Mineiro vivencia tragédia no Nepal e conta o drama após o terremoto

Sara Lira* - Hoje em Dia
27/04/2015 às 20:57.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:48
 (Nadia Carol Otake)

(Nadia Carol Otake)

Morador do Nepal há 9 anos, o missionário mineiro Emerson Menegasse, de 43 anos, busca a força interior para se manter vivo após o terremoto que matou mais de 4 mil pessoas e deixou outras 7 mil feridas.   Ele, a esposa e os três filhos de 16, 12 e 6 anos, voltaram para o apartamento onde moram em Lalitpur, na região metropolitana do vale de Katmandu (capital). No local também vivem amigos da família.    Segundo ele, a situação na cidade não foi tão crítica quanto na capital. “É uma cidade mais nova, por isso muitos prédios foram construídos com o sistema de amortecimento para terremotos”.    Ainda assim, o estado de alerta é constante. Depois do primeiro mais forte, aconteceram outros tremores. “Estamos em turnos. Enquanto uns dormem, outros ficam acordados. Mas não dá para descansar. Ficamos antenados o tempo todo”, conta ele.   Emerson diz que a qualquer sinal do alarme de detecção de terremotos todos têm 10 segundos para sair. “É um exercício de entra e sai o tempo todo, mas a gente não tem outra alternativa”, relata.   Segundo Emerson, estradas foram interditadas por estarem rachadas e prédios milenares foram completamente destruídos.   A população começa a enfrentar problemas devido à falta de água limpa e potável. A alimentação também começa a ficar escassa. Segundo Emerson, a comida está acabando nas prateleiras dos mercados. Para tornar a situação mais dramática, alguns estabelecimentos sequer abrem.    “Os donos estão com medo de abrir as portas e sofrerem algum tipo de invasão por parte da população”, conta.    Já antevendo possíveis terremotos, o prédio conta com o que ele chama de “kit fuga”. São caixas de metal que armazenam água, comida, frutas desidratadas, chocolate e ferramentas.   “Elas ficam no último andar pois, caso o prédio caia, elas ficarão em cima de tudo. Podem ajudar em uma emergência maior”, explica.     Embora a situação seja adversa, Emerson diz que se mantem firme, com fé. A filha mais velha também está tranquila. “Estamos bem, só estou um pouco cansada porque não durmo direito há três dias”, disse Aysha Menegasse. “Ela está sendo muito forte e ajudando a família”, diz o pai.   A esposa está abalada com toda a situação e chegou a passar mal durante um tremor na tarde de segunda-feira (no horário do Brasil, já noite no país). Segundo ele, desde sábado foram mais de 30 tremores.   Os filhos mais novos também estão traumatizados. “Qualquer barulho eles já saem correndo porque estão muito assustados”.   A família Menegasse desempenha um trabalho missionário com crianças nepalesas por meio de um orfanato e também ministra um curso em um centro de treinamento cultural, que visa formar cristãos para serem missionários em países fechados para o cristianismo.    No total, cerca de 40 pessoas estão ligadas ao trabalho no país. O grupo está dividido para prestar assistência entre si. “Nos dividimos para cuidar das 15 crianças no orfanato. A sede sofreu algumas trincas, mas não corre o risco de desabar porque a base não foi afetada”.   “Foram mais de 30 segundos de abalo por volta de meio-dia no sábado. Voltamos para casa no fim do dia apenas para buscar passaportes e dinheiro. A noite também foi do lado de fora".   Embaixada

Emerson reclama da falta de assistência do governo para com os brasileiros que estão no Nepal. Ele afirmou que vem tentando contato com a Embaixada do Brasil no país, mas os telefones não atendem.

“Não temos abrigo nem nenhum tipo de suporte por parte da embaixada. Sequer foi providenciada uma área de segurança”, disse.

Ele afirmou que a embaixada americana, por exemplo, enviou pessoal para ajudar os americanos no Nepal e providenciou voos para transportar de volta os que quiserem voltar.

Como não há apoio da embaixada brasileira, ele vai tentar reunir recursos para enviar a esposa e os filhos para o Brasil, em prol da segurança deles. Isso deve ocorrer nos próximos dias

Ele pretende permanecer no país. “Eu vou ficar para prestar serviço à sociedade nepalesa e no resgate às vitimas. Também queremos ajudar a reconstruir porque alguns lugares foram muito abalados”, disse.

Enquanto isso, Emerson mantem contato com os pais e irmãos, que moram em Betim, na Metropolitana de Belo Horizonte, por meio da internet e das redes sociais. Diariamente ele atualiza em sua página no facebook sobre a situação no país.

Compadecido com a situação, ele ainda fez um apelo. “Peço que as pessoas orem pelo povo nepalês. Foram muitas perdas, físicas, emocionais e psicológicas”, disse.   Sem cemitérios, corpos das vítimas são cremados   Por não possuir cemitérios, o Nepal está cremando as vítimas do terremoto. Isso ocorre devido à composição religiosa da população do país: mais de 80% dos nepaleses são hindus e outros 9% são budistas. Muçulmanos somam 4,4% e cristãos, 1%. Há, ainda, praticantes de religiões animistas.   Nas tradições do hinduísmo e do budismo, costuma-se cremar os mortos em piras, um ritual que pode parecer estranho para muitos ocidentais – que costumam enterrar os mortos ou vesti-los em roupas de qualidade antes de cremá-los dentro de caixões.   Tanto hindus quanto budistas acreditam em reencarnação e, portanto, essa seria a forma mais compassiva de se tratar os mortos. Segundo a tradição, ainda que nossos corpos estejam sem vida após morrermos, o nosso espírito – alma para os hindus, consciência para os budistas – permanece vivo e busca outro corpo para reencarnar.   Caso o corpo não seja rapidamente destruído após a morte, o espírito permanece preso e é forçado a permanecer na Terra. Quando o corpo é queimado da pira fúnebre, ele é livre para deixar o corpo. Em seguida, as cinzas são atiradas ao rio Bagmati, sagrado para hindus e para budistas.   Resgate   Na segunda-feira, o alpinista brasileiro Rosier Alexandre, que estava no Everest no momento do terremoto, foi resgatado de helicóptero, informou a assessoria de imprensa do Projeto Sete Cumes no facebook. Rosier foi resgatado a 5.900 metros de altitude.   O alpinista relatou que o campo base do Everest, destruído pela avalanche que se seguiu ao tremor, parecia um cenário de guerra.   Até ontem, 96 brasileiros que estavam no Nepal durante terremoto foram localizados pelo Ministério das Relações Exteriores. A pasta informou que não há pessoas com ferimentos e que o grupo recebe “toda a assistência consular cabível”.   (* Com Agência Folhapress)

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