Um espaço de lazer, mas sem esquecer a fé

Renato Fonseca - Hoje em Dia
25/10/2014 às 08:41.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:45
 ( Jesu Joptemar Damacena e Frederico Haikal)

( Jesu Joptemar Damacena e Frederico Haikal)

Às 5h15, antes do nascer do sol, as primeiras orações. No decorrer do dia, pelada no campo de futebol e brincadeiras na piscina. No fim da tarde, caminhada e à noite, reza do terço em latim. A rotina era bastante movimenta na casa de campo do Seminário Redentorista de Congonhas.

Erguida em meados do século passado, em um vale do distrito de Miguel Burnier, a 40 quilômetros do Centro de Ouro Preto, o templo religioso ficou submerso por 38 anos após a construção de uma barragem. A ruínas da construção voltaram à tona com a longa temporada de estiagem, conforme o Hoje em Dia mostrou na edição dessa sexta-feira (24).

Idealizador do projeto Estação Cultura, que luta pela valorização do patrimônio mineiro, o historiador Marco Antônio de Almeida Costa conta que a casa de campo pertencia a padres redentoristas de Congonhas, também na região Central.

Os religiosos ganharam um terreno de aproximadamente 10 hectares, aos pés da Serra de Ouro Branco, de um coronel aposentando do Rio de Janeiro. Lá, por volta de 1945, foi iniciada a construção da casa de descanso. A edificação tinha dois andares. Refeitório e capela ficavam na parte de baixo. Em cima, dormitório e sala da diretoria.

Temporada

O espaço era frequentado três vezes por ano, nos meses de maio, setembro e dezembro. A maioria das turmas era formada por 80 jovens, mas há relatos de lotação máxima com até 150 pessoas. No restante do ano, a casa ficava vazia, sendo apenas vigiada por um zelador.

Quem viveu esta época se emociona ao recordar as boas lembranças. Aos 13 anos, José Maria Drumond, então seminarista da Ordem Redentorista, teve seu primeiro contato com a casa de campo. “Era um lugar para o descanso e lazer. Todos adoravam ir para lá”, recorda o homem, que hoje tem 69 anos e é irmão do ator José Mayer, que também frequentou o local.

A mesma empolgação, porém, deixa de existir ao falar da atuação situação do templo submerso. “É com muita tristeza que vejo um monumento como esse, parte importante da história de Minas, debaixo d’água. Na época, as pessoas deveriam ter lutado para evitar esse lamentável fato”, afirma.

Fim da linha

Em 1972, o Seminário dos Redentoristas de Congonhas teve as atividades encerradas e a casa de campo foi vendida a um grupo de empresários de Belo Horizonte. Eles sonhavam construir um hotel no local. A ideia não prosperou e, anos depois, foi feita a desapropriação para a criação do lago, que abasteceria uma usina da Açominas. Em 1976, a casa de campo foi submersa.

Um ofício será enviado pelo projeto Estação Cultura à Gerdau, hoje dona do espaço, solicitando a construção de um memorial. “A história voltou à tona e não pode ser ignorada. Sabemos que é praticamente impossível recuperar o espaço, devido ao local onde está. Porém, uma alternativa é prestar uma homenagem ao templo religioso, mesmo que em outro local”, afirma o historiador Marco Antônio.

Visitação restrita por mineradora

O lago foi construído para utilização na produção industrial da usina de Ouro Branco, da Gerdau. A água é reciclada em quase 100%. Por questões de segurança industrial, a empresa informa que a área não está aberta a visitação. Somente deve ser acessada por pessoas autorizadas, com equipamentos de segurança e treinadas.

O distrito de Miguel Burnier localiza-se na divisa de Ouro Preto, Ouro Branco e Congonhas. O lago Soledade fica aos pés da Serra de Ouro Branco.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por