(Lucas Prates)
Com expectativa de faturar R$ 63 bilhões neste ano, 0,8% a mais do que no ano passado, conforme pesquisa da agência Euromonitor International, o mercado de alimentação saudável está em pleno aquecimento no Brasil. Em Belo Horizonte, já são diversos novos empreendimentos especializados em produtos “natureba”. E quem já atuava no mercado aposta na expansão.
O cenário é impulsionado pelo desejo dos brasileiros em comer melhor para ter mais saúde. Segundo o relatório Tendências Mundiais de Alimentação e Bebidas, lançado ano passado pela agência de pesquisas Mintel e usado pelo governo federal em campanhas de alimentação saudável, 79% dos brasileiros começaram a substituir produtos convencionais por outros mais saudáveis, principalmente legumes, folhas e grãos, além de cebola e açaí. Nesse âmbito, 44% da população têm dado preferência a produtos sem corantes artificiais e 24% manifestou o desejo de comer mais grãos integrais, como linhaça, chia e quinoa. A expectativa é a de que, até 2021, o setor de alimentação natural cresça 4,41% ao ano no país, segundo o relatório.
Diante disso, empresários têm aproveitado a oportunidade para investir. Com duas franquias da loja Mundo Verde na capital mineira, nos bairros Santo Antônio e Buritis, Antônio Carlos Moreira planeja a terceira unidade, para 2019.
Ele estima um crescimento no faturamento de 10% em relação ao ano passado, impulsionado pela venda de pães, bolos e até doces com baixos teores de açúcar. “Nossas duas unidades têm dado conta do recado, mas sentimos a necessidade da terceira em breve. É um negócio em expansão porque, no imaginário das pessoas, comer um alimento o mais natural possível, sem agrotóxicos, corantes e aditivos químicos, tem sido prioridade”, diz Antônio.
A saladeria Green Salad entrou em funcionamento em março deste ano e, desde então, recebe uma média de 80 a 100 pessoas diariamente.
A saladeria oferece 44 ingredientes específicos de salada, oito molhos e 11 temperos naturais. “Sentia necessidade de ter um lugar na cidade só para saladas porque, hoje, muita gente busca esse almoço específico. Eu já espero aumentar as vendas em 20% até o fim do ano”, diz Tiago Phillip, sócio-proprietário do estabelecimento. Ele ainda conta que busca diariamente folhas e legumes no Ceasa de Contagem. “Muitos restaurantes esperam as entregas dos alimentos, nós fazemos questão de ir até lá e ver o alimento, escolher o melhor diariamente, a maioria sem agrotóxicos”, diz.
A empresária Júnia QuIck, proprietária da rede Néctar da Serra, se tornou pioneira ao abrir seu primeiro estabelecimento dedicado à comida natural ainda em 1993.
Começando com a venda de sucos de polpa e sanduíches leves, hoje ela administra três redes na capital mineira capitaneadas por um buffet que busca captar ao máximo as tendências de comidas naturais. “Hoje, por exemplo, o restaurante não fica sem ceviche, aquele peixe cru marinado, e nem sem abacate, usado bastante na salada. Eram dois alimentos praticamente ignorados pelos brasileiros há uns dois anos. Acabaram caindo no gosto justamente por esse movimento de buscar uma alimentação mais saudável. Então, nós nos adaptamos para isso”, diz Júnia.Maurício Vieira
Proprietário do Mundo Verde conta que abrirá sua terceira unidade da loja franqueada em 2019
Produtores
Com o crescimento dos estabelecimentos dedicados à alimentação natural, donos de restaurantes e lojas do nicho têm estreitado as relações com pequenos produtores, em busca dos melhores alimentos.
Essa passou a ser uma realidade constante para o produtor José Alves Lopes, mais conhecido como China, que há dez anos trabalha na Feria dos Produtores de Belo Horizonte, no bairro Cidade Nova. No último ano, ele notou um aumento das encomendas para restaurantes, muitos deles voltados exclusivamente para a alimentação natural. “Se antes eu separava a encomenda uma vez por semana, para os restaurantes, agora, eu separo de duas a três vezes. Eles mesmos se deslocam para buscar aqui”, diz China.
Ele avalia que a peneira feita por donos de restaurantes está atrelada à qualidade e custo benefício dos alimentos. A caixa fechada da cenoura comum, por exemplo, sai a R$ 25 para o consumidor. Enquanto a chamada cenoura G, mais encorpada e utilizada em restaurantes, custa R$ 20 para os empresários do setor.
“Os restaurantes têm que saber comprar. A cenoura G mesmo dá menos trabalho porque rende mais e é mais fácil de cortar. A cebola tem uma lógica parecida”, diz China.
Fornecedores
Na loja Bio Mundo, inaugurada em outubro do ano passado no bairro Mangabeiras, a proprietária Fernanda Caldas Garizzi, faz um verdadeiro malabarismo para achar produtores no país inteiro. Hoje, ela trabalha com 36 fornecedores para oferecer uma linha de 250 produtos a granel —farinhas diversas, de amêndoa, coco, beterraba, maracujá e amora, além de frutas secas e desidratadas, castanhas e temperos.
“Como franquia, a Bio Mundo tem o diferencial de peneirar os produtores, tanto mineiros, como do resto do país. Muitos são pequenos produtores, que fazem algo específico demais, como as farinhas diferentes”, frisa Fernanda.
Análise
Para Simone Lopes, analista técnica do Sebrae-MG e especialista em negócios de alimentação fora do lar, a alta da alimentação saudável não é observada mais apenas como tendência, mas como expansão empresarial.
“Os pequenos produtores não conseguem atender a demanda industrial por comida natural. Mas, conseguem firmar relações com restaurantes e lojas médias. E isso tem sido fundamental para o crescimento do setor. Não é mais só uma tendência, é realidade em larga expansão”, avalia Simone.