitude dos moradores que decidiram deixar Valadares e diz que, apesar da gravidade do problema, as expectativas são boas.

“É lógico que uma catástrofe dessa natureza coloca todo mundo apavorado, mas as pessoas estão se precipitando. Vamos restabelecer o tratamento e o consumo nos próximos dias”, garantiu.

Comerciantes adotam medidas emergenciais para manter portas abertas e reduzir prejuízos

No comércio da cidade, os reflexos negativos também já são realidade. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) estima resultados até 50% inferiores aos do fim do ano passado. A recomendação é para que os comerciantes mantenham as portas abertas pelo maior período possível.

Dona de uma clínica de estética, a fisioterapeuta Lílian Câmara Libório Abrantes, de 35 anos, estocou água no estabelecimento para conseguir cumprir a agenda. Não sabe, porém, até quando será possível realizar o atendimento. “Consegui água com um amigo que tem poço artesiano, mas não sei até quando será suficiente”, lamenta.

Assim como ela, o empresário Frederico José Rodrigues da Paixão, que é dono de um bar, precisou adotar medidas emergenciais para manter as atividades e não ter prejuízos. Pratos, talheres e copos foram substituídos por materiais descartáveis e cerca de 40% dos produtos oferecidos foram eliminados do cardápio. “Usamos a água da caixa apenas para cozinhar e beber. Os registros dos banheiros foram fechados e a descarga só é dada de hora em hora. Infelizmente, tivemos que nos adaptar ao problema”, comenta.

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