A mineradora Herculano Mineração Ltda foi interditada por tempo indeterminado na noite desta quarta-feira (10). A informação foi confirmada pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Departamento Nacional de Produtos Mineral (SNPM) e pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad). Os três órgãos são os responsáveis pela decisão. O motivo, de acordo com os órgãos, é que a estrutura ainda traz risco de novos acidentes. A empresa terá um prazo de dez dias para apresentar a defesa e apontar soluções e cronograma para reparar os danos.
O empreendimento é responsável por operar a mina, em Itabirito, região Central de Minas Gerais, que teve uma de suas barragens rompidas na manhã desta quarta-feira (10). Duas mortes já foram confirmadas pelos bombeiros. Outras três pessoas trabalhavam no local, sendo que uma ficou ferida e foi levada para o Hospital João XXIII. Segundo o tenente-coronel André Gerken, do comando operacional do Corpo de Bombeiros, Adilson Aparecido Batista, de 44 anos, operador de retroescavadeira, ainda está desaparecido.
Ao todo, 21 bombeiros atuaram no local, além de dois helicópteros. No início da noite, os militares interromperam as buscas no local. Segundo a corporação, os trabalhos seguem na manhã desta quinta-feira (11). A reportagem do Hoje em Dia entrou em contato com a mineradora, mas nenhuma das ligações foi atendida.
O acidente
Conforme o tenente-coronel Gerken, na mina, havia quatro barragens, sendo duas de água e duas de rejeitos. A barragem “B3”, de rejeitos, se rompeu, provocando o deslizamento de terra. Adilson estava operando uma retroescavadeira na hora do acidente. Como somente a máquina foi encontrada, os bombeiros suspeitam que ele percebeu que a barreira tinha se rompido e tentou sair do local.
Ainda pela manhã, os bombeiros retiraram o corpo de Reinaldo da Costa Melo, de 68 anos, topógrafo, que, no momento, estava fazendo uma medição embaixo da barragem “B3”. A morte de Cristiano Fernandes Silva, de 32 anos, motorista de caminhão, também foi confirmada. Já Geraldo Matozinho Moreira teve uma fratura externa em uma das pernas e foi socorrido para o Hospital João XXIII.
Investigação
As causas do acidente ainda não foram esclarecidas. A delegada Mellina Isabel Silva, da Delegacia de Itabirito, instaurou um inquérito para investigar o que levou uma das barragens de rejeito a se romper. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil (PC), a delegada sobrevoou o local e tirou diversas fotos.
Segundo os Bombeiros, existem relatórios que atestam a estabilidade da barragem. Esses relatórios são de 2013 e valem por um ano. Além disso, a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) esteve na mina em 21 de agosto e também avaliou que estava tudo dentro dos conformes.
Mineradora lamenta a tragédia
Em nota enviada à imprensa, a Herculano Mineração LTDA lamentou o acidente ocorrido na manhã desta quarta-feira (10), por volta das 7h30. “A empresa informa que ainda estão sendo apuradas as causas do acidente, tanto por seu corpo técnico quanto pelas autoridades locais (Corpo de Bombeiros, Polícias Militar e Civil, Defesa Civil e órgãos ambientais). De acordo com essas autoridades, infelizmente foram confirmadas duas vítimas fatais e um)funcionário ainda não foi localizado. A empresa está prestando todo suporte às famílias dos envolvidos. Todas as medidas estão sendo tomadas no sentido de garantir a integridade de seus funcionários e minimizar os prejuízos à comunidade local e ao meio ambiente”, diz a nota.
Transtorno
Por causa da tragédia, cerca de 300 famílias de um condomínio estariam sem fornecimento de água e luz. Segundo Ladislau Oliveira, que se identificou como gestor do Vila Bela, os rejeitos desceram e romperam uma estação de captação de água.
A captação, conforme ele, é legal, concedida pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e fica às margens do Rio Silva. Um Boletim de Ocorrência será registrado na Polícia Militar sobre o caso.
Outros casos
Em 2001, o rompimento de uma barragem da Mineração Rio Verde matou cinco operários, destruiu a principal via de acesso e soterrou parte de São Sebastião das Águas Claras, distrito de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Foram necessários vários meses para recuperar os estragos causados pelo acidente.
*Com informações das repórteres Gabriela Sales, Raquel Ramos, Renata Evangelista e Thais Oliveira.