A falha no sistema de freios que provocou o acidente envolvendo um ônibus no Barreiro, em fevereiro deste ano, deixando cinco mortos e 18 feridos, lança um alerta para as condições dos demais coletivos que rodam pelas ruas da capital. Quase metade dos veículos apresentaram irregularidades após inspeção feita pela BHTrans.
De janeiro a março, 2.157 ônibus foram avaliados e exatos 1.033, multados. Durante a fiscalização, 79 itens são checados, como todos os equipamentos de segurança. Dentre os principais defeitos está a condição dos pneus, que pode colocar em risco a vida de quem utiliza o sistema. Problemas recorrentes também foram constatados nos elevadores, freio de porta e placas indicativas de itinerário.
Fora
Quando a inconformidade é grave, a autorização de tráfego é recolhida. Nesses casos, além da multa à empresa responsável, o veículo é retirado de circulação até que a irregularidade seja corrigida. Só no primeiro trimestre foram 425 registros. A BHTrans não divulgou o comparativo do mesmo período do ano passado. Foi informada apenas a média mensal de recolhimentos, que passou de 48 em 2017 para 141 em 2018, quase três vezes mais.
Segundo o gerente de Auditoria e Operações de Transportes da autarquia, Artur José Dias, o crescimento é resultado da intensificação das vistorias. O objetivo, diz ele, é melhorar a condição dos veículos e aumentar a segurança para os passageiros.
A reportagem do Hoje em Dia acompanhou a inspeção de três coletivos da linha 9208 (Taquaril–Santa Maria), ocorrida na região Noroeste da cidade. Nenhum deles foi retirado de circulação, mas todos receberam multas por apresentar placa da lateral com informações erradas, botão de parada com defeito e quadro de horários incorreto.
Presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, David Duarte Lima diz que o reforço da fiscalização pode impedir acidentes graves. “Os coletivos rodam muito tempo, tendo mais desgastes que os carros de passeios. Por isso, precisam passar por mais revisões para garantir a segurança”.
frota que circula em Belo Horizonte, dividida em 291 linhas
Usuários
Os passageiros aprovam as medidas para melhorar as condições dos veículos. “Os ônibus são velhos, os assentos desconfortáveis e ainda ficam lotados. Chega a ser um desrespeito a gente pagar o que paga para andar nisso”, diz a aposentada Marlene dos Santos, de 74 anos.
Sem trocador
Já a professora Iara Miguel Lima, de 48, questiona a ausência de agentes de bordo em parte dos coletivos. “A gente sabe que não pode ficar sem trocador em alguns horários, mas as empresas descumprem a regra em várias linhas. É uma questão de segurança o motorista focar só no volante”.
Dados da BHTrans apontam que, de janeiro a 17 de abril de 2018, foram aplicadas 285 autuações a concessionárias do transporte coletivo porque os ônibus estavam sem o funcionário. O número supera os 210 casos de todo o ano passado.
Em BH apenas as linhas troncais – que ligam as estações ao Centro – têm permissão para transitar sem o trocador durante o dia. As demais, só de 20h30 às 5h59.
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) garante abrir mão do agente de bordo apenas no período permitido por lei. A medida, segundo o órgão, não afeta a qualidade do serviço prestado.
Quanto às 1.033 multas recebidas por conta de irregularidade nas condições dos veículos, o Setra afirma que elas não representam nem 0,05% das mais de 2 milhões de viagens realizadas no período. De acordo com o órgão, a maioria das autuações está sendo questionada pelas empresas junto à BHTrans.