Ensaísta, historiador e ficcionista, o uruguaio Eduardo Galeano faleceu nesta segunda-feira, 13, perto das 9h, em Montevidéu. Estava com 74 anos. Um câncer no mediastino (região da cavidade torácica) entrou em metástase, causando a morte.
Autor de obras referenciais, como 'As Veias Abertas da América Latina' (1971) e 'Memória de Fogo' (1982-86), Galeano gostava de transcender gêneros ortodoxos, combinando narrativa documental, jornalismo, análise histórica e política. O que os une é sua obsessão pela memória, "sobretudo a dos condenados ao esquecimento".
Galeano, será principalmente lembrado por sua principal obra, 'As Veias Abertas da América Latina', que marcou a literatura e a resistência do continente. Ali, ele impunha uma questão primordial naqueles anos 1970: o subdesenvolvimento é uma etapa no caminho do desenvolvimento ou é consequência do desenvolvimento alheio? "Uma criança e um anão se parecem, mas não são a mesma coisa", disse ele ao Estado em 2005, quando refletiu sobre aquela obra. "Não estamos vivendo a infância do capitalismo, somos um produto deformado do desenvolvimento alheio. Não há nenhuma riqueza que seja inocente da pobreza dos outros. O abismo que separa os que têm dos que necessitam é hoje muito maior do que quando eu escrevi o livro."
As Veias Abertas... analisa a história da América Latina desde o período colonial até a contemporaneidade, argumentando contra o que considera como exploração econômica e política do povo latino-americano primeiro pela Europa e depois pelos Estados Unidos. O livro tornou-se um clássico entre os membros da esquerda latino-americana.
Apesar de sempre ser badalado por esse livro, Galeano revelou-se cético diante da própria obra. "Depois de tantos anos, já não me sinto mais ligado a esse texto", disse o escritor em 2014, em Brasília, durante a 2ª Bienal do Livro e da Leitura. "O tempo passou e descobri diferentes maneiras de conhecer e de me aprofundar na realidade. Considero uma etapa superada. Se eu relesse a obra hoje, cairia desmaiado, não iria aguentar", completou, em tom de brincadeira. "Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera."
A informação de sua morte foi confirmada pelo ensaísta e tradutor Eric Nepomuceno, cujo irmão é casado com a filha do uruguaio.
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