Negócios de pai para filho resistem ao tempo no comércio da nova Savassi

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
Publicado em 07/03/2015 às 07:56.Atualizado em 18/11/2021 às 06:15.
Os preços dos aluguéis explodiram, quarteirões fechados surgiram, o público mudou e o chique deu lugar ao pop. Mas para alguns comerciantes que lá se instalaram há muitas décadas, a Savassi é como a segunda casa. No melhor estilo “daqui não saio, daqui ninguém me tira”, esses heróis da resistência colecionam clientes de várias gerações, conservam um jeito especial de atender e têm o carisma como aliado para ampliar os lucros.

Um dos estabelecimentos mais antigos em atividade, a Maria’s Cerzideira está na rua Antônio de Albuquerque há mais de 50 anos. A proprietária Maria Lúcia Reis Camargos, que começou o ofício cerzindo tecidos como algodão e linho à mão, conta que possui fregueses de até quatro gerações da mesma família. “Meus filhos foram criados aqui. Meu filho caçula, veio pra loja com 15 dias. Do mesmo jeito, vi filhos e netos de clientes crescerem. Isso não tem preço”, brinca Maria.
 

Hoje, Júnior é o braço direito no negócio. O marido Paulo Camargos também passou a ajudar a esposa no armarinho especializado na prestação de serviços. No balcão ou no caixa, entre um caso e outro, ele atende aos consumidores. São mais de 150 tipos de botões, 30 variedades de fita, 10 modalidades de lã e mais de 15 marcas de linha. “Não que agora esteja ruim, mas temos saudade do tempo que o cliente parava o carro na rua, tranquilamente. As mudanças favoreceram só aos bares”, lamenta.

A família Hofmam também fez a vida na Savassi. Nascido na Romênia, o pai de Felipe, Lyonel, aprendeu com o avô europeu o ofício de consertar relógios. Há 37 anos, abriu na avenida Getúlio Vargas a relojoaria Tic Tac. Hoje, na ausência do criador, é Felipe quem toca no negócio. “Vi ele pequenininho”, diz a comerciante Simone Bekerman, freguesa há décadas. E está na ponta da língua o segredo para a fidelização da clientela: “honestidade”, resume Felipe, que só reclama dos “mendigos no chafariz da praça e da falta de segurança”.

Nascidos em uma família de 32 cabeleireiros, de Conselheiro Lafaiete, Edmar Nonato e o sobrinho Fernando Lino tocam há 22 anos o salão e barbearia Excorte, na avenida Cristóvão Colombo. Junto com o amigo e sócio Cristiano Barbosa, o trio atende a cerca de 40 clientes por dia. Entre os diferenciais, cortes aprendidos com professores de Londres – referência mundial em corte de cabelos -, barba feita com ajuda de toalha quente e creme de amêndoas com ureia para hidratar.

“O público já não é mais classe A como antigamente. Mas temos clientes exigentes. Por isso temos sempre que nos atualizar”, diz Fernando. Em média, o corte custa R$ 45. “Estamos segurando o preço, mas está difícil por causa do aumento da luz e da água. Nossa sorte é que não pagamos aluguel”, afirma Nonato. Nos planos do três está a abertura de uma filial no Vila da Serra, em Nova Lima, onde estão clientes abonados.

Com muita história pra contar, destaca-se ainda a Livraria Leitura, a mais antiga da cidade. “Estamos há 25 anos neste ponto. De lá pra cá, mudou o perfil do comprador. É engraçado como temos clientes adolescente ávidos para ler”, afirma o gerente Carlos Alberto Aguiar.

Outro estabelecimento balzaquiano é a Chocobel, nas esquinas de Antônio de Albuquerque e Paraíba. “O dono gosta de tudo desse jeito. Quer preservar o ar antigo da loja”, revela uma funcionária. 
Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por