Análises feitas pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) em Governador Valadares, no Leste do Estado, comprovaram que a água turva que desce o rio Doce não pode ser tratada para o consumo. Desta forma, não há previsão para o reinicio da captação e abastecimento da cidade. Com os reservatórios vazios, o Saae colocou 21 caminhões pipa na estrada na manhã desta terça-feira (10) para buscar água em Ipatinga (100 kms) e Frei Inocêncio (40 kms).
Segundo o diretor do Saae, Omir Quintino, as análises detectaram turbidez e condutividade e a presença de metais como alumínio, ferro e manganês. Com esforço, até poderiam ser tratados, não fosse a grande quantidade concentrada. “Nossas análises mostraram que a turbidez da água está em 21,8 mil Unidades Nefelométrica de Turbidez (UNT), quando a resolução do Conama limita em até 100. A presença de de ferro está em 37 miligramas por litro (mg/L), quando o ideal seria 0,3 ”.
Novos laudos, desta vez encomendados pela autarquia a quatro laboratórios diferentes como Copasa e Funed saem nesta quarta-feira (11) e devem esclarecer se a água tem metais pesados, como o mercúrio. O monitoramento que vem sendo feito no rio Doce mostra que a lama está mais densa, e que a “pluma” começou a passar por Valadares na madrugada desta terça-feira (10), 16 horas depois do previsto. Com isso, a situação se agravou.
Além da falta de água nas torneiras e de água mineral nos depósitos, peixes apareceram boiando em toda a extensão urbana do rio Doce, e o mal cheiro pode ser sentido em grande parte da cidade. Várias pessoas solidárias se mobilizam para salvar os que agonizam, transferindo-os para pequenos poços formados entre as pedras, ainda não atingidos pela lama. O funcionário público Adair Alves, de 54 anos, era um deles. “Não gosto nem de pescar porque tenho dó deles. Imagino-me sem ar e sem alguém para me socorrer”.
DESABASTECIMENTO
A prefeita Elisa Costa (PT) alertou nesta terça-feira que a água no reservatório havia acabado, como previsto, e pediu que a população economize mais ainda, priorizando o consumo e o banho. “Vamos precisar de muita solidariedade, com uns ajudando os outros. Quem tem um pouco mais vai ter que ajudar, dividir com quem não tem para que a vida seja priorizada. A água e para o consumo e banho, nada além disso”, alerta.
Treze dos 21 caminhões pipa que estão em busca de água tratada para Valadares foram cedidos pela Samarco. A prioridade será atender as unidades de saúde, escolas públicas e abrigos, nesta ordem. Mas o Plano de Emergência lançado ontem (9) está sendo reavaliado e ampliado para que seja encontrada uma forma de atender também os demais moradores que até la vão ter que se virar com o que conseguiram armazenar em casa. A princípio, as aulas para 25 mil estudantes nas escolas públicas não serão suspensas.
Segundo Omir Quintino, para atender os 280 mil habitantes de Valadares, seriam necessários mais de 300 caminhões pipa. Inicialmente a prefeitura exigiu 60 caminhões a Samarco, mas agora quer 80. “De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a média diária do consumo humano é de 200 litros de água por pessoa. Nem com 300 caminhões pipa conseguiríamos isso”, analisa.
INDENIZAÇÃO
”Essa é a maior tragédia ambiental, social e ecológica de Minas Gerais e, com certeza, de Governador Valadares. E também nosso maior desafio. A grande responsável por esse momento que estamos vivendo e a Samarco, empresa mineradora que provocou prejuízos imensos às cidades, pessoas, ao rio Doce e a vida. Vamos exigir indenização de tudo o que for prejuízo para Valadares e a Bacia Hidrográfica do Rio Doce”, diz a prefeita.