LONDRES - Ruth Rendell, autora de livros policiais e de suspense, morreu neste sábado (2) em Londres aos 85 anos. Ela era a digna herdeira da grande dama da literatura de crime, Agatha Christie. Rendell, uma implacável observadora das fragilidades humanas e da sociedade inglesa contemporânea, sofreu um derrame em janeiro e desde então estava internada em estado crítico. "Estamos devastados com a perda de uma de nossas autoras mais queridas", afirma a editora Penguin Random House em um comunicado. "Vamos sentir muito a sua falta", completa a nota.
Gail Rebuck, presidente da editora no Reino Unido, afirmou que "Ruth era muito admirada por toda a indústria editorial por sua brilhante obra". "Uma observadora da sociedade perspicaz e elegante, muitos de seus thrillers apontavam para as causas que a preocupavam profundamente", completou.
Traduzida para 26 idiomas e autora de quase 70 livros, Ruth Rendell vendeu milhares de exemplares e alguns de seus livros foram adaptados para o cinema, como "Carne Trêmula", que o cineasta espanhol Pedro Almodóvar levou às telas com o mesmo título, ou a obra Analfabeta, que o francês Claude Chabrol adaptou como "La cerimonie" (Mulheres Diabólicas no Brasil).
Os fãs de policiais consideram que Rendell renovou o estilo, assim como P.D.James, a outra estrela do gênero britânica que morreu em novembro do ano passado aos 94 anos. Rendell era conhecida por seus thrillers psicológicos, nos quais entrava nas mentes de criminosos, assim como pela adaptação de sucesso para a TV de sua obra, "The Ruth Rendell Mysteries".
Escritora milionária, com vários prêmios, recebeu o título de baronesa durante o governo do então primeiro-ministro britânico Tony Blair, uma consequência de seu compromisso de 40 anos com o Partido Trabalhista. Ruth Rendell dedicava as manhãs para escrever, antes de assistir durante a tarde as sessões da Câmara dos Lordes.
Nascida em 17 de fevereiro de 1930 em Woodford, na região de Londres, a filha de professores trabalhou durante muitos anos como repórter para vários jornais locais. De acordo com rumores, teve que abandonar o emprego no Chigwell Times depois de um texto sobre um jantar no clube de tênis local ao qual não compareceu. Ela não mencionou a morte súbita do orador convidado a noite.
Em 1964, Rendell criou o personagem do inspetor Reginald Wexford, protagonista de vários livros, que guardava alguma semelhança com seu pai falecido. As investigações de Wexford levaram a escritora a se aprofundar nos males da sociedade britânica: violência doméstica, racismo e pobreza. "Gosto de mostrar a sociedade como ela é", costumava afirmar.
A série de livros com Wexford, que se passam na fictícia cidade de Kingsmarkham, foi adaptada para a televisão e exibida durante 13 anos. A partir de 1964, Ruth Rendell começou a apresentar uma alta produtividade: um livro a cada oito ou nove meses.
Paralelamente, começou a escrever obras mais psicológicas, uma espécie de romance policial sem policiais, nas quais a investigação contava menos que as circunstâncias que levaram ao crime, assim como em outras histórias de suspense assinadas com o pseudônimo Barbara Vine.