O oncologista André Murad chama a atenção para a realização de análises clínicas periódicas, a fim de detectar estágios precoces de câncer
Segunda causa de morte no Brasil, o câncer pode acometer qualquer pessoa, independentemente de gênero, etnia ou idade. O que irá diferenciar maiores ou menores chances de ter a doença é, principalmente, o estilo de vida, a carga genética favorável ao desenvolvimento da enfermidade e os fatores ambientais a que o indivíduo está exposto.
Pesquisas estimam que entre 70% e 75% dos casos de câncer no mundo resultam de exposição a agentes biológicos, físicos e químicos. Vírus como o HPV e bactérias, a exemplo da Helicobacter pylori (H.Pylori), fazem parte dos biológicos. Dentre os físicos estão a exposição ao sol de forma inadequada, e na seção dos químicos estão tabagismo, alcoolismo e poluição.
“Todas as nossas células sofrem agressões diárias. Mas, o organismo é tão inteligente, que temos genes autorreparadores. Porém, se o ataque é contínuo, a autorreparação vai cessar”, explica o oncologista André Murad, diretor da Personal Oncologia de Precisão e Personalizada.
Prevenção
O Dia Mundial do Combate ao Câncer, celebrado em 8 de abril, chama a atenção para a importância de cultivar hábitos saudáveis para prevenir a doença.
“De uma forma geral, esses costumes podem proteger de 27% a 30% dos casos. Um a cada três dos tipos mais comuns em nossa sociedade, como os cânceres de próstata, mama e cólon, poderiam ser evitados com hábitos que primem pela qualidade de vida”, destaca a oncologista Mirielle Nogueira Martins da Oncomed-BH, clínica especializada na prevenção e no tratamento das doenças neoplásicas.
Os especialistas apontam como prioridade máxima a interrupção do tabagismo (cigarro, charuto, maconha, etc) ou não iniciar a prática.
“A ocorrência dos cânceres de pulmão, boca, pâncreas e bexiga, por exemplo, está diretamente ligada ao fumo”, ressalta André Murad. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 90% dos casos de câncer no pulmão são causados pelo tabagismo. Cerca de 30% das mortes resultantes de outros tipos de câncer estão ligadas ao fumo.
Em relação ao álcool, a preocupação passa tanto pela potencialização que ele causa sobre os males do cigarro, quanto pela incidência de tipos da doença, como esôfago e intestino. “Inclusive, uma das explicações para o crescimento de casos de câncer de mama é o aumento do consumo de bebidas alcoólicas pelas mulheres. O risco maior está nos destilados”, observa Murad.
“Cânceres como o de intestino grosso, mama, endométrio, rim e esôfago têm sido relacionados à obesidade. Normalmente estão associados a alterações nos hormônios sexuais estrógeno, progesterona e androgênios, além dos altos níveis de insulina”
Alexandre Fonseca
Oncologista da Oncomed-BH
Alimentação
Ingerir alimentos industrializados, enlatados, embutidos e defumados é uma consequência da vida moderna e da falta de tempo para preparar carnes, frutas, verduras e legumes in natura. Contudo, a prática é condenada pelos oncologistas por ser altamente cancerígena.
Para Mirielle Martins, esse é um dos pontos cruciais para se levar em consideração. “Já foi orientado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que consumir 300 gramas de carne processada por semana eleva em 18% o risco de desenvolver um câncer”.
Evitar os alimentos pré-prontos colaborará para a manutenção do peso. A obesidade é um dos grandes fatores de risco. Somente no Brasil, os índices atingem mais da metade da população, sendo 59,8% de mulheres e 57,8% de homens com sobrepeso.
Higiene
Bons hábitos de higiene também auxiliam na prevenção do câncer, afirma André Murad. “Não só lavar as mãos e higienizar o corpo, principalmente as partes íntimas, mas, lavar os alimentos antes de consumi-los e acondicionar corretamente a carne branca ou vermelha comprada fresca no congelador são atitudes que ajudam a diminuir as chances de câncer”, informa.
Diagnóstico precoce da doença aumenta chances de sobrevida
A hereditariedade tem papel fundamental no estudo das causas do câncer. Famílias que possuem membros acometidos pela doença podem obter um diagnóstico precoce e devem ser orientados por um médico a fazer exames periódicos.
“Hoje, é possível verificar a predisposição, que pode chegar a 30%, por meio do sequenciamento genômico. E, aí sim, fazer um trabalho preventivo”, explica o oncologista André Murad, que cita o exemplo da atriz Angelina Jolie, que realizou mastectomia dupla ao descobrir a possibilidade de desenvolvimento da doença.
“É claro que as cirurgias redutoras de risco para câncer são processos radicais feitos de forma mais rara. O rastreamento pode ser mantido por meio de exames de imagem”, completa Murad.
Números
Como a medicina trabalha com estatísticas, existe uma definição de exames periódicos feita a partir dos números que relacionam incidência da doença a gênero e idade, por exemplo.
“No caso das mulheres, a mamografia é recomendada a partir dos 45 anos. Na mesma faixa etária, os homens devem realizar o exame de toque (para próstata). O câncer é uma doença degenerativa, por isso prevalece entre os mais velhos, principalmente os idosos”, relembra Mirielle Martins da Oncomed-BH.