Vítimas da ditadura e do esquecimento em Belo Horizonte

Alessandra Mendes e Fernando Zuba
10/12/2012 às 07:21.
Atualizado em 21/11/2021 às 19:16

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

Todos os dias, a professora universitária de História da Arte Mônica Eustáquio Fonseca, de 63 anos, faz o mesmo trajeto a caminho do trabalho. No meio do percurso, na avenida Afonso Pena, o prédio do Departamento de Investigação Antidrogas lhe obriga a fazer um desvio inevitável ao passado. “Não tem um dia sequer que não me lembre. Não tem jeito, é uma marca que não se apaga”, relata emocionada.

Os mais de 40 anos que se passaram após o término da ditadura não foram suficientes para apagar os 40 dias em que passou presa naquele prédio, que ainda lhe causa repulsa. Antes de abrigar uma delegacia da Polícia Civil, o edifício foi sede do extinto Departamento de Ordem Política e Social, o Dops.

Em busca de informações sobre a movimentação dos chamados subversivos, centenas de mineiros foram torturados nos porões da unidade, que, espera-se, ainda podem virar símbolo da resistência ao governo militar.

E espera-se há muito tempo. Hoje, quando é comemorado o Dia Internacional dos Direitos Humanos, “celebra-se” também o 12º aniversário do nascimento da lei que prevê a criação de um memorial em BH para homenagear as vítimas da ditadura.

“É mais um exemplo da política do esquecimento, que trabalha para que essa parte da nossa história não venha à tona. Falta esforço e vontade dos governantes para que a legislação seja cumprida e deixe de existir apenas no papel”, afirma a presidente do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, Heloísa Greco.

Adiamento

A Lei 13.448, de janeiro de 2000, não determina o local exato a ser usado para a criação do memorial, mas previa um limite de 90 dias para que o projeto fosse elaborado. Esse, assim como outros prazos, não foi cumprido e ainda não há sequer previsão para uma nova data.

“O Estado precisa avançar o mais rápido que puder, pois isso já foi muito postergado”, reconhece a subsecretária de Estado de Direitos Humanos, Carmen Rocha.

Ela admite que o prédio onde funcionou o antigo Dops é cotado para abrigar o memorial, mas, em função de mudanças institucionais, o projeto pouco avançou. Para compensar o atraso, um decreto do governador, publicado em setembro, garantiu que todos os documentos relacionados ao departamento fossem enviados ao Arquivo Público Mineiro, onde alguns já estão digitalizados.

A medida não ameniza o anseio daqueles que esperam, há anos, pelo que consideram uma homenagem justa às vítimas da ditadura. “Não podemos fingir que isso não aconteceu. Sei que vou morrer sem enterrar os restos mortais do meu irmão, que foi assassinado pelos militares, mas virar as costas para a nossa história é ainda pior”, alega Mônica Fonseca.

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