Cabides, araras, chapéus, bijuterias e bonés. Este seria um cenário de um loja comum, se não estivesse montada ao ar livre, na praça Ramos de Azevedo, Centro de São Paulo, neste sábado (18). Os clientes eram moradores de rua, que poderiam escolher, gratuitamente, roupas, calçados, acessórios e kits de higiene com o auxílio de voluntários que fizeram o papel de vendedores. Dez peças estavam disponíveis para cada pessoa.
Uma das clientes era Hilda Laudelino, 62 anos. Moradora de um abrigo da prefeitura, ela estava à procura de saias, vestidos e um chinelo. Exigente, Hilda não quis um vestido vermelho oferecido por uma das voluntárias. "Você está doida, não sou deste tamanho não!"
A ação faz parte do projeto 'The Street Store', criado em janeiro de 2014 na África do Sul. A primeira loja brasileira foi realizada em maio do mesmo ano, no largo de Pinheiros. "Qualquer um pode montar uma 'Street Store', o conceito é livre. Eu postei em uma página internet e amigos toparam a ideia", afirma a produtora Alethea Miranda, uma das organizadoras do evento. Cerca de 4 mil itens foram arrecadados a partir de doações realizadas em 12 pontos da cidade durante o início deste mês.
A iniciativa busca ajudar as pessoas em situação de rua, que só na cidade de São Paulo, segundo o Censo da População em Situação de Rua, são cerca de 16 mil. A maioria está nas regiões da Sé e no bairro da Mooca. "O mais importante da iniciativa é dar o poder de escolha às pessoas. Esta não é somente uma doação", diz a jornalista Briza Menezes, outra organizadora da loja. Briza e outros responsáveis pela 'Street Store' na cidade já faziam trabalhos distribuindo comida com moradores de rua. Cerca de 50 pessoas ajudaram na organização da loja, que funcionou das 10h às 16h.
Elton Silas, 39 anos, também aguardava a sua vez de entrar na loja. Morador de um abrigo evangélico, ele procurava roupas sociais e um boné."É hoje que eu arrumo uma namorada", brincou.
REDES SOCIAIS
A utilização de redes sociais potencializou a divulgação da iniciativa. "Ficamos surpresos com a quantidade de pessoas interessadas pelas redes sociais. Tivemos de prorrogar a realização do evento pelo volume de doações", afirma Briza.
Durante a tarde, doações ainda eram coletadas pelos voluntários. "Trouxe algumas roupas e acessórios, alguns deles ainda com etiqueta", conta Juliana Rossi, 30 anos, que soube do evento pelo Facebook.
Outras cidades que recebem a iniciativa neste mês são Rio de Janeiro, Brasília, Itaperuna (RJ), Bauru (SP), Arapiraca (AL), Pelotas (RS), Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE) e Caruaru (PE).