Mineiros se dividem entre lamento e surpresa após demissão e fala de Moro

Evaldo Magalhães
primeiroplano@hojeemdia.com.br
24/04/2020 às 20:20.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:21
 (Amira Hissa/PBH – Gil Leonardi/Agencia Minas – Arquivo/Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

(Amira Hissa/PBH – Gil Leonardi/Agencia Minas – Arquivo/Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Lamento, perplexidade, elogios e também críticas marcaram as opiniões de políticos mineiros após o anúncio do pedido de demissão do ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, feito ontem, em Brasília. O ex-juiz federal desligou-se após saber da demissão, pelo presidente Jair Bolsonaro, de Maurício Valeixo, seu homem de confiança na direção geral da Polícia Federal. 

Com a exoneração, Moro, que assumiu a pasta com prometida “carta branca” de Bolsonaro para o combate à corrupção e ao crime organizado no país, mas enfrentou seguidas derrotas em embates políticos com o próprio presidente – o caso da transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça para o Banco Central –, saiu “atirando” no chefe. 
</CW>Entre menções a uma série de supostos crimes passíveis de gerar um processo de impeachment do presidente, Moro acusou Bolsonaro de tentativa assumida de interferir politicamente no comando da PF, que investiga casos com suposto envolvimento de familiares e outras pessoas ligadas ao mandatário.

“Estou sinceramente perplexo com a fala do ministro Moro na sua demissão”, disse o prefeito de BH, Alexandre Kalil, em entrevista à rádio Itatiaia. “A fala foi muito forte. Isso vai dar uma repercussão política muito grande no país, numa hora em que a bandeira era de honestidade, honradez, anticorrupção”, acrescentou, lembrando que a saída ocorre também “num momento tão difícil, em que a gente tem sofrido tanto, tentando salvar a população de uma pandemia nunca vista”.

O governador Romeu Zema (Novo) se ateve a externar tristeza pela saída de Moro, sem projetar consequências. “Lamento profundamente a saída de Moro do Ministério da Justiça. Manifesto minha admiração por tudo que Moro representa ao país no combate à corrupção, seja como juiz ou ministro. O Brasil agradece o trabalho e dedicação daquele que trouxe mais esperança para o nosso povo”, afirmou, em uma rede social.

Já o senador mineiro Antônio Anastasia (PSD) firmou posição, também no Twitter, deixando claro seu apoio a Moro. “Imagino que a decisão do ministro em deixar a pasta não tenha sido fácil. Mas concordo que não podemos abrir mão de nossos valores e compromissos e daquilo que acreditamos. Desejo a ele sucesso nos seus próximos desafios”, sustentou.

Assembleia
Na Assembleia Legislativa, a demissão do ministro também surpreendeu parlamentares. “Esperava um discurso de renúncia e despedida de Sergio Moro do ministério da Justiça, mas o que se viu foi uma ‘delação premiada’ sobre os crimes que praticou junto com Bolsonaro”, declarou o presidente estadual do PT e vice da Assembleia, Cristiano Silveira. 

“A saída de Moro já seria lamentável pela perda de um grande quadro técnico, mas é ainda mais grave pelo que ele representa no combate à corrupção e pela tentativa de interferência política na PF que a motivou. Isso é inaceitável e demanda explicações dos responsáveis”, afirmou, no Twitter, o deputado Guilherme Cunha, correligionário do governador.

Houve, contudo, críticas ao ministro. “A cultura política do juiz Moro foi sempre deficiente. Ele nunca entendeu nada das situações em que se envolvia, e nunca teve a humilde iniciativa que me pedir (sic) que as explicasse”, sustentou, na mesma rede social, o deputado Coronel Sandro (PSL), vice-líder do governo na Assembleia e apoiador de Bolsonaro.

  

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) adotou tom pessoal e desfiou mágoas e queixas contra Moro ao comentar declarações dadas pelo ex-ministro, durante anúncio do pedido demissão. “Uma coisa é admirar uma pessoa. Outra coisa é conviver com ela, trabalhar com ela. E eu disse mais cedo: hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem compromisso consigo próprio, com seu ego, e não com o Brasil”, disse no pronunciamento, no início da noite.

Cercado pelos demais ministros, inclusive o mais recente, Nelson Teich (Saúde) e pelo vice Hamilton Mourão – todos sem máscaras contra a Covid-19, à exceção de Paulo Guedes, da Economia, e aglomerados –, Bolsonaro garantiu que jamais interferiu nos trabalhos da PF ou que pretendesse fazê-lo, como afirmou Moro.

"Não são verdadeiras as insinuações (de Moro) de que eu desejaria saber sobre investigações em andamento”, assegurou. Bolsonaro elogiou seu governo no combate à corrupção e reclamou de que a PF, com Moro, estaria mais interessada em investigar o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco do que em descobrir “quem mandou matar o presidente”.

Bolsonaro também acusou o ex-ministro de ter pedido que ele fizesse substituições na PF, mas só em novembro, “depois de indicá-lo ao STF”. Moro rebateu, no Twitter, afirmando que “nunca usou a permanência” de Valeixo como “moeda de troca”. (EM)
 

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