Tragédia em Brumadinho: Norte em luto e solidário

Manoel Freitas
01/02/2019 às 17:18.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:21
 (Manoel Freitas)

(Manoel Freitas)

“No momento de maior felicidade de minha vida, a Vale destruiu nossa família”. O lamento é de Meiriane Oliveira Costa, de 24 anos, viúva de Daniel Muniz Veloso, de 29 anos, norte-mineiro vítima da tragédia em Brumadinho. O casal esperava a chegada do primeiro filho, Artur Eduardo, cujo parto está previsto para 20 de fevereiro.

O corpo de Daniel, um dos primeiros a serem identificados entre as vítimas fatais na área tomada pelo rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, que aconteceu na última sexta-feira (25), chegou na segunda-feira a Coração de Jesus, terra natal do operário, onde foi velado e depois sepultado no Cemitério Recanto da Paz.

Ontem, mais uma pessoa do Norte de Minas foi identificada entre as vítimas. O montes-clarense Renato Vieira Caldeira, de 41 anos, que há 13 trabalhava na Vale como técnico ambiental. O sepultamento ocorreu em Belo Horizonte, onde residia há 30 anos. Casado, Renato deixa a esposa e dois filhos.

Um terceiro funcionário da empresa, também de Montes Claros, continua desaparecido: o supervisor de elétrica, Júlio César Teixeira Santiago. O rompimento da barragem já provocou a morte de 110 pessoas e 238 ainda estão desaparecidas.

 DOR DA AUSÊNCIA

Bastante emocionada, a viúva de Daniel contou a O NORTE que ele “era um ser humano extraordinário, trabalhador, sempre preocupado com a família”. “Ele me ajudava em tudo. Fizemos o planejamento para ter o Artur (pausa), tínhamos arrumado tudo, feito o quartinho dele”, prosseguiu, com a voz embargada, lembrando que o esposo “era uma pessoa exemplar, nunca deixou faltar nada dentro de casa e me ajudou a fazer faculdade, me formar em Serviço Social”.

Meiriane, que precisa de um acompanhamento especial da gravidez, pois está com diabetes gestacional, está amparada pela sogra Rosimar Muniz e pelos padrinhos do Artur. “Eu não tenho mais forças não. A gente casa com uma pessoa achando que vai viver para sempre e, agora, ele morre, me deixando com 24 anos de idade, iniciando a vida ainda”.

Meiriane Oliveira lembra que estava marcada para amanhã uma sessão de fotos em estúdio. “E o rompimento da barragem leva toda a nossa felicidade”.

Moradora do bairro Independência, em Montes Claros, a tia de Daniel, Valdirene Ferreira Ribeiro, de 41 anos, diz que, desde o rompimento da barragem, conversa várias vezes ao dia com Meiriane. “Ela me revelou que ele não trabalharia na sexta-feira, quando rompeu a barragem, mas como o carro quebrou um dia antes, teve a infelicidade de estar no local na hora da tragédia”.Arquivo Pessoal / N/A

Daniel e Meiriane esperavam a chegada do primeiro filho

BOMBEIROS EM AÇÃO

Responsável pelo atendimento de 80 municípios no Norte de Minas, o 7º Batalhão de Bombeiros Militar, com sede em Montes Claros, enviou ontem uma equipe com nove militares para auxiliar nas buscas dos desaparecidos após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Segundo o comando da corporação, serão disponibilizados equipamentos, como escavadoras, capazes de operar na chamada zona quente, ou seja, no entorno da principal área atingida.

De acordo com assessoria de comunicação da corporação, os militares enviados para o município “possuem especialização em busca e resgate em estruturas colapsadas, salvamento em soterramentos, enchentes e inundações”.

A Defensoria Pública de Minas Gerais está atendendo, gratuitamente, familiares de atingidos que tenham dúvidas sobre cadastro e recebimento da doação anunciada pela Vale. A empresa comunicou que irá destinar R$ 100 mil por cada parente morto ou desaparecido na tragédia.

O cadastro, que começou ontem, vai até 5 de fevereiro. Os defensores estarão disponíveis para consultas todos os dias, de 8h às 18h, nos dois postos de atendimento (Estação do Conhecimento e Centro Comunitário do Córrego do Feijão). Conforme o defensor público Rômulo Luis Veloso de Carvalho, eles farão, inclusive, reconhecimento de união estável para aqueles que não eram casados no cartório.Arquivo Pessoal / N/AO corpo de Renato Vieira Caldeira foi identificado e sepultado na capital mineira

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